Capítulo 15§

Quando percebi o desconforto dela por estar nua, apenas coberta por um blazer meu, dei ordens para que meus lobos não estivessem na rua até que ela passasse. Assim que chegou em sua casa, ela foi direto para seu quarto e voltou após vestida, segurando meu blazer em suas mãos. Então, sentou-se ao meu lado, já que Kael e Victória ocupavam o outro sofá.

— Luana, você sabe o que significa isso? — Mostrei o diário que encontrei em suas coisas.

— Um diário... — Ela falou, acreditando que eu era um idiota.

— Não um simples diário, Luana. Este é um diário que toda família de licantropo tem. Aqui são registradas informações que toda alcateia precisa saber quando algo acontece com aquela família. — Aquela revelação a deixou chocada. — Sua mãe biológica era uma loba, Luana. Estive em sua cidade ontem. Este é seu diário. — Entreguei o diário, e ela folheou o mesmo. — Sua amiga me falou que você havia tentado encontrar sua família. Talvez tivesse encontrado se soubesse o que isso quer dizer. Não sei o que aconteceu com seus pais, mas você teria noção do que eles eram se soubesse ler o que está escrito aqui.  Acredito que algo muito grave aconteceu para que eles deixassem vocês para trás. Isso não é normal para um lobo.

— Então tudo que meus pais falavam quando éramos crianças é verdade? — Ela perguntou, surpresa.

— Seu pai era um feiticeiro, igual à Victória, Luana. Segundo o que está escrito aqui no diário, ele fez um feitiço para que você e seu irmão não revelassem quem eram, até ter idade suficiente para ele desfazer o feitiço ou quando vocês encontrassem seu verdadeiro companheiro, aquele destinado por Selene, a deusa da lua. O que acontecesse primeiro.

— Meu irmão, ele encontrou uma companheira, por que ele não se transformou?

— Para nós lobos, Luana, não é tão simples como para os humanos. A deusa da lua nos presenteia com um único companheiro que irá completar nossa alma, aquela que será como nossa própria vida. Sem ela, estaremos sempre incompletos. — Olhei nos olhos dela, e ela também me encarou.

Senti uma necessidade terrível de beijá-la, e o fato de ela estar me encarando não ajudava muito. Senti meu lobo vindo à superfície, assim como percebi que os olhos dela também estavam mudando. Éramos companheiros, e nossas almas estavam entrelaçadas de um jeito que só Selene compreendia. Aquilo era ainda mais especial para mim, porque a segunda chance raramente acontecia. Porém, naquele momento, nosso encanto foi quebrado pelo elo mental do Caleb, me informando que algo estava acontecendo com Andie. Meu instinto então foi ativado, e o Kael também sabia o que havia acontecido e logo também estava de pé.

— O que houve? — Luana perguntou.

— Preciso ir, algo aconteceu à minha filha, preciso chegar à minha alcateia. Kael, você leva a Victória com meu carro; vou pela floresta, vai ser mais rápido. — Luana então segurou meu braço, e sentimos aqueles leves choques percorrerem nossos corpos.

— Vou com você! — Ela não perguntou, ela afirmou. De certa forma, aquilo me deixou feliz.

Ela correu até o quarto e voltou com um vestido em mãos. Fiquei sem entender, mas enquanto meu beta foi com a feiticeira para o carro, seguimos para a floresta. Ela então me olhou, como se perguntando como devia fazer. Falei para ela lembrar da loba, e logo, aquela loba branca imponente estava diante de mim. Me transformei também e segui na dianteira enquanto ela me acompanhava. Percebi nesse momento que o vestido estava em sua boca.

Assim que chegamos na floresta atrás de minha casa, encontrei o Caleb e a Dafne me aguardando. Ambos se assustaram com a loba branca que vinha em meu encalço, e ambos se prepararam para se transformar, quando meu lobo fez sinal para que não o fizessem. Assim que me transformei, percebi que Luana parou atrás de uma árvore, e quando saiu já se encontrava vestida, surpreendendo aqueles dois que me aguardavam.

— Ela é uma loba? — Dafne quase rosnou.

— Não, isso foi apenas uma ilusão de ótica. — Luana falou, passando por ela, o que quase me fez rir.

Com meus sentidos de lobo, sei exatamente onde minha filha estava, então me dirigi até lá. Quando chegamos, encontrei a Andie desacordada em sua cama; seu rostinho estava deformado, e ela respirava com dificuldade.

— Andie, o que aconteceu? Quem é o responsável por isso? — Me desesperei.

O curandeiro chegou no mesmo momento, e estranhei ele só estar chegando agora. Mas logo a Luana tomou a dianteira da situação. Ela me pediu para deixá-la avaliar minha filha, e depois de alguns minutos, ela me olhou.

— Isso é um processo alérgico, Derek. Se algo não for feito, sua filha vai morrer. Não me pergunte como, mas acho que sei o que devo fazer. Você confia em mim?

Aquilo me surpreendeu porque mesmo a Andie não se transformando ainda, seu organismo se recuperava rápido por conta de sua genética. Algo estava errado em tudo aquilo, mas apenas confirmei a pergunta da Luana. Nesse momento, ela pediu para todos saírem do quarto, com exceção de mim. Quando a porta foi fechada, ela foi até a Andie e colocou a mão sobre seu corpinho, tocando-a. Ambas pareceram estar sendo eletrocutadas. Não durou muito, mas os olhos da Luana estavam completamente dourados, e ela gemeu de dor, indo até o banheiro ali próximo e vomitando. Olhei para minha filha, e ela estava completamente normal agora. Chamei o curandeiro pelo elo mental.

Quando ele entrou, fez um sinal para que eu verificasse como estava a Luana, e quando entrei naquele banheiro, percebi que ela não estava nada bem. O cheiro que senti era de acônito, ou o que chamamos de mata-lobo. Não senti o cheiro disso na Andie, mas pareceu que a Luana havia absorvido muito daquilo.

Minha companheira se segurava na pia, mas não aguentou por muito tempo; no entanto, antes de ir ao chão, eu a peguei em meus braços. Não sabia o que ela havia feito à minha filha, mas aquilo não fez nada bem para ela mesma. Se minha filha ingeriu aquilo que ela estava colocando para fora, provavelmente, se ela não tivesse feito o que fez, Andie não demoraria a morrer. Onde a Andie havia encontrado aquela planta?

— Papai? — Andie falou entrando no banheiro. — O que aconteceu com a tia Luana?

— Ela ficou um pouco dodói, mas logo vai acordar! Só precisa descansar um pouquinho, minha filha.

Peguei a Luana e a levei para meu quarto, sendo observado por todos. Victória me acompanhava até meu quarto, e quando coloquei a Luana em minha cama, ela segurou sua mão, tentando passar energia para minha companheira. No entanto, era como se a Luana não possuísse mais aquele poder. Ela estava totalmente apagada e fria. Porém, escutava seu coração bater, mesmo que lentamente agora.

— Ela precisa descansar, alfa! Ela salvou a vida da Andie. — O curandeiro falou.

— Como minha filha ingeriu aquilo, Paul? Não temos isso aqui em nossa alcateia.

— Quem quer que tenha dado isso a ela tinha um objetivo, alfa, destruir você! — Ele respondeu.

— E pelo jeito, a Luana salvou a Andie pela segunda vez. — Kael falou. — Começo a acreditar que ela não é sua companheira. — Nesse momento, meu lobo rosnou para ele. — Calma, amigo, ia dizer que ela estava mais para anjo da guarda da Andie.

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