Naquela noite turbulenta, Gun acordou assustado com a voz de Kim ecoando em seus sonhos. Ao seu lado, Ayan, seu amigo fiel, não arredava o pé, velando o descanso do rapaz com olhos atentos e coração apertado.
Enquanto isso, Kim havia deixado um vídeo para Gun assistir assim que acordasse. Não sabia exatamente quando isso aconteceria, mas precisava se fazer presente, nem que fosse por uma tela.
O médico Meliodas entrou no quarto para avaliar o estado do paciente. Após uma rápida análise, seu semblante suavizou, trazendo um alívio sutil. Alex, atento, entendeu o recado e logo pegou o celular no bolso, ligando para o chefe. No entanto, como das últimas vezes, Kim não pôde atender. Impaciente, Alex murmurou entre dentes:
— Maldição…
Do lado de fora, Ayan saiu correndo, chamando o namorado com urgência. Alex não hesitou. Correu para o quarto.
Ao entrar, seus olhos se encontraram com os de Gun, que agora estavam abertos. O rosto ainda pálido, mas consciente. A primeira coisa que o garoto perguntou, com a voz rouca, foi:
— Onde está… o meu homem?
Alex trocou um olhar com Ayan, respirou fundo e puxou o celular do bolso. Apertou o play no vídeo que Kim havia deixado.
A imagem apareceu. A voz de Kim era carregada de emoção, com os olhos marejados e a respiração pesada:
> “Gun, meu amor… ver você nessa cama me parte em pedaços. Melhore rápido, volte a ser o mesmo garoto teimoso que me conquistou. Eu te amo. Não se esqueça disso. Estou voltando. Não sabia que horas você despertaria, mas queria que minha voz te alcançasse primeiro. Até breve, meu namorado.”
Gun deixou as lágrimas rolarem sem vergonha. Um sorriso tímido brotou em seus lábios, o primeiro em dias. Ayan, sempre espirituoso, fez uma piada boba para arrancar dele mais um sorriso. Funcionou.
Alex se despediu, voltando ao trabalho com um alívio no peito.
A noite passou leve. Eles relembraram a infância, histórias bobas, travessuras esquecidas. À madrugada, Meliodas autorizou a alta. Do lado de fora, Alex já os esperava.
— Me leva pro apartamento… — pediu Gun, cansado, mas determinado.
Alex assentiu pelo retrovisor. Sabia que o garoto precisava daquele lar — o mesmo que dividia com Kim.
**
No dia seguinte, Gun acordou cedo. Mas não como estagiário — como chefe. Vestiu sua melhor roupa, enfrentou o caos do trânsito num táxi velho e, durante o caminho, lembrou de tudo: o começo, os tropeços, o amor.
Um sorriso surgiu. Mas o motorista, tentando chamar sua atenção, o despertou dos devaneios.
— Moço? Chegamos.
Gun corou de vergonha, pagou e se despediu educadamente. Ao entrar na empresa, os olhares eram diferentes. Cochichos se espalhavam como fogo em palha seca.
De cabeça erguida, ele entrou na sala. Ayan logo chegou com uma pilha de documentos.
— Tudo bem com você, Gun? O clima lá fora tá pesado.
Gun sorriu, com a serenidade de quem já enfrentou tempestades maiores.
— Eu sei como é essa gente. Quando eu estava entre eles, não poupavam nem o Kim. Não me importo com o que dizem. Só quero fazer meu trabalho, e fazer bem feito.
— Certo. Aceita um café?
— Não precisa. E Eggy?
— Está de licença maternidade. Ela deixou um substituto e vai te mandar o contato por mensagem.
— Ok. Vamos trabalhar. Nem sei por onde começar.
— Começa pelo início. Sorte! — brincou Ayan, se retirando.
Sozinho, Gun se debruçou sobre os papéis, até Alex entrar carregando sacolas.
— Chefe, trouxe comida. Se continuar sem comer, vai parar no hospital de novo.
— Que bom! Estou faminto.
Alex serviu lasanha, acompanhada de café com leite. Gun sorriu.
— Como soube que eu gosto disso? Esquece, foi o Kim, né?
Alex apenas assentiu.
— Sente-se, me acompanhe.
— Não posso…
— Desculpa, é uma ordem.
Rindo, Alex sentou-se. Entre garfadas e risos, Gun o surpreendeu:
— Alex?
— Sim?
— Se o Kim estivesse aqui, ele já teria arrancado essa gravata do meu pescoço… e transformado essa mesa numa cama.
Alex caiu na risada, saindo logo em seguida.
— Eu não sei o que faço com esse garoto…
**
Ao anoitecer, Ayan invadiu a sala apressado.
— Vamos embora, Gun. Tá na hora de jantar.
— Vai atrás do Alex, não de mim.
— Você é meu melhor amigo, não esquece. Bora comer na barraca da esquina?
— Não tô com fome…
Mas seguiram andando. A noite estava gelada, o silêncio cortante. Ayan parou, tenso.
— Anda logo. Tem alguém seguindo a gente.
— O quê?! Por quê?
— Eu não quero morrer hoje, cara. Quando eu contar até três, a gente corre!
Na contagem, eles dispararam. Gun, ainda debilitado, tropeçou e caiu. Ayan voltou correndo, puxando o amigo do chão.
— Liga pro Alex!
Gun, desesperado, pegou o celular e discou. Alex atendeu na hora.
— Nos ajuda… por favor!
