Saio de casa às pressas, caí na cilada da soneca de cinco minutinhos e apaguei por 20. Chego no ponto, e o ônibus havia passado, o próximo passaria daqui a meia hora e me atrasaria muito mais, ando mais um quarteirão e não vejo nenhum dos meninos do moto táxi.
Caminho frustrada para o próximo ponto de ônibus e no caminho uma moto encosta ao meu lado, agarro minha bolsa pressionando os olhos numa súplica.
ANALICE: Por favor hoje não! Não me assalte!
VÍTOR: Analice!
Olho aliviada e vejo que é um dos mensageiros do hotel.
ANALICE: Vítor! Que susto! Achei que fosse assalto.
VÍTOR: Não trabalha hoje?
ANALICE: Sim. Estou super atrasada, perdi o ônibus e nenhum dos meninos estão no ponto do moto-táxi agora. O que faz por essas bandas?
VÍTOR: Vim deixar um dinheiro pro meu filho que mora por aqui com a mãe. Venha comigo! Te dou uma carona.
ANALICE: Estava indo pro hotel também?
VÍTOR: Na verdade, acabei de largar do meu turno. Mais te deixo lá, vamos?
ANALICE: Vou aceitar sim! Obrigada!
Ele me entrega um capacete, subo em sua moto e ele me deixa na entrada dos funcionários do Belmond.
VÍTOR: Entregue! Ah! Pode me fazer um favor?
ANALICE: Claro!
VÍTOR: Pode guardar minha mochila com você? É meu novo uniforme, recebi esse ontem e iria levar para a costureira fazer uma bainha, mas acho que vou dar um mergulho, antes de ir.
ANALICE: Aproveita mesmo sua folga, o dia pede! Pode deixar que guardo. Ah! Amanhã é minha folga, mas você pede a Eline que ela tem a senha do meu armário e ela te entrega.
VÍTOR: Sem problemas, eu tenho outro uniforme, esse é apenas um novo que iria ajustar.
ANALICE: Ok! E Obrigada Vítor, você salvou minha pele!
VÍTOR: Disponha!
Dou uma corridinha e vou me trocar, encontro com Eline saindo do vestuário.
ELINE: Ana! Está atrasada! Inês já perguntou por você.
ANALICE: E o que você disse?
ELINE: Que você deveria estar no depósito.
Entro e começo a me trocar e Eline fica na porta vigiando se Inês apareceria.
ELINE: Este hotel está uma loucura nesses dias.
ANALICE: É a presença do Keanu e eu nem consegui vê-lo.
ELINE: Ele ficou aqui apenas três dias, também não consegui vê-lo.
ANALICE: E por que ainda tem esse tumulto de fãs lá fora se a J.Lo, cancelou o show e nem veio?
ELINE: É o grupo de atores asiáticos que estão aqui pro lançamento de um filme e um dos atores é o mais famoso aqui por suas séries. O Luke Klahan!
ANALICE: Quem?
ELINE: Não acredito que você não o conhece? Dá série: “Três corações”, “ Alquimia” e “Radar X” . Ele, eu consegui ver! Muito lindo e simpático, deu até um sorrisinho pra mim. Esbarrei com ele na entrada do restaurante.
ANALICE: Nunca ouvi falar em nenhum desses filmes.
ELINE: É série. Disfarça, Inês está vindo!
INÊS: Analice! Por onde andava que eu não te achava?
ELINE: Estava no quarto de um dos hóspedes que me cercou no corredor.
Minto apresentando meu sorriso mais dissimulado que nem sabia que tinha. Embora Inês é uma boa supervisora, nunca é bom vacilar com horários nas primeiras semanas de emprego, ainda mais se quero ser efetivada.
INÊS: Teremos reunião hoje às 17h, com a presença da governanta executiva que quer falar algumas palavrinhas com a equipe. Por hora, podem voltar aos seus afazeres.
Eline e eu pegamos nossos carrinhos e seguimos ao terceiro andar.
ELINE: Essa governanta é o cão em pessoa. Já viu ela?
ANALICE: Não!
ELINE: Cadê seu passe?
ANALICE: Droga! Esqueci de pegar ficou na bolsa da Júh recepcionista, ontem fomos embora juntas.
ELINE: Deixe o carrinho ai no canto e vá buscar logo, eu fico aqui de olho.
ANALICE: Tá! Você sempre me acobertando.
Dou um beijo em seu rosto e pego o elevador de serviço e vou até a recepção pego meu cartão de passe e retorno em um dos corredores um homem esbarra por mim passando como um furacão. Ele se desculpa sem ao menos olhar na minha cara, e pelo sotaque deve ser gringo, sigo meu caminho e vou para meus trabalhos.
...✴️...
Após a breve reunião das Cinco, com a Dora, a governanta cão, vi por mim mesma o que Eline quis dizer, além dela se parecer com um Buldogue francês literalmente, ela é super mal-humorada e grossa. Após falar meia hora de abobrinhas e criticar todos os funcionários de hospedagem ela dissipa o grupo para voltarmos aos nossos afazeres.
