Que merda Real é essa?

Capítulo – Roxane

— “Grande Rei?” — repito, quando ela evita dar mais detalhes.

Minha maldita curiosidade sempre foi meu calcanhar de Aquiles.

E agora ela queima em minha garganta como ácido.

A mulher à minha frente — alta, magra, de aparência rígida — para de andar tão abruptamente que quase bato nela. Tropeço, me recomponho e murmuro um pedido de desculpas.

Mas ela não reage.

Seus olhos varrem os corredores, como se esperasse que algo... ou alguém... saísse das paredes.

Quando finalmente me encara, sua expressão não é só surpresa — é medo.

— Eu esqueci que você é nova por aqui... — diz, ajustando os óculos com mãos nervosas.

— Ele... — ela pausa, olhando de relance por cima do ombro — ...não é apenas o dono da universidade. Ele é dono de tudo. Do estado. Da polícia. Dos políticos. Da imprensa. Tudo responde a ele.

Sua voz sai num sussurro tenso, carregado de algo que não consigo definir — reverência, talvez? Ou terror disfarçado?

Engulo em seco.

Um nome que ninguém diz.

Um poder que ninguém confronta.

Um homem que não aparece, mas comanda tudo.

Sinos de alerta disparam dentro de mim.

Cada fibra do meu corpo grita: fuga. agora.

Mas eu não posso correr.

Ainda não.

O tio Marcus jurou que aqui era seguro.

Desde que eu me mantivesse nas sombras.

Desde que eu não chamasse atenção.

E agora tem um maldito rei envolvido.

Realeza e sobreviventes não combinam.

Especialmente quando o trono está envolto em sangue e silêncio.

Seguimos em silêncio por corredores que parecem mais antigos e vazios, como se o próprio prédio evitasse essa parte. As luzes são mais fracas aqui. As portas, mais grossas. O ar... mais denso.

Até que ela para diante de uma porta com placa dourada:

Profª Roxane Leclair – Artes Visuais

— Aqui é o seu escritório — diz ela, entregando uma pasta pesada. — Crachá, chave de acesso, login, senha, material. Três turmas estão sob sua responsabilidade. Mas… — seus olhos se estreitam. — ...a 1ºA3 é diferente. É a turma de elite. E será sua primeira aula. Dentro de trinta minutos.

Ela mal termina de falar e já sai correndo pelo corredor, como se morcegos do inferno tivessem mordido sua bunda.

Aula de artes para uma turma de elite?

Que tipo de elite é essa?

Artistas incompreendidos ou herdeiros com sede de controle?

Talvez o “Grande Rei” seja só um velho rico e ganancioso com complexo de deus.

Se for isso, eu consigo lidar.

Homens poderosos demais costumam cair igual.

O problema é quando o poder deles vem do medo que inspiram.

Respiro fundo.

Mas as memórias se infiltram como veneno na corrente sanguínea.

As dores fantasmas das cicatrizes ardem como fogo sob minha pele.

Fecho os olhos.

Mordo a língua.

Tranca tudo, Roxane. Não deixe nada sair.

Entro na sala.

Guardo meu capacete.

Organizo os materiais.

Leio os documentos.

Fingo que estou bem.

Mas meu corpo não me deixa mentir.

Tensiona.

Congela.

Alguém está me observando.

Mas não sinto intenção assassina.

Não é o tipo de ameaça que aprendi a reconhecer.

É outra coisa.

Levanto os olhos.

E através do espelho enorme na parede — um desses decorativos de canto —, eu o vejo.

Encostado casualmente na porta do escritório.

Não se move.

Não fala.

Não desvia o olhar.

Começo de baixo.

Pernas longas. Musculosas.

A calça jeans escura mal consegue esconder a força que existe ali — ou o volume absurdo entre suas pernas, como se carregasse um monstro sob o zíper.

Mas eu me forço a subir o olhar.

Foco, porra.

Camisa preta colada no corpo largo.

Braços como colunas de mármore negro.

Veias que saltam no pescoço grosso.

Tranças longas caem sobre o peitoral como serpentes.

E os olhos...

Olhos âmbar.

Ferosos.

Fixos em mim.

Mas não é desejo comum o que vejo ali.

É obsessão crua.

Fome silenciosa.

Reconhecimento.

Como se ele já me conhecesse.

Como se estivesse esperando por esse momento.

Como se eu fosse dele.

E ele só estivesse decidindo quando me reclamar.

Ele franze levemente a sobrancelha.

— Já acabou? — sua voz é rouca, grave, carregada de tensão.

Cada palavra parece gotejar sobre minha pele.

Quente. Pesada. Perigosa.

Não, não acabei. Me joga nessa mesa e me destrói, penso, mas reprimo com violência.

Endureço a expressão.

Levanto.

Viro para encará-lo de frente.

— Posso ajudá-lo? — minha voz sai firme, fria.

Ele parece surpreso.

Como se esperasse que eu tremesse.

Mas eu não tremo mais.

Só sangro por dentro.

Ele me analisa por mais um instante.

Lento. Profundo.

Como se estivesse decifrando minha alma.

Como se lesse todas as minhas camadas de dor com facilidade.

Então, ele sorri.

— Não.

Só estava curioso sobre a nova professora.

Acho que este ano será… fascinante.

E se afasta.

Devagar.

Como um animal que sabe exatamente o efeito que tem.

Como alguém que já me marcou mentalmente.

— Quem é esse maluco? — sussurro, quando ele some pelo corredor.

Espero que não seja um dos professores.

Ou pior: da tal elite.

Eu não preciso de mais problemas.

Já estou afundada até o pescoço com o Reitor maracujá murcho.

Não preciso de um titã de dois metros com olhos de fera e um ar de predador silencioso.

Mas...

Algo dentro de mim treme.

Não é medo.

Não exatamente.

É como se um eco antigo, escondido nas profundezas do meu instinto, reconhecesse aquele homem.

Como se dissesse:

“Ele é o perigo que vai te destruir…

…mas também é a única coisa capaz de te proteger.”

E isso é assustador.

E perigosamente tentador.

Homens são merda.

Todos eles.

Mas aquele?

Aquele não é um homem comum.

Ele é um presságio.

E presságios…

Sempre cobram um preço.

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