Desencontro
Um salão de festas enorme havia sido luxuosamente decorado para aquele evento que ela não queria. Por diversas vezes ela disse ao pai que não queria aquilo, que achava um desperdício de tempo e dinheiro e que seria melhor ele lhe dar alguma arma personalizada ou um veículo de última geração como o irmão dela havia ganhado.
Ela usava um longo vestido de festa rose com um belo bordado de pedras. Em sua cabeça repousava uma coroa, que ela poderia ver que se tratava de ouro branco com diamantes. Aquele foi o presente de seu pai. A cada convidado que chegava ela recebia presentes mais caros e luxuosos, mas não era aquilo que lhe enchia os olhos. Karol sempre se considerou diferente das outras garotas, porque ela sempre quis roupas confortáveis, carros e armas, seus melhores momentos eram nos treinamentos de lutas e armas.
Um suspiro involuntário saiu de seus lábios, ela estava muito entediada ali mas tinha que fingir que estava tudo bem ou teria que ouvir mais um sermão do pai sobre como se comportar como uma dama:
-Karol.
A jovem sorriu ao escutar a voz que tanto lhe acalmava:
-Seth. - Os olhos brilharam assim que pode encontrar os dele. - Que bom que veio!
-Bem, eu fui convidado, e como é para você, eu fiz o esforço. - O jovem de cabelos prateados tinha um leve sorriso. - E também…eu tenho algo para te dar, mas é muito simples, espero que goste.
Seth tirou uma pequena caixa do bolso da calça preta social e estendeu a direção da aniversariante que pegou o objeto encantada:
-Posso abrir?
-Claro.
Karol abriu a pequena caixa e encontrou um pingente dourado em forma de asas com uma pequena pedra verde no meio. Era fino e delicado:
-Eu não posso lhe dar a liberdade que você quer, não ainda, mas prometo ficar forte o suficiente para que você não tenha que se preocupar com isso.
-Obrigada Seth.
-Karol. - O jovem loiro que vestia um fraque branco se aproximou. - Nosso pai esta te chamando. - Olá Seth, espero que goste da festa.
-A festa esta encantadora, assim como a aniversariante. - Seth respondeu cortês.
-Fico feliz em saber disso. Logo a devolvo, nosso pai só quer apresentá - la a alguns convidados.
-Fico no aguardo. - Seth fez um breve cumprimento com a cabeça e se afastou.
-A quem o nosso pai quer me apresentar? Ele nunca fez isso antes. - Karol perguntou seguindo o irmão com um braço entrelaçado ao dele.
-São os donos daquela farmacêutica famosa que esta crescendo no mercado. - Ritchie respondeu.
-Isso me soa mais estranho ainda.
Os irmãos entraram em uma sala reservada onde o pai deles conversava próximo a um casal. Um homem de meia idade de cabelos castanhos claros, quase loiros, usando um impecável terno cinza claro e uma mulher de cabelos ruivos, que usava um belo vestido verde esmeralda. Se via de longe o quão refinado eles eram. Ao perceber a presença dos filhos, o homem loiro se aproximou com um enorme sorriso:
-Senhores, esses são os meus filhos, o Ritchie, vocês já o conhecem. Agora, essa é a minha princesa: Karol.
-Oh, minha deusa, ela é muito parecida com a falecida mãe. - A mulher falou ao se aproximar de Karol. - Você é muito linda Karol.
-Muito obrigada, senhora…
-Wesker, Virginia Wesker. E aquele é meu marido, Albert Wesker.
-É uma honra conhecê - los. Já ouvi falar muito de vocês.
-Espero que bem. - Virginia estava encantada pela jovem. - Ah também o meu filho, ele se ausentou por alguns instantes mas deve estar voltando.
-Perdão pela ausência, senhor Seifer. - Um jovem com cabelos acobreados como o de Virginia surgiu na entrada do recinto.
-Tudo bem Nicolas, você chegou na hora certa. - O senhor Seifer observou o recém chegado. - Essa aqui é a minha filha Karol, ela que será sua futura esposa.
Karol sentiu o chão sobre os seus pés se abrir. Esposa? Ela tinha ouvido certo? Aquele homem que tinha matado a sua mãe, estava a oferecendo para outra pessoa como um objeto? Não, não podia ser. Ela não acreditava que seu pai iria tão baixo:
-Nossa, ela é tão linda quanto o senhor informou. - Nicolas se aproximou de Karol e lhe estendeu uma mão. - Estou encantado em conhecer a minha futura esposa.
