11 - A Gata Borralheira.

Não sei o que pensei quando vi os faróis na estrada, me desesperei, peguei Ravi e simplesmente corri para dentro da floresta até alcançar aquela caverna. Nunca passou pela minha cabeça que o dono daquele farol fosse o irmão de Harlan e tão pouco que ele fosse seguir meus rastros.

Ao passar pelo imenso portão onde antes fui barrada de entrar, meus olhos vislumbraram a vila mais linda de todos os tempos. As casas eram de alvenaria, havia trilhos suspensos por onde passavam os monotrilhos, as crianças corriam e brincavam na entrada das estações, os lobos ali na Vila Vaughn eram felizes e bem cuidados, isso com toda certeza explicava os muros. Na vila Clermont não se tinha o luxo que via ali.

Depois que Leo saiu me deixando sozinha naquela imensa casa com meu filho dormindo no sofá, eu caminhei explorando cada canto daquela casa e não vou mentir que a residência era enorme. Dois andares, cozinha ampla com uma bela ilha no meio, sala de jantar acoplada com a sala e cozinha, basicamente aquela casa não tinha paredes.

Por mais que quisesse deixar meu filho dormindo e explorar o resto da casa, me contive apenas a me deitar do seu lado no sofá após ajustá-lo em meus braços e adormeci.

Era um simples sofá, mas me senti nas nuvens ao deitar e quando acordei Ravi já estava com os olhos abertos olhando para o teto branco da sala, era tarde e percebi que Leo ainda não tinha voltado.

— Vamos tomar um banho, meu amor. — Sussurrei ao pegar Ravi e seguir em direção ao segundo andar onde entrei no primeiro quarto disponível.

Não sabia quem era o dono daquele quarto, mas o requinte e os lençóis brancos na cama indicavam que quase não era usado, estava muito organizado.

Com Ravi no colo, abri o chuveiro sentindo a água esquentar, aquela ducha era divina. Estava com ele debaixo da água quentinha, quando ouvi o barulho da porta no andar de baixo ser aberta, o som de vozes altas e risadas se fez presente. Até cheguei a pensar que Leo tinha voltado com algum conhecido, mas quando a porta do banheiro se abriu com o solavanco e o grito estridente de uma mulher me chamou a atenção.

— Harlan, porque tem um bebe no seu banheiro? — A mulher perguntou, mas a curiosidade dela virou gritaria. Ela gritava exigindo saber porque eu estava no banheiro do homem dela, porque estava ali com uma criança e que eu devia ir embora.

Havia uma sensação diferente no meu peito, era como se algo me puxasse em direção a porta e quando o homem por quem a mulher gritava surgiu atrás dela lhe abraçando pela cintura congelei. Ali estava o pai do meu filho, seu cabelo longo e dourado estava amarrado em um coque, seus olhos igual ao de Ravi mostrava que claramente era o meu companheiro ali, o homem a qual estava destinada.

— Invadiu a casa do Alfa, gata borralheira… — Sua voz estava arrastada, o cheiro de álcool se tornou forte naquele cômodo e Ravi que agora estava em meus braços segurava meu cabelo como se tudo à sua volta fosse o normal.

— Harlan… — Seu nome em meu lábios mais saiu como um sussurro do que um chamado.

— Mande embora essa cadela e depois venha pra cama! — A mulher falou tentando parecer manhosa e nesse momento o homem veio em minha direção segurando meu braço, no momento em que senti seu toque, mesmo que fosse com certa brutalidade foi como se um atrito tivesse ocorrido ali e dois imãs tivessem se grudado.

— Harlan, sou eu ! Siobhan… — Tentei falar, mas o aperto se tornou mais forte me fazendo gemer em dor e isso fez com que Ravi começasse a chorar.

— Ah pelos céus, cale a boca desse bebê infeliz. — A desconhecida reclamou e Harlan me olhou mais irritado ainda.

— Não conheço nenhuma Siobhan, agora sai dessa casa antes que eu te jogue ao meus lobos, sua vagabunda. — Cada palavra dele machucava meu coração, a mulher deitada na cama o chamando embrulhou meu estômago.

Tentei argumentar mais algumas vezes, porém ele se virou rosnando em minha direção e apenas com um movimento me jogou para fora do quarto batendo a porta em minha cara.

Se fosse possível eu diria que meu coração estava sangrando com tudo aquilo, a indiferença de Harlan doeu. Fiquei ali parada com Ravi nos braços ainda chorando olhando a porta fechada, minha mente ainda esperava pelo momento em que a lucidez surgisse na mente dele e abrisse aquela porta mandando embora a mulher lá dentro e me aceitando como sua companheira.

Tudo isso mudou no segundo que os sons dentro do quarto mudaram, os barulhos obscenos que começaram a passar pelas frestas da porta me fizeram descer as escadas ninando Ravi para que ele se acalmasse.