Quem é Você de Verdade

PONTO DE VISTA DE MAIA WILLIAN

No dia seguinte quando cheguei na delegacia, Noah aguardava-me na sala de interrogatórios. 

Abri a porta, encostei no batente, com braços cruzados e perguntei:

— Por que quer falar comigo aqui?

Ele estava em pé, apoiou as duas mãos sobre a mesa, inclinou um pouco corpo, respondeu encarando-me:

— Porque aqui tem isolamento acústico e outros lobisomens não são capazes de nos ouvir.

Entendi que era algo importante, fechei a porta e aproximei da mesa:

— O que há de tão sério e sigiloso para me dizer? 

— Por que você não me disse que conhecia o Alfa Cauã? 

— Quem disse que eu conheço? 

— Maia, ele me perguntou se você já teve cabelos prateados e olhos claros? 

— Oh! Pelo jeito ele, além de ficar mais forte, ficou mais inteligente. — Falei com ironia.

— Isso quer dizer que realmente o conhece?

— Infelizmente, mas não quero que ele saiba.

— Te conheço há anos e sempre fiquei intrigado por você saber o que eu sou e depois quando vim para trabalhar aqui, desconfiei que havia algo diferente em você, pois além de lobisomens você reconhece todos as outras espécies pelo olfato. Para continuar com a nossa parceria, preciso que confie em mim. Quem é você de verdade, Maia Willian?

— Noah, não quero que você tenha problemas por minha causa, sendo assim, é melhor ficar sem saber, não é bom se envolver.

— Maia, mais envolvido do que já estou? Impossível. — Ironizou e continuou: — Todos acreditam que sou eu, quem lhe contou sobre o sobrenatural. Você me deve a verdade.

Eu respirei fundo. Noah tinha razão. Era a hora de contar para mais alguém sobre o meu antigo eu. 

— Ok. Vamos sentar. Vou lhe contar tudo porque eu confio em você, mas não pode sair desta sala.

Ele assentiu.

Sentamos frente a frente e contei toda a minha história para ele.

Noah balançava a cabeça negativamente o tempo todo. 

— Inacreditável! Um absurdo! — Ele ficou incrédulo.

— No entanto, é a mais pura verdade. Olhe só. 

Retirei o casaco, estava com uma blusa de gola alta e sem mangas, proferi algumas palavras referente ao encantamento para tirar o ocultamento da tatuagem.

Ela foi se formando pouco a pouco. 

Noah olhou para o meu braço, para o meu rosto e voltou a olhar pela extensão onde a tatuagem se completou. 

Ele  levantou-se e aproximou, ficou ao meu lado. Olhou bem para a tatuagem e perguntou:

— Como você consegue proferir encantamentos?

— Não sei, mas depois que uma bruxa ensinou-me, eu sempre faço e dá certo.

— Posso? — Referindo-se a tocá-la. 

— Sim.

Quando Noah tocou a tatuagem sobre a minha pele, fiquei numa espécie de transe e como num filme, a vida de Noah passou por diante os meus olhos.

De repente parou numa cena:

Noah parecia um pouco mais jovem, ele e uma garota corriam de mãos dadas por entre as árvores. Sorriam um para o outro, quando chegaram à beira do rio, eles tiraram as suas roupas e começaram a se beijar apaixonadamente. 

Eles ouviram alguma coisa ou alguém. Um enorme lobo apareceu e voltou a forma humana. Ele atacou Noah, a garota chorava e pedia que parassem. 

Antes, não havia percebido, mas Noah estava com um enorme corte nas costas.

A garota empurrou Noah e pedia perdão, eu não ouvia sons, mas os movimentos labiais dela eram claros.

Ele tinha um olhar de pânico e parecia dizer algo como: "Naty, por favor, não. Não faça isso." 

Ela virou para o outro lobisomem e o beijou. 

Noah se transformou e correu sem rumo.

— Maia! Maia!? Está me ouvindo? — Noah chamava por mim.

Eu balancei a cabeça tentando me livrar e ao tempo tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

— O que foi? — Perguntei olhando para o meu amigo.

