...CAPÍTULO 5 - SENTA AÍ...
... ...
...Belle...
AINDA ESTAVA dormindo quando senti alguém me sacudir, gemi um pouco ao abrir os olhos.
"Acorde, acorde, raio de sol." A voz doce de Austin soou em meus ouvidos.
"Austin?" Falei sonolenta enquanto abria os olhos, ele sorriu para mim.
"Sol da manhã" Ele sussurrou mais perto de mim, eu sorri meio cansada e envergonhada.
"Por que tenho que acordar?" Eu perguntei baixinho enquanto me sentava e esfregava os olhos.
"Richard me acordou e me pediu para te dar essa pílula. Ele disse que é importante" Austin disse, me entregando o meu remédio para depressão.
"Ah, obrigada..." Eu agradeci com um pequeno sorriso, e tremi um pouco quando movi meu pé, pois ele ainda doía quando eu mexia.
Os médicos me perguntaram se eu queria analgésicos para aliviar a dor, mas eu recusei, não gostei muito da ideia de tomar um comprimido a cada segundo. Resolvi me curar de forma natural e sem intervenção de medicamentos, já bastava os que eu tomava no dia-dia.
"Você está bem?" Austin perguntou me olhando atentamente.
O pouco do sol que saia pela janela iluminava seus cabelos loiros dourados, fazendo ele se fundir com a luz da manhã, era meio engraçado ele me chamar de raio de sol, sendo que ele era quem parecia um.
"Sim." sussurrei, não sabia o que dizer.
"Tem certeza?" Austin perguntou, eu olhei para ele.
"Estou bem, apenas entediada de ficar nessa cama direto - mas não se preocupe, essa não é a primeira vez que eu sofro uma lesão." eu sorri de forma gentil, sentindo um frio na espinha.
"Garota desajeitada" Austin disse, com um brilho diferente em seus olhos azuis celestiais.
"Pode ser." Eu respondi, mas, honestamente, isso não era verdade. Logo, as memórias daquele dia voltaram a minha mente como um fantasma querendo me assombrar.
"Que porra você está fazendo no meu quarto?!!!" Meu irmão gritou, eu estremeci.
"Eu só queria olhar! Eu juro que não toquei em nada!" Eu tentei me defender, meus olhos começaram a lacrimejar.
"Eu disse para você NÃO entrar no meu quarto!" Ele gritou, eu comecei a chorar.
"Mas irmão, você as vezes me deixar entrar aqui!" Eu funguei, as lágrimas caindo pelo meu rosto.
"Eu disse que NÃO QUERO você aqui!" Ele gritou e agarrou minha trança, puxando ela para trás.
Aquilo doeu, ele continuou me puxando pela trança e eu não conseguia ver para onde estava indo. Eu queria que meu irmão mais velho gostasse de mim de novo, queria que ele brincasse comigo e fosse um irmão mais velho legal, eu só queria isso, mas ele sempre me tratava mal.
Depois de ser puxada pelos cabelos por ele, lembro que estava caindo, doeu como um milhão de facadas no meu corpo. Senti meu corpo cair de costas na escada e rolar pelos degraus abaixo. Ele tinha me empurrado da escada.
"Belle!" Minha mãe gritou, quase estourando meus ouvidos.
"M-m-mamãe?" Eu sussurrei sem forças caída no chão, eu tinha apenas 10 anos na época. Senti minha cabeça esfriando e meu corpo cada vez sem forças.
"KYLE CHAME A AMBULÂNCIA!" minha mãe gritou, ela me manteve acordada o tempo todo.
Na época, eu não entendi por que eles estavam tão apavorados ou por que meu irmão parecia tão zangado, mas tão culpado ao mesmo tempo. Não entendi por que meus pais desapareceram e me deixaram sozinha naquela sala toda branca.
Só quando fiquei mais velha, descobri que rachei meu crânio, o que causou um sangramento quase fatal, além disso, tive uma concussão e quebrei o braço ao rolar da escada.
Depois desse episodio, meu irmão ficou de castigo e eu parei de tentar me aproximar dele. Ele ficou tão revoltado que não quis mais que eu fosse sua irmã, ele me machucou, mas nunca se desculpou por isso. Então nossos pais morreram e ele passou a me odiar ainda mais, pois tudo indicou que a culpa foi minha. Ele desapareceu da minha vida e nem tentou entender por que eles tiveram que ir me buscar naquela noite.
"Você está bem?" Austin perguntou, claramente preocupado com minha expressão atordoada.
"Sim, estou bem, só com fome." Eu respondi tentando pôr os pensamentos em ordem e na hora que falei, meu estômago roncou.
"Eu posso fazer algo para você comer." Austin responde com um grande sorriso, eu balancei minha cabeça.
