Capítulo 10

Nicollas

Quando cheguei na casa do meu tio Brian, achei estranho meus pais também estarem aqui, mas hoje o clima parece estar estranho, desde a súbita aproximação do Adrian, o interesse dele pela minha secretária que eu sequer cheguei a conhecer, o clima tenso entre Adrian e tio Brian no meu escritório e agora meus pais que me olham como se quisessem contar algo mas estivessem com medo de falar.

- Ok. - digo, colocando os talheres no prato e apoiando as mãos na mesa. - O jantar está ótimo como sempre, tia Ali. - minha tia sorri docemente. - Mas não era pra provar da sua comida que vocês me chamaram aqui, certo?

Meus pais se entreolham e meneiam a cabeça, negando.

- Então,quem vai falar? - digo, encarando os dois, mas é meu pai quem começa.

- Filho, em primeiro lugar, nós precisamos que você seja sincero conosco e nos responda algo muito importante. - ele diz, num tom sério como poucas vezes eu vi, então faço sinal pra ele prosseguir. - Há pouco mais de um ano atrás, numa boate, você participou de uma festa de máscaras e conheceu uma garota, dormiu com ela e no dia seguinte ela sumiu sem deixar rastro?

Eu sinto meu corpo inteiro gelar. Como é possível que eles saibam? Eu não contei essa história a ninguém. Só se...

- Vocês encontraram a garota? - digo, sério, mas por dentro estou muito nervoso.

- Na verdade, eu a conheci por acaso hoje pela manhã. - minha mãe diz, e logo me olha apreensiva. - Mas eu não saberia dessa história entre vocês se não fosse um pequeno, literalmente pequeno, detalhe.

Franzo a testa, confuso.

- Que detalhe, mãe?

- Meu filho, eu preciso que você mantenha a calma e espere eu terminar de contar...

- Se continuar enrolando aí que vou ficar nervoso. - digo, já querendo levantar da mesa.

- Nicollas, escuta o que a sua mãe tem a dizer. - meu tio também me encara, sério. - Continua, Sofy. - ele diz e minha mãe volta a falar.

- Eu ajudei essa moça pois a encontrei chorando na rua depois de ser assaltada. A pobrezinha estava em desespero, pois o delinquente levou sua bolsa com suas economias, muito poucas devo dizer, e também seus documentos, o que dificultaria ainda mais, já que ela estava à procura de um emprego. Eu me compadeci e resolvi ajudá-la, e depois de uma boa conversa, nós almoçamos e eu descobri que ela já havia trabalhado numa empresa como secretária e achei que seria perfeita para o cargo de sua assistente pessoal. - eu a encaro e bufo, frustrado, mas ela só faz sinal para eu deixar que prossiga. - Bom, levei a moça para o prédio onde alguns funcionário moram, e chegando lá ela disse que precisava me contar algo antes de aceitar o cargo. Até então eu, mesmo sentindo um carinho especial por ela, nunca imaginei que ela era a moça com quem você tinha saído.

- E como descobriu isso? Ela nem sequer viu meu rosto naquela noite.

- Eu sei filho, e na verdade ela não faz ideia de quem você seja e pra ela eu sou somente a mãe de seu futuro chefe.

- Então como a senhora descobriu que eu e ela tivemos uma noite juntos? - digo, impaciente.

- Porque essa noite gerou um fruto, meu filho! -meu pai diz. - Essa moça engravidou de você naquela noite, e hoje a bebê, a sua filha, tem pouco mais de três meses.

Eu encaro meu pai, buscando algum vestígio de que essa seja uma brincadeira de muito, muito mal gosto, mas ele continua com as expressões fechadas, assim como meu tio, tia Ali e minha mãe.

- Uma....uma filha?! - repito num tom baixo, mais confirmando pra mim mesmo. - Eu...eu sou pai?

- Sim, meu filho, você é pai. E sua filha é uma linda e rechonchuda bebezinha que...

- Como a senhora tem certeza que essa criança é minha? - digo, tentando raciocinar. - Essa garota pode estar armando pra cima de nós. Afinal somos ricos e não seria a primeira a tentar dar o golpe pra se dar bem...

- Nicollas, não diga isso! - minha mãe diz, firme. - Eu não seria leviana em dizer algo de que eu não tivesse absoluta certeza. Eu senti uma ligação muito forte com a minha neta, e além disso, a menina é a sua cara e pra fechar com chave de ouro e calar sua boca, a Maria Isis tem a mesma marca de nascença que você têm, exatamente no mesmo lugar. Agora me diga, isso é coincidência?

Eu respiro fundo. As chances dessa criança ser realmente minha são de praticamente 100%, já que a porcaria da camisinha estourou.

Passo as mãos pelos cabelos e me levanto, andando de um lado pro outro, tentando assimilar tudo isso.

- Mãe, mas porque essa moça não me procurou antes? Porque ela procurou a senhora?

- Garoto, você é surdo?! - ela diz, irritada. - Você não me ouviu dizer que EU QUEM ENCONTREI ELA POR ACASO!? - sua voz estava alterada e meu pai tentou acalmá-la, mas ela continuou. - Escuta bem, Nicollas Blake, essa moça, a Mariana, passou por maus bocados durante a gestação, se viu sozinha e grávida quando a avó faleceu, ficou desempregada, desamparada, sem uma condição descente de vida, morando em uma quitinete, num lugar horrível, mas em momento algum desistiu da filha, em momento algum te procurou ou exigiu NADA de você e isso só mostra o quanto ela é uma moça de caráter, íntegra e honesta. Você, Nicollas, precisa entender que nem todos querem o seu dinheiro, e a Mariana não faz ideia de que você, o meu filho, seja o pai do filho dela, então por favor,senta na porcaria dessa cadeira, bota essa cabeça pra pensar e se comporta como o homem que eu te criei pra ser, porque você é pai, e se não pensar numa forma de se aproximar da Mariana e da minha neta, Isy, eu vou ajudá-las, mas não faço a mínima questão que você participe da vida da minha neta. Estamos estendidos?

Eu encaro minha mãe, e poucas vezes eu vi dona Sofy tão alterada e firme como agora.

Eu realmente preciso pensar...uma filha?!

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