Desde que saímos da empresa ele está quieto e mal me olha, seus dedos se movem no celular depressa, quase me perco no tanto de coisas que faz ao mesmo tempo, enquanto digita algo tem outra pessoa no telefone em ligação.
O escritório do Polaki fica em média de meia hora a quarenta minutos de carro, então desde que entrei aqui sei que o caminho seria longo, só não imaginava que seria assim, tão desconfortável, o ar parece denso e o desconforto é quase palpável, não sei o que dizer ou como agir, estar com ele num carro fechado é como andar em ovos, todo cuidado é pouco.
Fico com o celular na mão vasculhando qualquer coisa apenas para me distrair desse clima terrível.
— Por que você traz sua comida? Não gosta da que servimos na empresa? — levanto o olhar do meu celular para ele que está sentado ao meu lado, mas para minha surpresa ele não me olha, seus olhos estão presos em seu telefone, digitando algo depressa, as sobrancelhas enrugadas como se estivesse concentrado no que faz.
Eu nunca contei para ninguém a não ser Carolina sobre minha doença, e para ela ainda foi um caso específico porque me encontrou caída no chão do banheiro da empresa alguns dias depois da nossa contratação, foi assim que nos conhecemos e viramos o que somos hoje, inseparáveis.
Mas de tantas perguntas que ele poderia me fazer, escolhe essa? Sobre meu almoço?
— Eu tenho uma dieta regrada — respondo brevemente tentando não desmerecer a refeição que a empresa oferece, que parece ser ótima, mas eu infelizmente me limito a algumas coisas, volto a atenção ao meu celular que vibra em minha mão, nova mensagem de Carolina.
— E por quê?
Sua pergunta me surpreende, levanto o olhar do telefone antes de abrir a mensagem, agora Senhor Cooper me olhava, curioso, os olhos parecendo mais claros do que hoje de manhã, uma ruguinha se formava entre os olhos, sorriu para ele dando de ombros.
— Eu só gosto de me cuidar — minto, ele ainda mantém o olhar em mim pelo que parece ser uma eternidade e então o meu telefone vibra de novo em minha mão, o silêncio do carro faz a vibração poder ser ouvida, ele desce o olhar para minhas mãos e então volta a olhar para o seu telefone sem dizer mais nada.
Confiro a tela do celular de novo, outra mensagem de Carolina, abro as duas.
(Carolina) - "tudo bem?"
(Carolina) - "me dá um sinal de que está viva, porque na minha cabeça ela já te matou e jogou em uma vala no meio do caminho"
E riu baixo com sua mensagem e respondo rapidamente.
(Melanie) - "Estou bem, ainda viva, não se preocupe"
Garanto para ela antes que mande alguns carros de polícia atrás de nós, pode parecer ridículo, mas Carolina é louca, eu não duvidaria menos que isso dela, nem por um segundo, certa vez ela me fez ficar parada na frente da casa da sua ex namorada por mais de 4 horas em um sábado à noite, apenas para podermos ter certeza de que ela dizia a verdade, que não iria sair porque estava doente, e no fim, a pobre coitada estava realmente ruim.
— Seu namorado não te deixa em paz nem na hora do trabalho? — a voz do Senhor Cooper volta a ser grossa e séria me tirando totalmente do meu devaneio, subo o olhar para ele que está encostado no banco do carro, os braços apoiados sob o colo, as mãos juntas, enquanto me encara completamente carrancudo.
— Eu não tenho namorado — respondo simplesmente e começo a enfiar o celular dentro da bolsa, melhor não cutucar o leão com vara curta, já tomei demais para um dia só.
— Namorada talvez? Bishop?
Sorrio para ele segurando a risada, não seria a primeira vez que confundem nossa amizade com um relacionamento amoroso, mas ele me perguntando isso é realmente engraçado.
— Não, sem namorada também — rio baixo me ajeitando no banco no carro, o clima agora parece um pouco melhor, não tem tanta tensão, e eu acho que é a primeira vez que isso acontece entre nós dois pelo menos — Por que tantas perguntas pessoais?
— Não são tão pessoais — diz simplesmente dando de ombros.
— São sim — respondo firme e rapidamente, Senhor Cooper novamente dá aquele leve sorriso e se mexe desconfortável no carro, eu olho pela janela conferindo quanto tempo ainda falta para chegarmos, escuto ele bufar e volto a olhá-lo que rapidamente diz.
— Querer saber porque leva almoço não é tão pessoal assim Miller — continuo encarando ele que novamente se mexe desconfortável.
— Depende do ponto de vista, é que o Senhor nunca me perguntou nada que não seja relacionado a sua agenda de trabalho, agora me pergunta sobre o almoço, relacionamento e orientação sexual — sorrio para ele tentando parecer descontraída, até porque eu não liguei pelas perguntas.
— Ok, me desculpe, não quis ser invasivo.
— Está tudo bem, eu não ligo em responder — dou de ombros sorrindo e novamente a vibração do meu celular agora na bolsa é ouvida, ele desce o olhar para a bolsa.