Por conta do meu atraso e dessa reunião, não fiz minha pausa do almoço para adiantar meu serviço e Inês me libera para um descanso. Não sinto mais fome as 17:30 da tarde, vou até meu armário, pego meu pacote de jujubas e subo pro meu cantinho secreto perto do heliponto.
Adoro esse lugar porque ninguém vem aqui, é calmo e a vista é incrível. Por hoje, só tenho que repor o estoque de produtos no carrinho e ir embora, pra casa descansar e curtir minha folga amanhã.
Estou viajando nos meus pensamentos no que devo fazer amanhã e vejo um rapaz andando de um lado ao outro feito barata tonta, deve ser algum hóspede riquinho e mimado fugindo dos pais, ele se aproxima no meu cantinho e me escondo observando do que ele fugia. Vejo uma mulher e alguns homens à procura de alguém, sinto sua aflição em ser descoberto e resolvo puxá-lo pra dentro do meu esconderijo.
Ele se assusta, e de perto vejo que é um homem feito e não um adolescente, faço sinal de silêncio, pois passava dois seguranças na hora e ele fica paralisado me olhando.
Ficamos uns 5 minutos, bem próximos agachados pelo pequeno espaço e fico olhando pela brecha até o pessoal sumir. Assim que vão embora, abro o compartimento saindo na frente.
ANALICE: Ei, Pode sair!
Ele sai, levanta e vejo que ele é bem alto, corpo definido de quem faz musculação, cabelo liso, bem preto, os olhos na cor de avelã um pouco puxadinhos deve de ser um asiático, está vestido como um turista havaiano de shorts, uma camiseta branca colada e outra camisa aberta estampada e com um all star branco.
Ao repará-lo imagino que realmente deve ser gringo. Fico sem saber o que falar e ele me solta um português com sotaque estrangeiro.
LUKE: Obrigado!
ANALICE: Do que você fugia? Por acaso fez algo de errado?
Ele me olha confuso e vejo que ele nada entendeu o que falei. Começo a fazer gestos tentando soltar um inglês...
ANALICE: I’m Brazilian! My name Analice and you?
Solto um inglês que nem eu entendo, na expectativa de saber de que país ele é, ele me solta um monte de frases em inglês e sei que ele domina o idioma.
ANALICE: Eu not inglês!
Tenho a ideia de pegar meu celular do bolso do uniforme e coloco no google tradutor, como vi ele falando bem em inglês coloco na tradução português e inglês e falo em português no áudio do tradutor que repete minhas palavras traduzindo no inglês.
ANALICE: Do que você fugia? Por acaso fez algo de errado?
Ele ouve e pega meu celular e faz o mesmo mudando a posição inglês x português.
LUKE: Não fiz nada de errado! Fugia de pessoas chatas.
ANALICE: Você é hospede aqui ou está de passagem?
LUKE: Hóspede!
ANALICE: Ok!
Neste instante aparece um segurança novamente e ele que vê e me empurra me pressionando na pilastra nos escondendo. Fico sem graça, pois ele está com as duas mãos sobre meus ombros, com o corpo praticamente colado ao meu e olhando de lado para ver o momento em que o segurança vai embora.
Estamos tão próximos que sinto sua respiração e seu perfume amadeirado, tenho uma sensação estranha e fico imóvel sem reação. Logo o segurança desce, e ele me solta se desculpando.
ANALICE: Bom. Eu vou indo! Fique o tempo que quiser, não virá mais ninguém aqui esse horário.
LUKE: My name is Luke!
Ele estende a mão e aperto, repetindo meu nome. “Analice”
Ele pega meu celular e fala no tradutor...
LUKE: Analice, Conhece um jeito de me tirar daqui sem que me vejam?
ANALICE: Você se esconde como se fosse artista! Rsrs
Ele me olha, aponta pra si e diz: Luke Klahan. Faço cara de estranheza e lembro que já ouvi esse nome hoje.
LUKE: Ator! Tailândia! Thai Drama: Radar x??
Balanço a minha cabeça em negativo, demonstrando que não faço a mínima do que ele está falando. Ele sorri e pede:
LUKE: Preciso sair disfarçado, ainda tem as fãs.
ANALICE: Aquela garotada que está de campana a semana toda é por você?
Ele faz que sim com a cabeça e começo a matutar...
ANALICE: ok! Espere aqui que já volto.
Volto para o vestiário dos funcionários e me troco, vou até meu armário e pego o uniforme de Vítor e coloco na minha bolsa.
Subo discretamente e entrego o uniforme ao tal Luke.
ANALICE: Aqui! Isso deve servir, é o uniforme do mensageiro.
Ele me olha de cima a baixo, agradece em português, me viro e ele começa a se trocar.
LUKE: Pronto!
Olho pra ele, e entrego o quepe e acho graça da calça pescando nele, vai ficar difícil esconder o sapato branco, mas é o que temos.
ANALICE: Então, vamos! Mantenha a cabeça baixa e venha atrás de mim.
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Atualizado até capítulo 61
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