Capítulo 07§

Como fui idiota ao tropeçar nos meus próprios pés? Aquele lobo diante de mim era enorme. Em uma única mordida, arrancaria metade de mim. Quando ele se aproximou, fazendo um som estranho e me cheirando, fechei os olhos, aguardando o ataque que nunca veio. Após um tempo, abri os meus olhos, e o lobo estava me analisando.

Ele empurrou meus pés com o focinho, como se estivesse me incentivando a ficar de pé, então me levantei. Apesar de seu tamanho aterrorizante, ele era muito lindo, um mesclado de cinza com preto, e seus olhos tinham a mesma cor de cinza de seus pelos. Em meu coração, senti que não precisava temê-lo. Estiquei minha mão para tocá-lo. Precisava verificar se ele era realmente verdadeiro e não apenas coisa da minha imaginação.

Quando ele cheirou minha mão, levando seu focinho até ela, senti o ar quente que saía de suas narinas. Então, percebi que aquilo era realmente real. No entanto, sabia que, se comentasse com alguém, diriam que eu estava louca. Até eu acreditaria nisso se não estivesse sentindo a pelagem daquele lobo em minhas mãos. Não sei se era coincidência, mas senti o cheiro de cedro vindo dele, e aquilo me fez lembrar o homem do hospital. Por que será que ele ficou tão marcado em minha memória?

Meus guerreiros deram um fim naquele desgraçado. No entanto, a curiosidade os fez vir até onde estávamos agora. Quando ela os percebeu, assustou-se novamente, e eu rosnei para eles. Meus lobos a olhavam admirados; eles sentiam por meio de mim que estavam diante de sua Luna. Então, ambos abaixaram a cabeça e mostraram o pescoço em forma de respeito e submissão.

Ela olhava para aqueles cinco lobos admirada, mas logo rosnei novamente para todos eles partirem. Então, meu olhar voltou para ela, e meu lobo se aproximou de forma lenta para não assustá-la. Dessa vez, ela não estava com medo. Meu lobo levou seu focinho até sua mão novamente e a cheirou.

Aquilo era uma sensação maravilhosa. Ele se aproximou mais e roçou seu corpo no dela. Aquilo me fez rir. De forma possessiva, ele estava marcando ela com seu cheiro. Qualquer outro lobo que se aproximasse dela saberia que ela nos pertencia. No entanto, aquilo não era permanente. Logo ela perderia nosso cheiro, mas isso tornava meu lobo mais calmo.

Mesmo querendo permanecer ali com ela, sabíamos que não era um local seguro. Ele então, com o focinho, empurrou o corpo dela com delicadeza, a incentivando a seguir para a trilha.

— Você quer que eu vá embora, bonitão? — Ela perguntou para ele. O apelido o deixou feliz, e ele simplesmente ganiu para ela, o que a fez sorrir.

Ela chegou mais perto, ele abaixou a cabeça, e ela fez um carinho ali, o que fez ele se aproximar dela ainda mais e quase a derrubar no chão. Então, ela fez o inesperado… ela o abraçou.

Aquilo foi realmente surpreendente. Acompanhamos ela até que saísse da floresta. Aquele local onde ela mora, em sua maioria, também eram lobos de nossa matilha. Sei que nenhum renegado ousaria entrar ali, mas parecia que, ultimamente, alguém tinha o domínio deles, e eles perderam o senso do perigo. Precisava deixar toda a alcateia em alerta, para que ninguém se machucasse ou permitisse que chegassem perto de sua Luna.

No dia seguinte, cheguei cedo ao hospital. Muitos presentes ali se surpreenderam com minha chegada. Acreditava que eles não estavam cientes de que agora estarei à frente da direção daquele hospital, mas em breve todos saberiam. O maior motivo de ter chegado tão cedo ali era que queria acompanhar a chegada daquela que estava me enlouquecendo e enlouquecendo meu lobo.

Além da diretoria, o outro local comum a todos era a sala dos médicos, mas todos presentes ali sabiam que não poderiam ultrapassar aquela porta que dava acesso ao setor conveniado do hospital, a menos que realmente tivessem autorização. Ninguém queria perder o emprego, afinal, pagávamos muito bem.

Observei pela câmera a sua chegada ao hospital. A Luana era a mulher mais fascinante que já conheci. Muito comunicativa, parecia sempre ligada no 220V. Quando chegou à sala dos médicos, ninguém conseguia ficar muito tempo sem sorrir ao lado dela. Pelo que eu havia escutado sobre ela, parecia ser sincera e direta no que falava, não tinha meio-termo, mas conseguia passar o que tinha a dizer com suavidade.

Haveria uma reunião à tarde para que todos pudessem ser comunicados sobre a mudança na direção. Precisava averiguar todos os problemas que estavam acontecendo no hospital, principalmente se aquele idiota que estava roubando medicamentos estava recebendo ajuda de mais alguém de dentro. Ele sabia que teria que entrar pela área filantrópica. Caso contrário, seu cheiro seria identificado na área restrita aos lobos. Sozinho, ele não teria acesso a essas informações.

Olhei mais uma vez para aquela mulher e a observei conversando com um dos nossos médicos. A conversa parecia estar bem interessante. A vi sorrindo algumas vezes, e meu lobo rosnava para aquele outro lobo como se ele pudesse escutar, mas isso era impossível com tantas paredes nos separando.

Ele podia não nos escutar, mas através de nosso elo, todos eles conseguiam sentir minha raiva naquele momento. Quando pensei em convocá-lo pelo elo mental, minha porta foi aberta e por ela entraram Caleb, Kael, Andie e, de forma inesperada, a Dafne. Olhei para o Kael tentando entender aquela visita. Ele apenas deu de ombros.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Perguntei sem muitos rodeios.

— Viemos para sua posse. Agora você será o diretor do hospital. Viemos te prestigiar. — Dafne falou toda alegre, mas percebi que ela analisava minha sala.