Capítulo 20 Narrado por Romina

Conversar com a Vick era tão fácil, a cada resposta que ela dava, eu a conhecia um pouquinho melhor. Ela me perguntou em que eu era formada.

— Eu estudei moda, queria ser estilista. E você, por que escolheu Artes Plásticas? — Eu perguntei para Vick e vi os olhos dela brilharem.

— Porque eu gosto. Gosto disso tudo, sabe, eu gosto das possibilidades de transformar todas as minhas emoções em algo bonito e que as pessoas possam interpretar à sua maneira. Uma tela em branco é um convite a descobrir novos mundos. Por que você disse que queria ser estilista? Você desistiu? — Ela me perguntou. Não é que eu tenha desistido, só priorizei outras coisas.

— Não é que eu tenha desistido. É só que esse sonho ficou antigo e já não ocupa um lugar no meu presente. E você, o que pretende fazer quando terminar o curso?

— Não acho que seu sonho esteja no passado. Você trabalha em um lugar que vive para a moda, recebe em mãos todos os dias várias coleções feitas por diversos estilistas, e duvido que quando você pega um modelo de vestido ou qualquer outra coisa, você não fale "se fosse eu que tivesse desenhado, não faria desse jeito, não usaria essa cor". Você diz que seu sonho ficou antigo, mas os sonhos nunca envelhecem e nunca ficam ultrapassados, são como peças de xadrez. Você pode ficar dez anos sem jogar uma partida, e quando você volta, as peças se encaixam nos mesmos lugares de antes. — Ela disse, me fazendo refletir. E o que ela disse me comoveu.

Quando eu ia responder, a Silvina apareceu e perguntou se queríamos mais alguma coisa. Vick disse que não e eu concordei com ela.

— Vem comigo. — A Vick falou. Eu levantei, a seguindo.

— Pra onde? — Eu perguntei.

— Vou te mostrar minha casa. — Ela disse sorridente.

Ela me mostrou o escritório da mãe dela, a sala e quase todos os cômodos.

— Meu quarto você já conhece, né? — Ela me perguntou, já sabendo a resposta.

— Sim, eu conheci o quarto antes de conhecer a dona dele.

— De qualquer forma, vamos entrar. — Ela disse, pegando minha mão e me puxando para dentro do quarto dela.

Eu observei o quarto dela e achei que ele ficou muito mais aconchegante com a presença dela.

Ela era super organizada.

— Tá vendo, se eu destruí sua obra de arte? — Ela me perguntou, sorrindo.

— Você é a única obra de arte que eu vejo. — Era pra ser só um pensamento, mas acabei falando em voz alta. Vi ela me olhar de maneira travessa.

— Cuidado, se você continuar falando assim e me olhando dessa maneira, vou acabar achando que você está afim de mim. — Ela disse, brincando.

— Uau, eu não sabia que você se achava tanto assim. — Eu falei, e ela me olhou.

— Você quer ver meu estúdio? — Ela me perguntou, mudando de assunto.

— Quero. — Eu falei pra ela.

A Vick veio até mim, colocou a mão sobre meus ombros e me levou até o seu estúdio.

— Pode entrar. — Ela disse, abrindo a porta.

Eu observei cada pedaço daquele lugar.

No meio do quarto tinha um piano e algumas partituras. E no resto do quarto, tinha telas, algumas em branco e outras com desenhos incríveis.

Eu me perguntei mentalmente se ela tinha feito tudo isso desde que voltou de viagem ou se ela já tinha feito antes.

— Quando fico chateada, costumo desenhar e pintar. Recentemente, andei bem chateada. — Ela disse, apontando para os quadros.

— Você é muito talentosa, Vick. Isso tudo é incrível. — Eu falei.

— Obrigada — Ela falou, me mostrando todas as suas telas e me contou um pouco sobre cada uma. Ela me mostrou seu portfólio, e os desenhos eram incríveis.

Pedi a ela para tocar uma música.

Ela tocou e cantou a música "Avant toi".

Deu vontade de aprender a falar francês só pra saber sobre o que era a música.

Só sei que ficou incrível na voz dela, e ela toca maravilhosamente bem.

— Tem alguma coisa que você não saiba fazer? — Eu perguntei para ela.

— Tem várias coisas que eu não sei fazer. — Ela disse, me olhando.

— Cite pelo menos uma.

— Eu não sei nadar — Ela disse. Eu me perguntei como uma pessoa que tem uma piscina em casa não sabia nadar.

— Por que você não faz aula para aprender?

— Já tentei aprender, mas não consegui.

— Se você não aprendeu é porque você teve um péssimo professor.

— Você sabe nadar? — Ela me perguntou.

— Sei.

— Então me ensina. — Ela me pediu.

— E o que eu ganho com isso? — Eu perguntei, mas ia ensiná—la de qualquer jeito.

— O que você pedir! — Ela disse, e juro que pensei bobagem de novo.

— Qualquer coisa?

— Sim — Ela respondeu.

— Então você me ensina a dançar e tocar piano, e eu te ensino a nadar.

— Eu topo, mas você tem que me ensinar outra coisa. — Ela disse.

— Que outra coisa? — Eu perguntei, curiosa.

— Eu vou te ensinar duas coisas, e você só vai me ensinar uma. Então, quando eu pensar em outra coisa pra você me ensinar, eu te falo. Ou a gente pode aprender alguma coisa juntas.

— Tá bom.

— Então vamos. — Ela disse e saiu, me puxando.

— Eu não trouxe biquíni. — Eu disse a ela.

— Eu tenho biquínis novinhos, você pode escolher.

Vinte minutos depois, estávamos nós duas na piscina, enquanto eu tentava ensiná—la a boiar.

Minha mão estava nas costas dela, enquanto ela estava de olhos fechados. Era incrível a maneira como confiava em mim.

— Bom dia, meninas. — A senhora Paola disse.

E a Vick levou um susto e acabou afundando. Eu e Paola rimos dela, e ela jogou água em mim e na Paola.

— Vamos entrar, o almoço está pronto. — A Paola disse e entrou. Eu saí da piscina e peguei uma toalha para mim e outra para Vick.

Ajudei—a a sair da piscina e entreguei a toalha.

— Você está bem?

— Sim — Ela disse, se enrolando na toalha.