Chego na empresa próximo às 09:00, por mais que eu queira ficar na minha casa, enrolada em um monte de cobertores, chorando até esgotar toda a água do meu corpo, mas não posso, não agora, não posso desistir, eu preciso lutar e conseguir mais dinheiro, urgentemente.
Meu celular toca de novo, pela milésima vez essa manhã, vasculho com a mão dentro da bolsa procurando por ele que toca sem parar enquanto espero o elevador chegar, encontro a praga e pego rapidamente atendendo sem olhar para o visor.
— Alô! — respondo irritada entrando no elevador e apertando o último andar, o andar do inferno.
— Onde você está? Está extremamente atrasa Miller! — a voz do Senhor Cooper esbraveja do outro lado da linha, e eu quase posso ouvir seu grito vindo do último andar e ecoar no elevador, respiro fundo, mas antes de eu mesmo ter a oportunidade de responder continua — Onde está? Te fiz uma pergunta!
— Estou no elevador Senhor, eu te avisei sobre hoje…
— Não quero saber das suas desculpas por dormir até mais tarde Miller — esbraveja irritado, eu engulo em seco tentando segurar o choro, mas é em vão, uma lagrima escorre involuntariamente pela lateral do meu rosto.
— Chego em cinco minutos — respondo baixo desistindo de tentar explicar para ele que eu o avisei sobre tudo, aperto as têmporas sentindo a minha cabeça já começando a doer.
— Você não tem mais cinco minutos, esteja aqui agora ou será demitida! — rosna e desliga na minha cara.
— Que tentação, é uma oferta ótima — resmungo guardando o telefone de volta na bolsa sem ânimo algum.
O elevador para no meu andar e assim que as portas se abrem, Carolina está parada na frente, com os braços cruzados e parece um pouco impaciente.
— Sem tempo, desculpe — falo passando por ela assim que consigo, seguindo pelo corredor em passos largos, escuto ela atrás de mim.
— Só me diz se foi bom ou ruim — ela pede tentando me acompanhar sob os saltos.
— Nada bem amiga — falo sentindo os olhos começando a ficar marejados, enquanto chego na minha mesa jogando as coisas com certa raiva dentro do armário.
— Você precisa contar para Senhor Cooper, ele pode te ajudar.
— Nunca! — Respondo depressa e alto demais, ela me olha com compaixão cruzando os braços sob o peito enquanto eu pego a agenda e canetas sob a mesa rapidamente — me desculpe, conversamos no almoço ok? — encaro ela enquanto bato na porta do meu chefe antes de abrir a mesma logo em seguida, entrando diretamente no covil do Diabo.
A última coisa que eu vejo antes de fechar a porta atrás de mim é Carolina dizendo "boa sorte" sem sair som pelos lábios, respiro fundo antes de me virar para ele, tentando jogar toda a minha irritação e tristeza para longe, mas tudo parece piorar assim que me viro.
Senhor Cooper está sentado atrás da sua mesa, as mãos apoiadas sob a mesa, os dedos longos pressionados uns contra os outros com tanta força que as juntas estão começando a ficar brancas, a camisa preta presa no punho e alguns botões abertos na gola, acho que é a primeira vez que eu o vejo assim, sem gravata e parecendo tão despojado, seu maxilar está travado, uma ruga enorme entre seus olhos que me fervem, é quase possível ver a veia de irritação pulsando em sua testa.
Fico imóvel no lugar, não porque eu quero, mas porque minhas pernas travam aqui e não fazem a menor questão de querer se mover, vejo o peito dele subir e descer devagar como se estivesse se concentrando em não me jogar para fora da sua sala igual ao um cachorrinho.
— Resolveu dar o ar da sua graça na empresa — sua voz sai firme e extremamente grossa, eu acho que ele se segura para não gritar comigo, mesmo depois de já ter feito isso no telefone, suspiro apertando os lábios e sentindo as maçãs do rosto começando a queimar, quando não respondo continua — você vai ficar aí parada ou vai tentar se explicar?
— Achei que não queria saber sobre desculpas do atraso — respondo rápido demais, as palavras simplesmente voam de mim, os olhos dele ficam pequenos no rosto e engole em seco, eu espero alguma coisa, alguma irritação, uma explosão, mas não acontece — eu avisei o Senhor sobre hoje, que eu tinha um compromisso e iria me atrasar.
— Os compromissos normalmente tem que ser resolvidos no horário de almoço, é para isso que eles servem — repreende.
Chega, eu não preciso aguentar isso logo de manhã, em um dia do inferno.