"Não, está tudo bem, eu posso fazer sozinha, não se preocupe." Eu respondi com um meio sorriso e lentamente me levantei com a ajuda de Austin. Não doeu tanto quanto eu pensei que iria, eu coloquei minhas muletas com facilidade já que essa não foi a primeira vez que usei elas.
Fui até a cozinha e abri meu armário. Eu fiquei com vontade de chorar quando percebi que tudo o que tinha para comer era biscoito de chocolate e macarrão, mas até eu me curar e poder conseguir um emprego, era isso o que teria para comer.
Meu único medo era voltar a ficar anoréxica, além de sofrer depressão, eu também costumava passar fome por dias, chegando ao ponto de ver ossos aparecendo pelo meu corpo. Hoje eu sei que isso não é algo muito saudável de se fazer e eu me odeio por ter sido assim um dia.
Mas, se eu simplesmente esquecer de comer, esquecer de tomar meus remédios e esquecer de cuidar de mim, eu fico vulnerável a essa doença aparecer de novo. Talvez seja por isso que meu irmão me odeia tanto.
Ele odeia cuidar de qualquer pessoa. Meus pais quando vivos, estavam sempre cuidando de mim, me observando e se certificando de que eu estava fazendo o que deveria ser feito, mesmo que eu esquecesse. Eles sempre estavam cuidando de mim e me lembrando de fazer as coisas certas.
Agora que eu não tinha ninguém que pudesse cuidar de mim, eu era um caso perdido e às vezes doía saber que ninguém jamais me amaria de verdade ou se importaria comigo como meus pais.
"Ei, pessoal, cheguei!" Ouvi Kevin falar entrando pela porta da sala. Ouvi também um ruído de sacolas e a curiosidade tomou conta de mim.
Arrastando as muletas, fiquei escondida atrás da porta, ignorando meu macarrão cozinhando. Observei o que Kevin tinha trazido e meu estômago chorou quando vi a pizza e a comida chinesa sobre a mesa de café da sala. Meus olhos arderam em lágrimas, enquanto eu fiquei lá e continuei observando por mais alguns minutos o burburinho na sala.
"Cara, você tem pizza E comida chinesa!" Austin falou com uma animação exagerada, eu ri baixinho da sua infantilidade.
"Me pagaram." Kevin respondeu com a boca cheia, enquanto se jogava no sofá. Eu vi Kaleb entrar, apenas acenando com a cabeça, então ele se sentou no sofá e começou a comer a pizza.
Ouvi a porta da cozinha se abrir e meu coração pulou quando vi Richard entrando. Voltei rapidamente para a minha comida e mexi o macarrão. Eu não paguei por aquela comida, então não devia esperar comer mais nada além do meu macarrão.
Quando meu macarrão ficou pronto, eu coloquei ele em um prato e o segurando desajeitadamente, usei minhas muletas para me sentar na mesa da cozinha. Na sala, todos pareciam se divertir com as comidas gostosas que Kevin tinha trazido, enquanto eu teria que me contentar com aquele macarrão pálido e sem graça.
"Você tá comendo isso?" Richard pergunta, com seu tom quase agressivo habitual.
"É tudo que posso pagar agora." Eu dou de ombros, a timidez que eu sentia se foi.
Eu era uma pelúcia mal-humorada quando estava com fome, provavelmente poderia arrancar seus olhos ou chorar se não pudesse comer nada. Eu sabia que aquele macarrão não ia saciar minha fome, eu poderia comer uma casa naquele momento, mas, se era a única coisa que tinha, então eu ia comer aquilo até o fim.
"Jogue fora." Richard falou firme, eu olhei para ele espantada e ele me olhou de volta, sem dizer nada.
"Não." Eu respondi sem pensar duas vezes, meu tom ficando frio e com raiva.
"Você acabou de dizer não?" Richard perguntou, os outros ficaram quietos na sala.
"Sim." Eu disse, evitando o olhar dele. Eu não ia jogar meu macarrão fora, era a única coisa que eu tinha para comer!
Ele então, sem dizer nada, pegou o meu prato e foi até a lata de lixo. É impossível explicar a revolta que senti naquele momento. Instantaneamente, lágrimas se acumularam em meus olhos e eu comecei a chorar enquanto meu estômago roncava forte.
Quando ele terminou de jogar meu macarrão no lixo, eu estava com tanta raiva, tão triste e com tanta fome, que senti que ia explodir.
"Estúpido, cara de idiota!"
Eu gritei de ódio e vi seu rosto ficar contorcido de dor quando eu bati em sua virilha...
...com a minha muleta.
"Você não joga a comida de uma garota no lixo, cara." Kevin falou rindo na sala, eu imediatamente me senti mal.
Sei que agi por impulso, mas não demorou para me arrepender ao ver Richard sendo tomado por uma energia sinistra que me deu medo. Suas bochechas estavam coradas, provavelmente da dor que tinha sentido e seu olhar estava com um brilho assassino.
