Fui até o quarto da minha filha e a observei dormir. Ela era muito parecida com a Zaíra. Talvez alguns acreditassem que eu não fosse tão próximo da Andie, porque não demonstrava isso muito fora de nossa casa, mas amava minha pequena e a defenderia até a morte.
No começo, tudo foi muito difícil para mim. Imaginei que iria enlouquecer e, por muito pouco, não perdi meu rumo no processo. Enquanto estava tentando superar e me reerguer, minha filha me fazia relembrar cada momento que passei daquele inferno. Sei que era injusto com ela, mas não tinha como lembrar seu nascimento sem recordar a perda da companheira que Selene havia enviado para mim.
Saí do quarto da minha pequena e entrei direto no meu. Fui até a janela e pulei, sem me dar ao trabalho de usar as escadas. Meu quarto ficava no primeiro andar, mas com nossas habilidades de lobo, consegui aterrissar sem causar dano algum ao meu corpo.
Resolvi ir até a academia e me perdi em pensamentos. Relembrei a maioria dos momentos que vivi com a Zaíra: nosso primeiro encontro, nosso primeiro beijo, nossos momentos de amor, nosso casamento e seus gritos de sofrimento naquele hospital.
Me dei conta de que acabei de destruir mais um saco de areia. Esse era o quinto saco desde que cheguei aqui. Senti Kael tentando falar comigo pelo elo mental, mas simplesmente ignorei. Podia fazer isso como alfa, mas nenhum membro da minha alcateia podia me ignorar dessa forma. Permanecer naquele local não estava me ajudando muito, então caminhei para a floresta e tirei toda minha roupa. Precisava correr.
Hoje era o quinto aniversário de minha filha, mas isso também me fez lembrar que faz cinco anos que perdi minha Zaíra. Precisava colocar essa raiva para fora antes de poder parabenizar a minha filha como ela merecia. Sabia que ela estava crescendo e seria confuso para ela entender que não tinha como comemorar essa data com uma festa, mas pelo menos tentava tornar o dia dela especial.
Quando me transformei, senti a excitação pulsante percorrendo cada parte do meu corpo. Correr em alta velocidade pela floresta e poder sentir o vento bater contra meus pelos, trazendo consigo diversos tipos de odores, era a melhor sensação do mundo. Ali, em minha forma lupina, me sentia livre. Conseguia ouvir cada som com a audição apurada que meu lobo possuía, inclusive o som do meu próprio coração pulsando dentro do meu peito, na mesma velocidade que eu corria agora.
Depois de um tempo onde deixei meu lobo extravasar, voltei para onde havia deixado minhas roupas. Chegando lá, o Kael já se encontrava me esperando. Pela sua expressão, sei que não vou gostar das notícias. Kael é meu segundo em comando. Foi ele quem segurou as pontas quando não tive condições de responder pela alcateia e também foi ele quem me trouxe a razão quando a alcateia precisou do seu alfa, fazendo-me enxergar que a Andie também precisava de seu pai. Ele provavelmente deve saber que dia é hoje, então não teria vindo se o que tivesse para me falar realmente pudesse aguardar.
Meu lobo era quase da sua altura, mas ele não se intimidou por mim. Me transformei. A nudez não era um tabu para nós, lobos. Agradeci por pelo menos ele ter a decência de aguardar eu colocar minhas roupas, para então iniciar o falatório.
— Por que você continua bloqueando meu elo se sabe que só entro em contato quando realmente é importante? — Ele falou, irritado.
— Você vai contar o que aconteceu? Não estou com muita paciência hoje — falei, já o cortando. Sabia que estava sendo injusto com ele, mas hoje não era um bom dia.
— Que engraçado, você nunca está — então, parei e olhei para ele. Meu olhar já dizia tudo. Não estava para brincadeiras. — Tudo bem, alfa! Pegamos mais dois invasores ao leste, da mesma forma que os anteriores. Por mais que estivessem machucados, não paravam de atacar, como se não sentissem dor, apesar dos ferimentos causados por nossos guerreiros.
— Isso não faz sentido. Alguém sobreviveu? — Ele afirmou com a cabeça. — Peça para fazerem exames toxicológicos para verificar se conseguimos descobrir algo.
— Já tomei essa providência. Isso não é tudo, Derek... continuam sumindo medicações importantes do nosso centro médico. Recebi um relatório do Jones, nos comunicando o fato, mesmo após medidas de segurança serem adotadas pelo Caleb. São medicações importantes.
— O que o Caleb falou a respeito já que ele é responsável por solucionar esse problema?
— Ainda não falei com ele, alfa. Queria comunicar primeiro a você, porque sei que quando isso chegar a ele, ele vai me pedir para guardar segredo, e apesar de ser seu primo, você sabe minha opinião a respeito dele.
Kael Davis era o homem que escolhi para ser meu beta, aquele a quem eu confiava minha vida e sabia que não me decepcionaria. Kael tinha um dom que muitos humanos chamavam de sexto sentido. Ele conseguia avaliar o caráter de uma pessoa apenas olhando para ela. Certa vez, ele me falou que o Caleb, mesmo sendo meu parente e optando por ficar em minha matilha, me jurando respeito e obediência, não era alguém em quem poderíamos confiar.
O pai de Caleb, meu tio Alfred, era irmão gêmeo do meu pai. Ele era o alfa da alcateia, até que perdeu a companheira e quase levou nossa alcateia ao fim com suas loucuras. Meu pai o desafiou para um combate, e como ele não podia negar, lutou com meu pai e perdeu.
Normalmente, nesse tipo de combate, os lobos que lutavam iam até a morte. No entanto, meu pai não fez isso com o próprio irmão, que já havia perdido a companheira e tinha um filho pequeno. Meu pai o fez escolher entre ficar e jurar respeito e obediência, ou partir e virar um renegado.
Tio Alfred preferiu a segunda opção. Lobos sem alcateias por muito tempo acabam ficando loucos, vagando pela floresta e atacando qualquer um que encontram em seu caminho. Normalmente, esses mesmos lobos renegados eram mortos quando tentavam invadir o território de alguma matilha. Até hoje, ninguém sabia o que aconteceu ao tio Alfred.
— Explique a situação a ele, diga que já estou ciente e que, no final da tarde, vamos até o hospital verificar as câmeras instaladas. Agora, preciso tomar um banho para acordar minha filha e proporcionar um dia especial a ela.
— Ok, Derek. Avisarei a ele e estarei pronto, aguardando. Diga a Andie que passarei lá após o almoço para entregar meu presente.
Nesse momento, percebi que não providenciei nenhum presente para minha filha. Assim que entrei em meu quarto e antes de ir tomar meu banho, fui até o closet que pertencia à Zaíra. Olhei em sua caixa de joias e encontrei o cordão que ela nunca tirava de seu pescoço. O mesmo cordão que sua mãe a havia presenteado quando ela era apenas uma garotinha. Um cordão de ouro, com um pingente em forma de lua verde, a mesma cor de seus olhos e dos olhos de nossa pequena Andie. Aquele seria o presente perfeito para minha menininha.
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Atualizado até capítulo 90
Comments
Olhos de Girassol
lindo o amor dele pela filha
2025-02-07
0
Graça Barbosa
uma lembrança da mãe que ficará pra sempre com a filha, esse é um presente inestimável lindo esse gesto de amor dele com a filha ❤️❤️❤️
2024-09-23
8
Maria Aparecida Almeida
também queria descobrir o porquê.
2024-09-08
2