(Madelyn Bailey)
Quase engasgo com a minha própria saliva diante do que acabo de ouvir.
— O quê? – Eu espero algum sinal que indique que ele está brincando, talvez seja uma pegadinha com fãs. Procuro as câmeras espalhadas pelo quarto e não consigo avistar nenhuma. Johan não me responde, permanece me olhando com paciência e determinação. Parece que é realmente sério. — Mãe do seu filho?
Johan afirma, esfregando as mãos e deixando transparecer uma certa expectativa e ansiedade. Ele ajeita a postura, me fisgando com aquele par de olhos de topázio azul, e me deixando muito mais confusa do que já estou.
— Venho nutrindo esse desejo em mim há algum tempo. Pensei e repensei, pesando na balança os prós e contras, fiz planos... Compreendo que receber uma proposta assim lhe cause certo choque e estranheza, mas garanto-lhe que a questão recebeu toda a importância e atenção que merece. Estou seguro do meu desejo, a paternidade não será uma aventura para mim.
Engulo seco e desvio os olhos, sinto que seu olhar tem um efeito de hipnose sobre mim. Preciso fugir deles para poder pensar direito, Johan abre a gaveta do móvel e tira alguns papéis que são colocados em cima de sua mesa. Ele não diz nada enquanto eu tomo o tempo que acho necessário para ficar em silêncio com meus próprios pensamentos.
Ser mãe é um sonho que me vi obrigada a enterrar no fundo do meu coração há anos atrás. Quando Nicholas e eu começamos a morar juntos já havíamos conversado sobre filhos. Nós queríamos um bebê, na verdade, aquele era um dos sonhos que sempre tive, e que pareciámos compartilhar.
Nosso plano era engravidar depois de um ano e meio morando juntos, assim teríamos tempo para a adaptação. Mas quando algumas coisas começaram a acontecer, me fazendo questionar o comportamento de Nicholas e o quanto eu estava segura ao lado dele, resolvi adiar. Nick soube que tinha algo errado no instante em que recuei na decisão, e isso só o deixou mais zangado, mas em nenhum momento voltei atrás com a minha decisão.
No fim eu estava certa, Nick jamais seria um bom pai. E eu... Bem, eu tinha me obrigado a esquecer essa parte de mim desde que tudo desmoronou da pior maneira possível. Um tipo de estratégia desesperada para tentar sofrer um pouco menos depois de tudo que passei.
Um suspiro pesado antecedeu minha resposta ao homem a minha frente
— Eu... – Encaro os olhos dele, o par de olhos mais lindos que já vi na vida. É como encarar a imensidão de um céu claro em um dia de sol. É terrivelmente difícil negar qualquer coisa a ele. — Eu sou sua fã, assisti um filme seu pela primeira vez quando tinha só dez anos de idade. Mal posso acreditar em tudo que está acontecendo e que estou na frente agora... Eu admiro e respeito tanto o seu trabalho, mas não sirvo para ser barriga de aluguel de ninguém. Eu nunca conseguiria entregar o bebê, sinto muito por isso, mas sei que deve ter outras candidatas mais... preparadas.
Johan me encara atentamente, de novo parece que eu disse alguma coisa mágica, porque além de relaxar as costas no encosto da poltrona, o canto de seus lábios se curva em um sorriso contido e terno. Como se ele estivesse ouvindo algo extraordinário.
— Entendo perfeitamente. Mas não se trata de uma barriga de aluguel, o que preciso é de uma mãe para o meu filho, Madelyn. Você não teria que entregar o bebê. — Eu pisco duas vezes, curiosa com o que ele tem em mente. — Uma barriga de aluguel consiste em abrigar no seu útero um embrião criado em laboratório até o nascimento e depois entregá-los aos pais. Neste caso, não há outra mulher. O bebê será nosso filho. Nós seremos os pais, teremos os mesmos direitos sobre ele.
Me sinto paralisada. Eu não teria que entregar o bebê.
Meu bebê.
As palavras ecoam com força na minha cabeça e no meu coração. Johan não me dá muito tempo, ele estende um dos papéis na minha direção, tem um conjunto de canetas caras apoiadas na mesa e ele usa uma delas para pontuar algumas partes do monte de coisas que estão escritas ali.
— Naturalmente, ele ou ela teria todo o meu apoio financeiro até os 21 anos ou até se formar na profissão que escolher. Os melhores médicos e profissionais de educação estariam sempre a disposição. Atividades extras envolvendo qualquer forma de desenvolvimento também poderiam ser escolhidas a qualquer momento, sem qualquer possibilidade de questionamentos da minha parte. Viagens programadas terão todo o meu apoio, e haverá um instrutor particular para a carta de motorista ao atingir os 16 anos de idade.
Está tudo escrito no papel. Tudo descrito de forma detalhada e tão meticulosa que me causa espanto. É uma enxurrada de informações que me causa uma mistura de sentimentos tão intensos que mal consigo reagir.
Carta de motorista? Johan tinha escalado um instrutor de direção para uma criança que nem sequer existe. Imagino que ele esteja se esforçando para mostrar que a decisão não é repentina ou inconsequente, mas ver tudo tão minimamente planejado ascende um alerta em mim.
Sou uma mulher de 31 anos que voltou a morar com o pai depois de sofrer com um relacionamento no qual entrei justamente porque queria fugir disso, da vida que meus pais idealizaram para mim. Eu pego o papel entre meus dedos, observando o quanto aquilo pode facilmente atravessar a linha tênue do amor e cuidado e se tornar um fardo na vida de qualquer criança.
— Quero que fique claro que serei um pai presente, e que por isso, quero compartilhar a guarda. – A voz baixa e aveludada de Johan rouba minha atenção do papel e me faz encará-lo novamente. — Independente de proporcionar tudo que o dinheiro pode comprar, estou fazendo isso justamente pelo que ele não pode. Darei meu amor incondicional ao meu filho, não importa o caminho que ele ou ela escolherá para seguir. Não sou bom em fazer planos, Madelyn. Na vida os roteiros nunca são fielmente seguidos, acho que a liberdade nos traz experiências extraordinárias. Mas quero que meu filho saiba que um dia pensei cuidadosamente em sua existência, ainda que seja para decidir que não é este caminho que deseja seguir.
É como se Johan tivesse acabado de se infiltrar nos meus questionamentos mais profundos e fazê-los virarem fumaça bem diante dos meus olhos.
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Atualizado até capítulo 53
Comments
Sonia Maria Gonçalves
Estou amando a história. continue assim .
2024-03-21
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