Karol observou o rapaz a sua frente e o cumprimentou cordialmente, afinal, se não o fizesse quando chegasse em casa seu pai poderia castigá-la. Ela sabia da existência de Nicolas, ele era o rival direto de Ritchie e o irmão sempre contou o quanto o rapaz a frente dela era uma pessoa difícil de se lidar, sem falar da fama ruim que ele possuía. A imagem perfeita dele era apenas para quem não o conhecia de verdade:
-É um prazer conhecê - lo. - Rapidamente ele tirou a mão de dentre a dele. - Bem, eu devo voltar para o salão, ainda há convidados com quem não tive a chance de conversar.
-Nesse caso, eu posso acompanhá - la?
-Não vejo o porque não.
Ela voltou para o salão em silêncio. Não queria aquele cara nojento perto de si, por isso no resto daquela noite, ela passou dançando com diversos convidados. Como estava dando atenção a diversos conhecidos do pai, ele não iria reclamar e ela teria a segurança necessária para ficar longe dos olhos de Nicolas.
De repente, Seth se aproximou com um olhar que ela conhecia bem. Os dois passaram muito tempo treinando juntos, então ela poderia dizer que ela e o soldado se conheciam muito bem. Ele a convidou para uma dança e pela primeira vez naquela noite ela se sentiu relaxada:
-Obrigada por vir dançar comigo. - Karol agradeceu.
-Não é só por isso. - Os olhos de Seth varriam todo o espaço a cada passo da dança. - O corpo de uma funcionária foi encontrado na saída de emergência.
-Como assim? - Karol ia parar a dança, mas Seth continuou a guiando.
-Continue dançando. - Seth pediu. - A pessoa que cometeu o assassinato não disfarçou o que fez, não teve cuidado algum. - Ele suspirou. - Fique onde os meus olhos possam te ver.
-Não precisa pedir. - Ela sorriu. - Seth, eu tenho algo sério para te contar.
-Isso tem que ser agora ou pode esperar o nosso treinamento amanhã?
-Eu não sei…
-Venha comigo. - O soldado a encaminhou até a mesa do buffet, que estava vazia no momento. - Conte.
-Meu pai acabou de me arrumar um noivado. Eu não quero me casar, Seth, eu quero seguir carreira militar.
Assim que fechou a boca, Karol notou uma presença às suas costas e ao se virar encontrou Nicolas, com um sorriso gentil:
-Vejo que esta livre, será que agora eu teria a honra de dançar com a minha noiva?
-Vamos, essa será a minha última dança.
Diferente dos outros homens com quem havia dançado. Nicolas a segurava com força e fazia questão de deixar bem claro que ele a guiava nos passos. A jovem sentiu a mão do ruivo deslizar algumas vezes por sua cintura, como se analisasse o corpo dela e ela sentiu - se incomodada com aquilo. O olhar dele era de pura cobiça. Era nojento demais para ela se manter próximo dele.
Com muita força de vontade, ela suportou até o final da música. E assim que o último acorde soou, ela agradeceu rapidamente e saiu correndo dali. A sua cuidadora percebeu que ela não estava bem e providenciou para que ela fosse retirada do local em segurança.
Já no carro e em segurança com dois seguranças e a cuidadora, ela suspirou aliviada. Já era ruim estar em um evento social cansativo, e aquela ideia do pai dela tinha piorado tudo de vez. A mulher de meia idade que cuidava dela desde que havia nascido, estava com um semblante sério:
-Senhorita Karol, esta tudo bem? - Liz perguntou para a jovem que estava quieta a sua frente.
-Não está. - Karol olhou séria para a cuidadora, que era uma das poucas pessoas em que poderia confiar.
-Quando chegarmos em casa, quero que me conte o que a incomoda. Não é bom que se sinta mal após uma festa tão linda feita pelo seu pai. - A mulher morena, com um vestido azul marinho, completamente fechado, falou carinhosamente.
-Liz, você sabia do plano do meu pai de me casar com o filho da família Wesker?
-Ele me contou hoje pela manhã, senhorita Karol.
-E por que não me contou? - Karol estava perplexa.
-Eu não podia contar, senhorita. - Liz tinha um semblante triste.
Das poucas pessoas que Karol poderia contar na vida, Liz era uma dessas pessoas. A cuidadora sempre a ouvia e era uma pessoa que Karol poderia ter total confiança. Liz havia sido mais mãe de Karol do que a própria mãe biológica, já que a mãe de Karol sofria de depressão e mais ficava isolada do que por perto dos filhos.
