HÁ UM ANO
Escutei meu telefone tocando enquanto estava tomando banho. Eram quase nove horas da manhã, e fazia pouco tempo que havia chegado do hospital, após um plantão agitado de 12 horas. Não me apressei. Quem quer que fosse, poderia esperar mais um pouquinho. Assim que terminei de sair, meu celular voltou a tocar. Pelo jeito, a pessoa era bem insistente. Ao olhar para a tela piscando, percebi que se tratava de minha cunhada. Normalmente, quando ela ligava e eu não atendia, deixava-me um recado, mas para ela insistir assim, algo deveria ter acontecido.
— Oi Safira, o que houve? — Perguntei assim que atendi.
— Você está no hospital, Anny?
— Larguei agora pela manhã. Estou em casa. Por quê?
— Acabaram de me ligar do celular do Luan, informando que ele desmaiou no fórum, no meio de uma audiência, e estão levando-o para o hospital. — Ela falou desesperada.
— Estou indo para lá agora.
Peguei a primeira roupa que vi à minha frente, calcei meus tênis e agarrei minha bolsa com as credenciais que vou precisar para ter acesso ao hospital.
Sou a irmã gêmea do Luan. Nossos pais desapareceram quando ainda éramos crianças e fomos criados por vizinhos muito generosos, a Sra. Ashley e o Sr. Antony Falcon, o qual aprendemos a chamar de pai e mãe. O Luan, era advogado. A família Falcon possui um escritório muito conceituado nessa área. Durante um período de minha adolescência me vi sendo puxada para esse ramo profissional, onde não teria muita dificuldade para crescer profissionalmente. Mas resolvi partir para área da saúde.
— Estou indo ao hospital. — Avisei a Samantha, minha amiga, enquanto já pegava a chave do carro.
— Você acabou de chegar de lá. Vai dar mais um plantão? — Ela perguntou, preocupada com meu bem-estar.
— Não. Emergência familiar. Meu irmão acabou de ser socorrido.
— Eu te levo. Do jeito que você está, não está em condições de dirigir.
A Samantha era o tipo de amiga em quem eu podia contar a qualquer momento. Nós dividíamos o apartamento, compartilhando vários momentos marcantes em nossas vidas. Um deles foi o pedido de casamento que Willian Miller, carinhosamente apelidado por mim de Will, me fez. Ele era um dos diretores médicos do hospital onde trabalhava. Sempre mantivemos nosso relacionamento privado. Eu não queria que houvesse comentários sobre o fato de eu estar me destacando na minha profissão devido à minha ligação com ele. Estávamos juntos há exatamente quatro anos: três deles enquanto ainda estava cursando a faculdade e mais um agora atuando na minha área médica.
Voltando ao meu irmão. Li uma vez num livro que irmão era aquela pessoa que te defendia de tudo e todos e, apesar das implicâncias, era ele que estava lá quando os outros implicavam com você. Pois é, essa frase definia bem minha relação de companheirismo com Luan. Desde muito jovem, Luan sempre tomou minhas dores para si, assim como eu sempre apoiei todas as suas decisões. Éramos o que chamam de 'unha e carne'.
Hoje ele estava casado há dois anos com a Safira. Mesmo nós dois morando em casas separadas, pois desde a faculdade dividia um apartamento com minha amiga, sempre que precisava comunicar algo importante à minha família, ele era o primeiro a saber. Sempre fomos cúmplices em quase tudo.
Assim que entrei no hospital, fui prontamente reconhecida pelas recepcionistas, então não fui parada. Ao questionar uma das enfermeiras de plantão, fui informada de que meu irmão deu entrada ainda inconsciente. Sua temperatura estava bastante elevada, e vários exames foram realizados, pois ninguém tinha conhecimento do que exatamente afligia meu irmão.
O motivo do chamado 'apagão' ainda era uma incógnita até que os resultados dos exames chegassem. Perguntei sobre o médico responsável e fui informada de que ele estava atendendo outro paciente, então resolvi aguardar. Assim que ele saiu do leito do paciente, a enfermeira me fez um sinal. Ao observá-lo, notei tratar-se do Dr. Guilherme, um médico com muitos anos de experiência.
— Bom dia, Dr. Guilherme. Sou a Dra. Anny Hailey, irmã do paciente Luan Hailey que chegou inconsciente e foi atendido pelo senhor.
— É um prazer conhecê-la. Bem, estou indo ao posto de enfermagem verificar se os exames de seu irmão chegaram. Você me acompanha?
— Com certeza — Respondi.
Após analisar os exames, ele me repassou para que eu pudesse verificar também. Eles mostravam que meu irmão estava com uma grave infecção.
— Bem, doutora, diria que a situação de seu irmão é bem grave. Fui informado de que ele recuperou a consciência há pouco, então vamos lá. Assim, posso fazer algumas avaliações mais específicas e solicitar outros exames para confirmar o que pode estar causando essa infecção.
Meus plantões loucos e a correria na vida do Luan não facilitavam nossa convivência. Falávamos sempre por telefone, mas ele nunca tinha relatado nenhuma queixa para mim. Assim que entramos no leito, o Luan, ao me ver, abriu um imenso sorriso.
— Só assim para encontrarmos tempo de nos ver, irmã. — Ele brincou.
— Preferiria que não fosse assim, Luan. — Ao perceber meu semblante, ele logo olhou para o médico.
— Sr. Luan, o senhor está com um quadro de infecção gravíssima. Ainda não descobrimos do que se trata, mas solicitarei alguns outros exames para podermos averiguar. O senhor tem apresentado algum sintoma anormal ou desconforto ultimamente?
— Tenho um quadro de resfriado recorrente. Mas sempre venho tomando vitamina C e um antitérmico por conta das dores no corpo e um pouco de febre. Tive também um sangramento nasal alguns dias atrás, mas acreditei que deveria ser por conta do clima.
Pelo jeito, aquele ditado que diz "casa de ferreiro, espeto de pau" se aplicava bem aqui. Sempre orientei o Luan a nunca se automedicar.
— Bem, vou ter que deixar o senhor internado para alguns exames complementares. Mas não vou mentir, sua situação, pelo que mostram os exames recentes, é grave. — O médico afirmou.
— Pela sua expressão, o diagnóstico não é nada bom, correto? — Meu irmão perguntou sem meias-palavras.
— Temos que aguardar os próximos exames.
— Anny, poucas coisas você consegue esconder de mim. Fui treinado para saber ler as pessoas, isso é importante no meu meio. Então, quais são as probabilidades?
— Nada bom, irmão. — Falei com os olhos cheios de lágrimas.
— Vem aqui, me dê um abraço! — Luan chamou-me.
— Eu não posso te perder. Acho que nunca estarei pronta para isso!
— Eu sempre disse a você que deveríamos estar prontos para tudo na vida, não apenas para os momentos bons. Os ruins também acontecem, e devemos fazer deles uma limonada.
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Atualizado até capítulo 90
Comments
Kerollen🌺
Será que ele estava passando pela transformação tardia e não resistiu.
2024-10-25
4
Jeanne Maezinha
ele morre né ja estou sentindo😭
2024-09-24
2
Vanusa Teixeira
autora por favor não me diga que ele vai morrer
2024-08-16
6