Capítulo Extra — MEMÓRIA DE ANNY

Assim que meu irmão terminou de me falar aquilo, nossos pais e a Safira entraram na sala, todos muito preocupados. Quando expliquei a situação do meu irmão, minha cunhada ficou desesperada, e nunca vi meus pais tão arrasados. Depois de um tempo, me prontifiquei a ficar com meu irmão.

Eu e o Luan sempre encaramos as dificuldades que enfrentávamos de maneira leve, independentemente do que fosse. Nos conectávamos para tomar a melhor decisão em conjunto. Ele representava a lógica, e eu, a ação. Enquanto ele costumava pensar muito, eu preferia agir. Quando minhas ações eram impulsivas, ele estava lá para frear minhas decisões. Éramos um equilíbrio no geral. Agora, precisava descobrir o que havia acontecido com meu irmão.

O amor entre irmãos, por vezes, era a coisa mais difícil de entender. Havia momentos em que eu queria estrangular o Luan com as minhas próprias mãos, e cinco minutos depois, eu estava agarrada a ele, dizendo que não conseguiria viver sem ele. Ele sempre foi meu melhor amigo, meu mais fiel apoiador, a pessoa que mais me incentivou a perseguir meus sonhos. Como eu poderia viver sem ele na minha vida?

— Eu tenho algo para te contar. Mas promete que não vai contar nem ao papai, e muito menos à mamãe. Pelo menos por enquanto, quero deixar isso em off.

— Que seja algo ótimo, por favor! Depois do drama que minha vida está se tornando, quero pelo menos uma notícia boa.

— Eu queria falar com você sobre isso faz um tempo, mas a oportunidade nunca aparecia. Estou namorando. Na verdade, já ficava com o Will há algum tempo. Não te falei nada porque ainda não tinha dado um rótulo a isso, e você sabe como é a faculdade de medicina, e na pediatria tudo é ainda mais louco. Nem tinha esperança de que isso evoluísse, até ele me dizer que quer casar.

— Pera aí, irmãzinha, isso é sério? E eu pensando que você ia ficar para titia.

Nisso, ele começou a rir. Na verdade, tivemos uma crise de riso dentro daquela sala de hospital. Quem entrasse ali imaginaria que estávamos loucos. Depois de tantas notícias ruins, tínhamos algum motivo para sorrir. Porém, minha crise de riso evoluiu para uma crise de choro. Se me perguntassem se eu tinha medo de algo, diria, sem dúvida alguma, que seria perder meu irmão.

Minha relação com meu irmão era de alma. Perdê-lo seria como perder um pedaço de mim. E eu não estava preparada para aquilo. Então, simplesmente, ele segurou minha mão e me puxou para deitar com ele naquela minúscula cama de hospital.

— Calma, Anny. Eu sempre estarei ao seu lado. — Ficamos ali abraçados, e eu, mais do que nunca, desejando que aquela notícia sobre sua saúde não fosse real. — Me fale um pouco sobre o idiota que acha que está

— Por que "idiota", Luan?

— Porque ele não sabe da bomba-relógio que você é!

— O que você quer dizer com isso?

— Eu? Nada! O cara vai descobrir sozinho! — E ele continuou rindo.

— O único idiota aqui é você, irmão! O Will é maravilhoso, além de gentil e muito lindo. Ele também é médico, neurologista, e um dos diretores do hospital.

— Agora entendi o motivo dele pedir você em casamento. Isso vai servir de forma profissional para ele, a oportunidade de estudar um cérebro complexo. Ou vai ver, essa é a chance única que alguém terá de colocar juízo nessa sua cabecinha, já que ele é neurologista.

— Você é um imbecil, irmão! — E ele continua rindo.

Após duas horas, o Dr. Guilherme bate na porta do quarto e entra. Focamos no médico diante de nós, já equipado com máscara e luvas.

— Como você se sente, Luan?

— Bem melhor, doutor. — O médico olha desconfiado para meu irmão, segurando alguns exames nas mãos.

— As notícias que trago não são boas. Os exames comprovaram que sua situação está se agravando cada vez mais, porém ainda não foi positivo para nenhuma doença testada. Não podemos iniciar um tratamento sem comprovar do que se trata. Seria ineficiente e poderia causar mais danos que benefícios.

Meu raciocínio parou naquele momento. Meu irmão nem parecia ele mesmo, estava pálido, magro e com olheiras profundas. Parecia pior a cada hora que passava. Me perguntei se estamos preparados para o pior.

— Deu negativo para todas as doenças conhecidas. Mas o que quer que seja isso, está consumindo sua vitalidade, segundo os exames. É como se seu corpo estivesse combatendo a si mesmo. Alguma doença autoimune.

— Posso olhar os exames, doutor? — Perguntei, sem acreditar no que ele estava falando. Algo muito errado estava acontecendo, porque, aparentemente, meu irmão estava bem.

Ele me entregou os exames, e todos feitos na última hora pareciam piores que os anteriores. As taxas de Luan estavam despencando cada vez mais de forma inexplicável. Era como se a vida estivesse sendo sugada dele. Como médica, eu não conseguia entender o que estava acontecendo e estava tão confusa quanto o Dr. Guilherme.

Eles solicitaram fazer alguns exames de sangue em mim, já que fui quem esteve em mais contato com ele. Depois de algumas horas, meus exames chegaram totalmente normais. Então, eles ficaram mais tranquilos porque não era algo aparentemente contagioso. No entanto, alguma coisa estava lutando contra o organismo do meu irmão.

Depois de algumas horas em que ele estava melhor, a situação do Luan começou a se complicar. Ele começou a vomitar sangue, não era pouco sangue - eram golfadas e mais golfadas. Meu irmão mal conseguia respirar. Nada que fizéssemos parecia funcionar, até que do nada cessou. No entanto, agora meu irmão estava completamente debilitado.

O Dr. Guilherme solicitou então uma transfusão de sangue para ele. No entanto, quando o sangue começou a entrar em suas veias, meu irmão pediu que retirasse. Seu corpo parecia queimar, e ele não estava suportando. Se eu não fosse tão cética, diria que aquilo parecia bruxaria. Não acreditava nesses tipos de coisas. Na minha profissão, aprendi que só podemos acreditar naquilo que podemos comprovar, mas aquilo estava além de qualquer coisa.

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