A estrada que ligava a tribo Clermont até os Vaughn era uma estrada que se dividia em duas, para continuar até os Vaughn bastava que eu seguisse reto, porém porque eu cometeria o erro de voltar para o local onde fui expulsa, já não bastava ter sido expulsa de casa três vezes, estava na hora de conquistar um pouco do meu amor próprio. Uma leve curva acentuada para a esquerda e assim eu entrava agora em um caminho desconhecido.
A paisagem aos poucos mudava, as árvores que antes eram verdes e cheia de vida agora davam lugar a árvores secas, o bosque não se fazia presente ali, ao invés disso uma floresta sombria fazia companhia com a estrada que se tornava bastante tortuosa.
Foram horas dirigindo, quando por fim parei em um posto de conveniência o mesmo parecia abandonado e não quis entrar. A gasolina mostrava já estar na reserva e por mais que tivesse dinheiro, me recusava a gastar, pois não queria nem mesmo sonhar que tinha conseguido sobreviver com o valor que aquele homem me deu. A raiva consumia meu interior apenas por lembrar que um dia o chamei de pai.
Talvez mais uns trinta minutos de viagem e logo não teria nenhum pingo de combustível no carro, foi no exato momento que o carro parou de vez que vi aquele hotel a beira de estrada, sua fachada caída, o caminho até a sua entrada oficial abandonado com plantas secas e mortas. Não pensei duas vezes antes de arrumar tudo que precisava para seguir a pé com Ravi nos braços até aquele edifício. Sabia que pelo caminho que escolhi, não estava mais no território Clermont e tão pouco no território Vaughn, ali era algo novo e pela maneira como tudo estava morto era uma área abandonada.
— Quem é você? — A voz de uma mulher ecoou atrás de mim quando meus pés atingiram o primeiro degrau para entrar, me virei com receio de ser alguém perigoso, não sabia se conseguiria lutar e correr com meu filho nos braços, mas iria descobrir.
— Não quero confusão, apenas busco abrigo… Para mim e para meu filho. — Falei quase em um sussurro e nesse momento a mulher deu dois passos em minha direção, seus olhos treinados em minha postura e depois voltou seu olhar para Ravi que sorriu para a mulher.
— Aqui é um lugar bastante perigoso para vir com um bebê. Está fugindo de alguém? — Havia desconfiança em sua voz e nesse momento engoli em seco balançando a cabeça de forma negativa.
— Para fugir de alguém primeiro é necessário pertencer a alguém ou a um lugar… — Respondi ao abaixar meus olhos e encarar o rosto de Ravi que sorria.
— Não pude deixar de notar que seu filho possui olhos bonitos… Os típicos olhos de um Vaughn. — Aquela frase me fez travar, mal tinha chegado à porta de entrada daquele hotel e uma estranha reconhecia os olhos de Ravi assim tão facilmente.
— Ele pode ter os olhos de um Vaughn, mas carrega assim como eu a rejeição dele. Do seu pai e do meu companheiro. — Meus olhos se encheram de lágrimas contidas apenas esperando o momento para cair. Talvez ela tenha percebido que as coisas não estavam conforme ela imaginava, por isso ela se aproximou pegando as malas de minhas mãos e me deixando apenas com Ravi.
— Venha, eu sei como é ser rejeitada… A propósito me chamo Marjorie. — Ela subiu as escadas me chamando e pela primeira vez um sentimento novo tomou conta do meu ser, uma sensação de acolhimento.
— Siobhan Clermont e este aqui é Ravi Clermont. — Me apresentei de forma rápida, enquanto a seguia para dentro do hotel.
O exterior do hotel poderia estar caindo aos pedaços, ouso dizer até mesmo abandonado, porém o seu interior era diferente. Era bem cuidado, limpo e com decorações requintadas.
— Esse hotel está em minha família há gerações. Hospedamos os mais variados lobos, e não ligamos para a posição hierárquica. Gosto de pensar que somos neutros nesta briga por territórios. — Marjorie falou e quando me dei conta estava em frente a um balcão onde ela abriu um livro grosso, puxando a caneta para anotar.
— Vai ficar no quarto quinze, ele é o maior que temos e também possui um canto para o bebê. — Antes que ela terminasse de falar a interrompida.
— Eu não tenho dinheiro para lhe pagar… Sou uma renegada… — Minha voz falhou ao sentir sua mão quente em meu rosto, ela alisou minhas bochechas com cuidado e depois sorriu.
— Primeiro se acomode e descanse. Eu me lembro bem como é ter um filho recém nascido para cuidar, vamos pensar no pagamento depois. — Ela estendeu a chave em minha direção e o sentimento de gratidão dentro do meu peito foi inevitável.
— Siobhan, quando estiver pronta para me contar sua história, estarei aqui para ouvir. Até lá sua prioridade é descansar e cuidar desse bebê lindo. — Dito isso ela pegou novamente minhas malas e me guiou até o quarto onde agora seria uma espécie de casa para meu filho. Sorri em gratidão assim que entrei no quarto e quando acomodei Ravi na cama com os travesseiros igual Léo tinha feito no sofá, olhei a minha volta. Aquele lugar seria o meu recomeço, seria o nosso lar.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
ARMINDA
QUE ESTÁ MULHER POSSA AJUDAR SIOBAN A CUIDAR DE RAVI.
2024-09-24
4
Mellika Duarte
a rejeição é terrível
2024-08-29
3
Luciene Ferreira Basso
força garota.
2024-08-21
2