— Estou te chamando faz um tempo, mas você parecia estar em transe. Os seus olhos ficaram parados.

— Quem é… Naty? — Perguntei curiosa para saber se a visão que tive era verdadeira ou não.

Noah deu um passo atrás, ficou assustado com a minha pergunta.

— Como sabe esse nome? 

— Quando você tocou a minha tatuagem, eu tive uma espécie de visão. 

— Que visão? 

— Desculpe-me, Eu não queria invadir a sua privacidade, isso nunca aconteceu antes.

— Tudo bem. O que foi que você viu? — Ele virou-se para o outro lado da sala e sentou na beirada da mesa, ficando de costas para mim e passando uma mão na outra.

— Eu vi você quando era mais jovem, correndo pela floresta de mãos dadas com uma garota, depois… — Contei tudo o que vi.

Ele suspirou.

— Foi por causa dela que se tornou um renegado? 

— Sim. 

— O amor entre vocês era nítido. Por que ela preferiu o outro? 

— Naty é a minha predestinada. Estávamos felizes, pois tínhamos descoberto que éramos companheiros. 

— Agora, estou mais confusa.

— Se você ficou e eu, então? O lobisomem que viu na visão era o meu irmão, Kenny, na verdade, fui adotado pelos pais dele. Ele nunca me aceitou. Como era alguns meses mais velho e o futuro Alfa, tudo que reivindicava, era sempre dele. Todos na alcateia, acabavam cedendo às suas vontades, pois se fossem contrários, eram ameaçados a se tornarem seus desafetos e serem punidos quando ele tomasse o poder.

— Que horror! 

— Sim. Quando Kenny descobriu que Naty era a minha companheira e não a dele, enlouqueceu. 

— Ela é realmente linda!

Noah suspirou e concordou com um gesto de cabeça. 

— No mesmo dia que descobrimos o vínculo, ele tentou me matar usando uma faca envenada com acônito, mas eu sobrevivi. Naquele dia do rio, eu e Naty resolvemos ir embora da alcateia, já estávamos a milhares de quilômetro quando Kenny nos alcançou. Começamos a lutar e ele disse que tinha prendido toda a família dela e se ela não acasalasse com ele, todos morreriam. Eu sabia que não teria o apoio de ninguém para lutar contra ele e salvá-los. Quando Naty beijou-o, não suportei e fui embora.

— E o que aconteceu com ela e a família?

— Ela é a atual Luna da Tribo da Lua Vermelha. — Noah suspirou.

— Sinto muito, meu amigo.

— É passado! Não dói tanto como antes. Você disse que foi a primeira vez que teve uma visão? 

— Sim, isso nunca aconteceu. 

— Quer que eu te toque de novo? 

— Querer eu não quero, mas vamos tentar.

Noah segurou o braço de Maya, mas nada aconteceu.

— O que você fez antes? — Eu perguntei.

— Eu acho que passei as pontas dos dedos na altura do seu antebraço.

— Ok. Faça de novo. — Pedi.

Eu suspirei fundo e tentei limpar a minha mente. 

A minha visão ficou toda branca. Noah sorria mais uma vez, mas com a aparência atual. A sua mão segurava outra, era de uma mulher, mas o rosto não aparecia. 

Eles olharam para trás, havia um homem, o rosto estava borrado.

De repente, ficou visível, era Cauã, ele parecia enfurecido.

Eu saí do transe.

— O que você viu? 

— Nada. — Eu menti. 

— Você viu alguma coisa e não quer me contar.

Seria difícil enganá-lo, resolvi contar meia verdade, até porque nem eu entendi aquela imagem.

— Eu vi uma cena, parecia ser no futuro, não tenho certeza, mas os rostos não eram nítidos, como se tivesse uma luz naquele ponto sobre os seus pescoços. Então, não consegui compreender. 

— Entendi.

— Tentaremos outra vez, mas não agora, estou me sentindo um pouco fraca. Preciso do meu pai…

Tudo à minha volta escureceu.

Foto aleatória retirada da internet para fins ilustrativos.

Noah Noris

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