Capítulo 06

Observei-a ir embora e meu lobo estava inconformado. Somente após perdê-la de vista é que olhei para o Kael, e ele tinha as mãos erguidas, insinuando que não tinha nada a ver com isso.

— Fique longe dela, ou não responderei por mim!

— Calma, amigo, tudo não passou de um acidente. — Ele se justificou.

— Você terminou com a câmera? — Perguntei irritado.

— Sim, já podemos ir se você já conseguiu tudo que precisava. — Ele disse com um sorrisinho no rosto.

Chegando em casa, cumprimentei minha filhota e fui direto para um banho. Precisava relaxar um pouco após a tensão que passei no hospital. A Anny não saía dos meus pensamentos, e eu não conseguia esquecer o seu cheiro. Acabei enchendo a jacuzzi, retirei minha roupa e entrei nela. Enquanto tentava relaxar, pensava nela, em seu olhar, em sua boca, em seu cheiro... quando percebi, estava com meu membro duro feito pedra.

Caralho! Como eu poderia relaxar se ela não saía dos meus pensamentos? Meu lobo parecia que enlouqueceria, querendo vir à tona. Precisava libertá-lo um pouco. Talvez a floresta o acalmasse por um tempo. Terminei abandonando a jacuzzi, coloquei uma roupa e resolvi correr um pouco. O fundo da minha casa era a floresta, e assim que saí, o lobo cinza imponente logo veio à superfície. Minhas roupas já eram.

Sentia a liberdade todas às vezes que minhas patas tocavam a terra e minhas unhas afundavam nela, pegando impulso para ir cada vez mais rápido. Sentia o vento entre meus pelos. Todos os sons se manifestavam na floresta durante a noite. A floresta ganhava vida, e essa liberdade me acalmava. A natureza falava, cheirava, reclamava, descarregava, se reabastecia. Tudo isso de forma obstinada, imperceptível aos sentidos humanos.

Me deparei com uma trilha e captei um cheiro que quase me enlouqueceu. Não era um cheiro de muitas horas atrás. Era um aroma fresco. Tentei seguir aquele cheiro, mantendo-me encoberto pela floresta, e, quando menos esperei, a vi.

Ela estava linda, vestida daquela forma, com suas roupas de corrida. Percebi que sua pele era alva e seu cheiro era inebriante. Mantinha um ritmo constante, não tão lento para uma humana, mas ainda assim, meu lobo precisava diminuir o ritmo. Ele apenas trotava agora, acompanhando-a com o olhar.

“Não pense em ir até lá! Isso a assustaria”. — Falei para ele.

“Nossa” — Ele repetiu para mim.

“Eu sei, seu idiota. Mas você não quer a assustar, quer?”

Ele estava chateado por não poder ir até ela. Me perguntei se ela não percebeu que já tinha entrado muito a fundo na floresta. Seria um alvo fácil para qualquer renegado. De repente, ela parou, retirou os fones dos ouvidos e analisou ao redor. Eu e meu lobo paramos também, e observamos. Era como se ela sentisse nossa presença. Isso me faz lembrar que ela também ouviu meu rosnado mais cedo para o Kael e ficou assustada pelo magnetismo de nosso toque, mas seu cheiro era apenas o de uma simples humana. O que será que ela escondia?

Capturamos outro odor. Dessa vez, meu lobo estava nervoso. Tentamos localizar de onde ele vinha. Pelo som de suas patas, sabíamos que não estava longe. O que temíamos estava prestes a acontecer, mas não permitiríamos que ele se aproximasse dela. Chegamos mais perto. A floresta estava escura. Sabia que, com sua simples visão, ela não conseguia ter dimensão do que se aproximava, mas meu lobo já detectara sua direção.

Ela voltou a correr, agora num ritmo mais acelerado. No mínimo, deve ter percebido que não estava segura, seu instinto devia estar agindo. Mas ela não era rápida o bastante para ele. Acionei meus guerreiros pela ligação mental. Em breve, também teria o apoio deles para a proteger. Novamente, ela parou, e dessa vez podíamos escutar seu coração martelando assustado. Estávamos bastante próximos, mas ele também estava, e não sabia como ela conseguiu enxergá-lo, mas seu olhar estava preso nele. Nesse momento, meu lobo assumiu totalmente o controle.

Um lobo é muito feroz ao proteger seu companheiro. Como alfa, esse sentimento de proteção é ainda maior e se estende a toda a alcateia. Meus guerreiros saberiam o que ela representava para mim, e eu não teria como esconder mais isso deles. Ela então percebeu nossa presença, olhou-me assustada, sem acreditar naquilo. Meu lobo era bem maior que ela, estávamos ao seu lado agora. Meu lobo ganiu ao se aproximar dela, mas o lembrei do perigo que ela estava correndo, então ele focou naquele que ameaçava nossa companheira.

Seus olhos eram dois pontos vermelhos naquela escuridão, mas agora ela estava protegida atrás de nós. Para ele alcançá-la, teria que passar por nós primeiro. De forma eficiente, ele foi cercado por meus guerreiros agora. Percebi o odor de sua raiva. Ele a queria e estava frustrado porque sabia que não a alcançaria mais. Rosnei para ele e me aproximei mais, porém o idiota decidiu me atacar.

Ele não tinha a mínima chance. Minha mandíbula o segurou pelo dorso e o sacudi para longe da minha companheira. Meus guerreiros, então, o atacaram. Ela começou a correr, não perdendo tempo com o que estava acontecendo na floresta. Seu instinto foi acionado, e fiquei satisfeito por isso. Ela não foi tola, esperando ao acaso.

Seu ritmo era ainda mais acelerado, mas quando percebeu o silêncio, ela parou novamente, agora olhando ao seu redor. Seu olhar inspecionava a floresta. Seu coração estava bastante acelerado. Senti o cheiro de seu medo, e meu lobo queria confortá-la. Estive acompanhando-a pela floresta, para que ela não acreditasse que estava sendo perseguida e seu desespero fosse ainda maior.

Então, enquanto ela vasculhava a floresta, meu lobo avançou um pouco na trilha. Quando seus olhos paralisaram diante de nós, percebi seu choque. Ela hesitou, demos um passo em sua direção, e ela acabou tropeçando em seus próprios pés, caindo sentada, ainda mais assustada.