**
O guarda-costas desligou, rastreando o sinal de Gun imediatamente. O rosto pálido, o coração acelerado. Pensava em Kim e no que aconteceria se ele falhasse em proteger Gun.
Nesse momento, Otto ligou por vídeo. Alex hesitou em atender, mas respirou fundo.
— Senhor?
— Como estão as coisas?
— Tudo tranquilo, senhor. O que deseja?
— Liguei pra Lola, mas não consegui.
— Ela viajou pra casa de campo. Lá não tem sinal.
Otto limpou a garganta, sério.
— Quero que todos vão pra lá hoje mesmo. Sem discussão.
— Por quê, senhor?
— Apenas obedeça, Alex. E cuide do Gun. Meu filho está impaciente por não estar aí.
— E a empresa?
— Já deixei nas mãos de Ben e Arlan. Vá agora. Eles precisam de você.
Alex suspirou. O perigo se aproximava, e ele sabia que aquela noite ainda não havia terminado.
---
Na estrada rumo à casa de campo, o silêncio dentro do carro era espesso como a névoa da madrugada. Gun estava recostado no banco de trás, com um cobertor sobre os ombros. Seus olhos fixos no vidro, observando as luzes dos postes sumirem na escuridão da estrada. Ayan ao lado, atento a cada movimento fora do carro. Alex dirigia com firmeza, os olhos alertas e a mente fervendo de preocupação.
— Chegaremos em menos de uma hora. — murmurou Alex, sem tirar os olhos da estrada.
— Você acha… que ainda estamos sendo seguidos? — perguntou Ayan, tenso.
— Por enquanto, não vejo nada no retrovisor. Mas não podemos baixar a guarda. — respondeu Alex, acelerando um pouco mais.
Gun fechou os olhos. Kim parecia tão distante… mas ao mesmo tempo, tão presente em sua memória. A voz dele ecoava em seus ouvidos, trazendo força, mas também saudade. O vídeo se repetia em sua mente como um mantra: "Não se esqueça que eu voltarei para você."
Ao chegarem à casa de campo, o portão se abriu automaticamente, revelando a propriedade cercada por árvores altas e o som dos grilos preenchendo a noite. Era um lugar seguro… ao menos, por enquanto.
Otto os aguardava na varanda, vestido com um sobretudo cinza, o olhar grave.
— Entrem. Rápido.
Eles obedeceram. Dentro da casa, a lareira estava acesa, e o aroma de chá fresco pairava no ar. O ambiente contrastava com a tensão que se formava entre os muros.
Otto se aproximou de Gun.
— Você está bem?
— Estou tentando… — respondeu o garoto, a voz rouca.
— Fico feliz que esteja aqui. Kim voltará em breve. E quando voltar, quero que te encontre inteiro.
Gun assentiu com um meio sorriso. A presença de Otto o reconfortava, mesmo que ele fosse uma figura rígida.
— O senhor acha… que essa ameaça tem a ver com o que aconteceu na empresa? — perguntou Alex, quebrando o silêncio.
Otto respirou fundo.
— Não é só sobre a empresa. Há algo maior. E Kim está investigando. Por isso sumiu por uns dias. Mas ele deixou instruções claras: proteger o Gun a qualquer custo.
— E quem são essas pessoas? — insistiu Ayan. — Por que seguiram a gente?
Otto hesitou. Depois, olhou nos olhos de Gun:
— Porque você agora é mais do que o estagiário que todos ignoravam. Você está no centro de algo que nem imagina. E tem pessoas que fariam de tudo para machucar Kim… inclusive, atingir você.
Gun engoliu em seco. O coração batendo mais rápido.
— Kim está correndo perigo?
— Sempre esteve. Mas agora… ele não corre sozinho.
**
Mais tarde, já nos quartos da casa de campo, Gun se sentou na cama. Olhava o celular, esperando uma mensagem. Qualquer sinal de Kim.
Alex apareceu na porta com um cobertor.
— Trouxe isso pra você.
— Obrigado… — respondeu Gun, com um tom baixo.
— Ele vai voltar. Eu conheço o Kim. Ele te ama mais do que qualquer coisa.
Gun abaixou a cabeça.
— E se não der tempo? E se…
— Não pense nisso. Você não está mais sozinho. A gente vai proteger você. Até o fim.
Gun sorriu fraco.
— Obrigado, Alex.
— Tenta descansar. Vai precisar de forças.
Gun deitou-se. Fechou os olhos. E, no silêncio da madrugada, uma notificação vibrou em seu celular.
Uma mensagem de vídeo.
Kim.
Gun sentou-se na cama em um pulo, apertando o play.
A imagem apareceu. Kim estava em um quarto escuro, cabelos bagunçados, a voz urgente:
> “Gun… não posso falar muito. Estou perto de descobrir quem está por trás de tudo. Mas preciso que você fique na casa de campo. Não saia daí. Confie no Alex. Confie no meu pai. Eu te amo. E prometo, por tudo que é mais sagrado… que volto pra te buscar.”
A tela escureceu.
Gun levou a mão ao peito, onde sentia o coração pulsar descompassado.
— Volta logo, Kim…
E então, do lado de fora da casa de campo… um carro preto estacionou na estrada, em silêncio.
Alguém os observava.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Loucas por leituras online 🤭
Esse guarda costa é demais
2023-06-19
0
Loucas por leituras online 🤭
Alex vc é maravilhoso
2023-06-19
0
Loucas por leituras online 🤭
Imagino esse sorriso 😃
2023-06-19
0