— Você não pode pelo menos um dia da sua vida ser uma pessoa boa? — falo com certa raiva na voz, sentindo a queimação do inferno subir pela minha coluna, fazendo meu peito se apertar e o estomago embrulhar, eu estou tão irritada com tudo, comigo, com ele, com a situação e acabo explodindo aqui em sua frente, mas agora que comecei não sei se consigo parar.
— O quê? — pergunta espantado e aperta mais o maxilar — Acho melhor você...
— Medir as palavras? É eu sei — interrompo aproximando da sua mesa, meu corpo todo está tremendo, minhas pernas a qualquer momento vão falhar de tanto que as cinto mole, mas não me afasto ou volto atrás do que estou fazendo, apenas continuo deixando a frustração tomando conta de mim — Um miserável dia da sua vida você podia pelo menos ser bom comigo? Um dia!! — exclamo alto demais.
Ele se levanta com um baque da sua cadeira batendo atrás na parede fazendo meu corpo se afastar de imediato, deixo a agenda cair sob meus pés, Senhor Cooper ferve, a sua irritação é quase palpável, o clima dentro da sala está pesado, seu rosto vermelho como um inferno, meu corpo todo se arrepia quando ele dá a volta na mesa vindo em minha direção.
— Você pensa que é quem para vir até a minha sala e falar comigo dessa maneira? — esbraveja alto, a voz ecoando pelo ambiente e me fazendo tremer no lugar — É sério Miller, eu gostaria mesmo de entender o que se passa na sua cabeça para vir aqui e falar dessa maneira comigo?
— Ah por Deus, o senhor me trata mal todos os dias e agora a culpa é minha? — grito de volta para ele, meu sangue fervendo, posso sentir o borbulhar em minhas veias, o peito dele sob e desce depressa com a respiração pesada, sinto meus olhos começando a ficar encharcados, o choro antes preso na garganta agora ameaçam a sair.
Nós dois ficamos nos encarando, a respiração pesada, as mãos suando, meu coração batendo tão forte que eu acho que posso cair dura aqui na sua frente a qualquer momento.
Me sinto péssima, completamente destruída.
— Eu não te trato mal — se defende, parecendo estar mais calmo, os olhos grandes no rosto me encaram firmemente, não faço questão nenhuma de responder, a fim que ele se sinto melhor enquanto eu me sinto péssima sem ter feito nada de errado, ele se abaixa em minha frente pegando a agenda do chão que eu havia derrubado, seus dedos passam pela capa dura os olhos presos nela e então volta a me olhar — me desculpe, estou tendo uma manhã ruim.
É nesse momento que eu sinto meu coração amolecer, não só ele, meu corpo também, toda a tensão e irritação parecem evaporar, respiro fundo enchendo o peito com ar puro e fechando os olhos rapidamente, e então volto a olhar para ele pegando a agenda de volta.
— Eu também — assumo — posso te ajudar em algo que faça melhorar? — pergunto a fim de ajudar tanto a ele quanto a mim, até porque ele mal-humorado desconta em mim, então quanto mais “feliz" ficar melhor é para mim.
— Só continue me trazendo para a realidade como fez agora, já me ajuda — sorri de canto um tanto quanto constrangido enquanto coloca as mãos no bolso da calça, seus olhos se suavizam em cima de mim.
— Ok, isso eu posso fazer — sorrio de volta, ele estica a mão e toca em meu braço afrouxando os mesmos que prendem a agenda com tanta força contra o meu peito, sinto a pele se arrepiar com seu toque e como se eu fosse comandada por ele, meus braços afrouxam.
— E você, algo que eu possa fazer? — sua pergunta soa com sinceridade e por alguns segundos cogito a realmente pedir a sua ajuda, mas eu acredito que a última coisa que ele precisa agora é de uma assistente doente.
— Só me trazer a realidade já me ajuda — repito o que me disse a fim de sair desse assunto, o sorriso dele fica mais amplo no rosto e então suas mãos me deixam, um vazio tremendo toma conta de mim, estranhamente sinto a falta do seu toque.
— Vamos repassar a agenda e depois está liberada para ir para casa — diz me dando as costas e indo
para sua mesa.
— Para minha casa? — pergunto encarando-o enquanto se senta em sua cadeira se ajeitando atrás da mesa.
— Sim, aproveite meu pequeno gesto de bondade — fala tirando sarro da minha cara, mas dessa vez não tem sorrisos, a pequena ruga entre os olhos formada novamente como se estivesse se concentrando em algo.
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Atualizado até capítulo 140
Comments
Mariane
aaah eles já se gostam, só não conseguem entender esse sentimento ainda!❤🤧
2025-01-03
1
Priscila C. Pessoa
coloca fotos,eu estou amando a história
2024-12-01
0
Ana Lucia
infelizmente não são todos atendimento do SUS que tem médicos especialista
2024-11-23
0