Ele tentou voltar ao normal e bufando de raiva, me levantou e me colocou no sofá da sala. Eu apenas fiquei congelada, enquanto sentia um frio na espinha. Ele então, colocou um prato com pizza na minha frente e se sentou ao meu lado.
"Senta essa linda bunda aí, garotinha, ou eu vou ter que espancar você."
Richard disse, a sala toda ficou em silencio.
"Cara, não a envolva em suas merdas excêntricas!" Kevin exclamou, minhas bochechas estavam pegando fogo.
Richard ficou sentado lá encarando Kevin com o olhar, eu não acho que ele queria ser contrariado. Ele estava em estado de choque, o lobo mau estava mesmo em estado de choque e eu não gostava nada daquilo.
"Estou comendo." Eu sussurrei, ele olhou para mim e sua mandíbula se contraiu.
"Não, não o encoraje! Você não pode fazer parte da mesma merda excêntrica que ele faz com as prostitutas que ele traz aqui!" Kevin gritou e eu senti minhas bochechas queimarem ao escutar isso.
"Não, eu não, essa 'merda excêntrica' não é para prostitutas sem cérebro." Richard rosnou entredentes. Kevin ficou em silêncio - senti como se um limite tivesse sido quebrado, um limite que eu não sabia. De repente, a tensão na sala estava palpável.
"Desculpe Richard, eu só estava brincando." Kevin falou imediatamente, era como se houvesse algum assunto que não podia ser tocado ali. Eu não estava entendendo nada e apenas mastigava um pedaço de pizza e um pouco do macarrão chinês ao mesmo tempo.
Austin e Kaleb estavam apenas em silêncio. Kaleb ficava em silêncio o tempo todo. Ele tinha esse olhar silencioso, mas observador, era como se ele soubesse de tudo, mas não expressava nada, enquanto Austin era borbulhante e vibrante, mas nos cantos das cores havia escuridão.
"Sinceramente, não sei o que é mais gostoso aqui." Eu falei e imediatamente corei, minha voz baixa e rachada de vergonha pareceu ecoar pela sala.
Senti a tensão sair da sala assim que falei isso. Richard olhou para mim com uma sobrancelha levantada e eu pude jurar que vi Austin dizer “obrigado” pelo canto do olho.
"Você não pode ser tão inocente assim!" Kevin disse com os olhos revirados.
"Mentalmente não sou, mas fisicamente sou absolutamente inútil." Corei muito, estava dando o meu máximo para não gaguejar.
"Então você não fez absolutamente nada fisicamente?" Kevin perguntou, comecei a fazer círculos com o tomate da pizza.
"Ainda nem dei meu primeiro beijo, o máximo que experimentei foi no dia que cheguei aqui." Eu disse quase sussurrando lembrando de Richard me recebendo na porta, senti Richard tenso ao meu lado.
Seu olhar era penetrante sobre mim e começou a me deixar desconfortável, lentamente voltei a comer sentindo minha fome me dominar. Enquanto comia, senti que todo mundo estava olhando para mim. Kevin e Austin pareciam em choque e inclusive, Kaleb.
Eu não ousei olhar nos olhos de Richard, eu estava um pouco assustada também. Eu não queria que ele se sentisse mal, mas ao mesmo tempo eu me sentia por ter relembrado aquela noite.
"Você tem 18 anos, certo? Por que não pode arranjar um namorado ou apenas... se divertir?" Kevin perguntou, eu senti o olhar de Richard olhar para Kevin.
"Eu uso roupas femininas que quase parecem de criança, gosto de bichos de pelúcia e tendo a agir de forma infantil e chorar muito - a maioria dos caras quer uma garota madura e sexy, eles não querem nada comigo." Eu disse com um encolher de ombros, percebi que os meninos nunca olharam para mim desse jeito.
"hum." Kevin respondeu e por algum motivo, eu meio que queria chorar agora. Fiquei arrependida de ter sido tão sincera.
"Eu não sei porque, meus pais se foram e nem meu irmão me quer – quem vai querer?" Comecei a chorar, ouvi um tapa e vi Kevin segurando sua nuca com uma expressão confusa, enquanto Kaleb apertava sua mão, com uma expressão de dor no rosto.
Kaleb realmente puniu Kevin por alguma coisa, mas eu não fazia ideia do que era. Kevin parecia meio chocado junto com todos os outros, mas eles não disseram nada.
Eu apenas chorei sentada naquele sofá, enquanto 4 rapazes olhavam para mim sem saber o que fazer.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Denise
Muito estranho o clima/ambiente entre os rapazes desta casa, principalmente o Richard, que parece ser o líder, e entre eles e Belle.
2023-07-21
4