— Se não tem um namorado há alguém que está querendo ser — fala subindo o olhar para mim devagar o que me faz queimar.
— Antes fosse — respondo e solto uma risada baixa um pouco nervosa enquanto vasculho a bolsa — é só Carolina querendo garantir que estou viva — deduzo pegando o aparelho dentro da bolsa bagunçada e como esperado uma mensagem dela, mas não era nada de mais, apenas algumas figurinhas engraçadas.
— Porque ela precisaria garantir isso? — pergunta me encarando, seus olhos me fitam diretamente e eu preciso desviar o olhar para poder espantar a vontade de sair correndo da sua frente.
— Porque é Carolina — sorrio sem jeito me esquivando da sua pergunta, vejo quando engole em seco e seus olhos descem para os meus lábios e após parecer uma eternidade volta a me encarar me deixando completamente tonta.
Depois desse momento estranho, passamos algum tempo sem nos falar, o caminho para o escritório de Polaki é longo, tinha total ciência disso quando entrei nesse carro, mas depois dessa pequena conversa o caminho parece ter ficado mais longo.
Em poucos segundos o clima fica tenso de novo e desconfortável, Senhor Cooper não para de me olhar, seus olhos correm pelo meu corpo todo e eu sinto as maçãs do rosto ficarem vermelhas algumas vezes, desvio o olhar rapidamente quando encontra os meus e um sorriso leve brota em seus lábios de novo, tento me concentrar na paisagem que passa depressa pela janela.
O silêncio dentro do carro é gritante, então criando coragem decido quebrar o clima estranho.
— Sabe, em três anos que trabalhos juntos, eu acho que essa é a primeira conversa civilizada — digo sem olhar para ele, meus olhos fixos pelas árvores que passam depressa ao nosso lado, novamente sinto o olhar dele preso em mim e em seguida uma respiração profunda que finalmente me faz voltar a encará-lo.
— Eu não sou ótimo para conversar — assume me olhando, mas dessa vez é diferente, ele parece leve, não é a mesma pessoa de mais cedo, é como se aquele escritório, aquela empresa o transformasse em outra pessoa a partir do momento que coloca os pés ali.
— Eu pude notar — provoco.
— Não me testa Miller — diz e sorri, um sorriso de verdade dessa vez, amplo, que faz meu peito se encher de alguma coisa estranha.
Senhor Cooper sempre foi bonito, assumo, o seu mau-humor o deixa feio, lógico, mas ele sorrindo é espetacular, sinto as bochechas começarem a queimar de novo e automaticamente estou sorrindo de volta.
— Chegamos Senhor Cooper — motorista diz interrompendo nós dois.
Senhor Cooper me olha como se fosse pela última vez e abre a porta descendo em seguida, eu pego minha bolsa e começo a descer do carro estranhamente encontro sua mão estendida para mim do outro lado, eu encaro seus dedos longos estendidos em minha direção e depois a ele que tem as sobrancelhas quase juntas me fitando em confusão.
— Eu não mordo Miller.
Seguro em sua mão com certa cautela, Martin mantém segura com firmeza em meus dedos pequenos que somem aos seus enquanto a outra mão pega em minha cintura me ajudando a descer do carro como se eu fosse uma idosa, reviro os olhos e suspiro assim que estou em chão firme.
Ser amparada dessa maneira, principalmente por ele foi estranho, até demais, porém é quando ele me solta que me sinto pior, a ausência do seu toque é gritante, me sinto estranha e parece que falta algo em meus dedos.
Rapidamente recolho minha mão e tento não olhar para ele e ser taxada como uma perfeita idiota.
— Vocês chegaram!!! — a voz do Senhor Polaki soa atrás de mim e eu reviro os olhos respirando fundo e encontro os olhos do Senhor Cooper que estão pequenos de novo no rosto, ele não parece feliz pela minha reação.
Senhor Augustus Polaki, dono das empresas Polaki, um homem terrivelmente machista e mulherengo, a última vez que eu o vi, suas palavras comigo foram de querida até gata em segundos, não que eu goste da primeira, mas é abuso.
Eu o tolerei da última vez para não se prejudicada, mas dessa vez, realmente estou por um fio, um pequeno fio.
— Polaki — Senhor Cooper assume a frente estendendo a mão enquanto eu me viro para ele tentando dar o meu melhor sorriso, ele aperta a mão do meu chefe e depois vem até mim para me abraçar, mas relutante dou um passo para trás e estendo a mão.
— Senhor Polaki — digo com firmeza e tirando o sorriso do rosto
— Vamos entrar, estávamos à vossa espera — ele diz e corre os olhos pelo meu corpo, engulo em seco desconfortável.
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Atualizado até capítulo 140
Comments
Mariane
Aii meu Deusss, ele está com Ciúmesss!!🤧
2025-01-03
1
HENEMANN- MEDEIROS. Henemann
/Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/
2024-11-29
0
Quase cinquentona🥴🥺😔😩
Ciúmes que fala !? 🥴🤭
2024-11-10
3