A viagem seguiu em silêncio profundo e logo que entraram no quarto de Karol, Liz segurou a moça pelos ombros:
-Karol, o que eu vou te propor é uma loucura, eu sei, mas por favor só me ouça. A família Wesker é muito suja, eles não tem ética e o padrão deles é horrível. Imagino que você tenha ouvido da jovem que foi encontrada morta na saída de emergência, eu vi quem foi e se não acreditar em mim amanhã você pode ter a sua resposta, mas por favor Karol… - Liz começou a chorar. - Você é como uma filha para mim, eu não quero que vá parar nas mãos de um assassino cruel.
-Liz… - Karol observou a cuidadora pasma.
-Eu tinha ido à cozinha e aproveitei para olhar ao redor. - Liz chorava compulsivamente. - Como tudo estava sob controle, eu fui procurar a minha irmã mais nova, o pessoal da cozinha havia me avisado que ela tinha ido tomar um tempo porque não estava se sentindo bem… Logo imaginei que ela tinha ido para fora pela saída de emergência mais próxima, foi então que escutei passos. Eu o vi limpando as mãos no avental dela, ainda com a calça aberta… - A mulher chorou mais.
-Espere Liz, quem fez isso? Quem você viu naquele corredor? - A jovem estava surpresa.
-Foi o senhor Nicolas.
-Não podemos deixar isso impune! Eu vou falar agora com o meu pai! - Karol ia tirando as mãos de Liz dos seus ombros mas essa apertou mais forte.
-Seu pai não vai se importar com a morte de uma simples ajudante de cozinha.
-Mas era a sua irmã e você é importante para mim.
-Você não entende, senhorita… Seu coração é tão puro e inocente, não entende como as pessoas com mais dinheiro tratam os seus empregados. - Liz acariciou o rosto de Karol. - Você é como uma filha para mim e não quero nunca que passe por algo ruim, então por favor senhorita, fuja desse homem, fuja desse casamento o máximo que puder.
-Mas como? - Karol sentia o desespero surgir. - Eu não conheço nada do mundo lá fora e a segurança da cidade é toda controlada pela Companhia Seifer.
-O Senhor Ritchie vai nos ajudar. - Liz tinha um olhar esperançoso. - Por favor senhorita…
Karol sabia que tinha algo errado com a família Wesker, eles eram perfeitos demais, e tudo que era perfeito demais escondia coisas muito podres. Ritchie havia comentado com ela sobre a personalidade ruim de Nicolas, das coisas que o ruivo fazia com os empregados da faculdade que eles frequentavam juntos e o que algumas garotas relataram sobre o que Nicolas faziam com elas. Ela só não imaginava que o herdeiro dos Wesker poderia assassinar alguém como um psicopata.
A jovem segurou as mãos da cuidadora entre as suas:
-Prepare as minhas coisas, eu vou conversar com o Ritchie.
-Sim, senhorita.
Apressada, Karol saiu do quarto e foi para o quarto do irmão, já o encontrando usando roupas casuais, mas o que chamou sua atenção foram as duas armas personalizadas em cima da cama:
-Ah, que bom que veio. - Ritchie encarou a irmã. - Por que diabos já não se trocou?
-Me explique o que vamos fazer primeiro.
-Eu vou te levar para para cidade mais próxima, de lá você vai para o país vizinho. Você vai sair daqui disfarçada como um soldado e vai entrar no transporte como um. Vai ter um segurança da minha confiança te protegendo até a fronteira, de lá, dê seu jeito para desaparecer sem deixar qualquer rastro. Vou tentar convencer de que você foi morta em um atentado, assim o Nicolas não vai te encher a paciência.
-E se o velho não cooperar?
-Ele não vai cooperar mesmo, mas não se preocupe com isso, eu vou dando o meu jeito por aqui. Agora Karol. - Ritchie se aproximou da irmã e segurou suas mãos. - Isso é para sua segurança. O que ele fez hoje foi só um aviso do que ele pretende fazer com você, então aproveite esse tempo para ficar muito forte.
-Eu prometo ficar.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Maria Gabrielly Oliveira marinho
estou gostando otima criatividade 👏👏👏👏👏👏👏👏👏
2023-10-29
2
Marcia Ramalho Mecias
achei o começo meio puxado
2023-06-18
0
Aline
achei o começo interessante
2023-04-23
1