Capítulo 6

Os olhos de Wat repousaram no rosto delicadamente esculpido de Kim. Ele sorria sem perceber, apenas por contemplar a beleza serena do seu chefe. Pensou, silenciosamente:

“Me sinto tão bem ao lado dele… Mesmo com toda aquela arrogância. Na verdade, quem não está aguentando é ele. Por que meu coração dispara assim? Sinto algo estranho na barriga…” murmurou, confuso.

Kim resmungava palavras desconexas durante o sono. Preocupado, Wat aproximou-se ainda mais, tentando acalmá-lo. Tocou sua testa com delicadeza — estava quente, ardendo em febre. Sem perder tempo, correu até o banheiro, pegou uma bacia com água fria e um pano limpo. Seu semblante revelava a aflição.

Com todo o cuidado, começou a limpar o rosto, os braços. Quando levantou a camisa para refrescar o tronco do chefe, notou marcas antigas e cicatrizes recentes.

— O que aconteceu com você…? — sussurrou, angustiado.

De repente, Kim segurou sua mão com força e a puxou até o rosto, aconchegando-se nela.

— Eu estou aqui. Descansa, — disse Wat, sentando-se ao lado dele.

Nesse instante, Ana entrou com uma bandeja de jantar.

— O que houve com ele?! — perguntou, assustada ao ver Kim deitado.

— Está com febre… Não sei o que aconteceu. Talvez tenha a ver com os pais dele…

— Nada disso, — retrucou Ana. — Kim já se acostumou com a ausência deles. Não faria sentido. E Alex?

— Ele jantou e saiu. Comentou que está interessado no meu amigo…

— Sério? Então quer dizer que você gosta do...

— Hum, sim. Descobri que ele gosta de garotos e não de meninas. Me surpreendi. E parece que Alex o conhece há bastante tempo. Mas não posso te contar muito, Ana. Me desculpe.

— Tudo bem. Eu entendo. — disse ela, compreensiva, saindo do quarto.

Wat voltou para o lado de Kim, limpando seu corpo com cuidado. O Boss acordou, incomodado pelos ruídos vindos de fora.

— Wat… preciso ir até a empresa.

— Você não vai a lugar nenhum enquanto não estiver melhor, — decretou com firmeza.

— Mas…

— Sem "mas", Kim! Você vai ficar deitado. Entendido? — disse, colocando a bandeja no colo dele.

— Não quero comer.

— Se esforce. Deixe de ser mimado. — respondeu Wat, pegando uma colher de mingau. — Abra a boca.

Kim obedeceu, rendido ao carinho do estagiário. Após a refeição, pediu:

— Preciso de um banho… Mas não consigo ir sozinho. Me acompanha?

— Eu não posso, Kim… — Wat hesitou, constrangido.

— Por favor… por favor…

— Tá bom! Mas nada de gracinhas, entendeu?

Com cuidado, Wat o ajudou a levantar. Fraco, Kim se apoiou nele, enlaçando-se nos seus braços. Ao chegarem no banheiro, Wat disse:

— Tira a camisa.

— O quê? — indagou Kim, surpreso.

— Aqui você não é meu chefe. Não vai tomar banho vestido, vai? Faça o que eu digo.

Kim obedeceu, expondo seu corpo definido. O coração de Wat acelerou. Seus olhos evitaram encarar por muito tempo, mas o rubor em seu rosto o entregava.

Kim entrou na banheira. Wat ligou o chuveirinho, ajudando-o a se banhar. Tomado por curiosidade, perguntou:

— Quem é o senhor Lee?

Kim silenciou por um instante, o olhar mergulhado em sombras.

— Ninguém importante. Por quê?

— Você o chamava enquanto dormia…

Kim virou-se bruscamente:

— Nunca mais mencione esse nome! Nunca mais fale daquele desgraçado!

Wat o encarou com suavidade e respondeu:

— Eu estarei aqui quando você quiser me contar. Kim?

— Hum…

— Promete?

— Prometo… — disse com um fio de voz.

— Você está se apaixonando por mim? — Kim sussurrou, como se falasse para si mesmo.

Antes que Wat pudesse responder, Kim selou sua boca com um beijo intenso. O estagiário tentou resistir:

— Pare com isso, Kim. Você está com febre. Deve estar me confundindo com ele…

— Não… não diga nada, — murmurou Kim, desmaiando em seus braços.

Wat o segurou, com esforço, e o carregou até a cama. Pegou uma muda de roupa limpa e começou a vesti-lo com cuidado.

— Mesmo doente, você consegue ficar excitado… Caramba, Kim… Eu tô exausto… — disse, empurrando-o suavemente para o lado e deitando-se ao seu lado. Sua camisa encharcada ainda grudava no corpo, enquanto ele se ajeitava na cama.

E ali, de forma estranha e inesperada, uma amizade nascida há poucos dias se tornava cada vez mais íntima.

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Na manhã seguinte, Ben chegou à casa de Kim. Ana tentou impedi-lo de subir, mas ele forçou a entrada:

— Ora, ora… Desde quando o Boss arrumou um novo namorado?

— Cala a boca, Ben! Eles estão dormindo. Fala mais baixo! — resmungou Ana.

— Tentei ligar para ele desde ontem. Quando disse que ia atrás de Lee, me preocupei. Aquilo era uma armadilha. Aquele canalha falou que estava com os pais do Kim. Sabia que ele ia se desesperar… Pobre do meu amigo. Quem é esse aí?

— O estagiário. — respondeu Ana com naturalidade.

— Estagiário? Ele está dormindo com o chefe?

— Sim. Todos nós sabemos. E os pais do Kim também. Se não fosse por ele, Kim não estaria nada bem. Passou a noite toda chamando o idiota do Lee…

— Coitado… Depois de anos, ainda colhe os pedaços desse inferno. — murmurou Ben.

Wat despertou com o burburinho e estranhou a presença de Ben.

— Quem é você? — perguntou, sonolento.

— Me chamo Ben. Amigo do Kim.

— Sou Wat. Estagiário dele… Ana provavelmente comentou.

Kim acordou com a conversa.

— Ben? É você?

— Sou eu. Vim ver como você está. E vejo que está… bem acompanhado. — brincou, com um sorriso.

Kim sorriu de leve, sentando-se com dificuldade.

— Meu estagiário está aqui pra isso. Quando eu precisar, ele cuida de mim. Não é, Wat?

— Hum… — respondeu Wat, tímido, corando até as orelhas.

— Ana?

— Sim?

— Será que estamos vendo um casal se formando? Kim fez uma ótima escolha. Wat é… muito lindo.

— Lindo até demais, — completou Ana, rindo.

— Ah, e os seus pais chegaram ontem à noite, — informou Ana. — Queriam te ver, mas você estava dormindo. Hoje cedo receberam uma ligação urgente e foram para a empresa.

— Obrigado, Ana. Estou mais aliviado agora.

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