Finalmente o sábado chegou. Como não tenho aulas de dança hoje, optei por dormir até mais tarde. Pelo menos foi o que eu planejei, mas infelizmente nem consigo dormir até tarde. Alguém abriu as cortinas e a claridade tomou conta do meu quarto, me fazendo acordar e cobrir a cabeça com o edredom.
— Filha, levanta, já está tarde - disse minha mãe puxando o edredom devagar.
Demorei um pouco para me acostumar com a claridade.
—Bom dia mamãe - disse me sentando na cama.
— Eu trouxe o seu café - apontou ela para a bandeja.
— Obrigada, depois que eu tomar banho eu como - respondi e ela se sentou na beirada da minha cama.
— Você está chateada comigo? - ela me perguntou olhando para a janela.
Eu não estava chateada com ela, estava chateada comigo mesma, porque não era mais digna de confiança. Fiquei triste com ela, não pelas palavras ditas, mas pelo silêncio. Ver a incredulidade nos olhos dela, o desapontamento, aquilo me machucou.
— Não, eu me senti mal - disse deixando as palavras ficarem entaladas na garganta. Levantei-me e caminhei em direção ao closet para pegar a minha roupa e ir tomar banho.
— Me desculpa, filha, só não quero te ver mal de novo - disse ela.
— Eu sei, mamãe, e te agradeço muito por tudo isso - respondi a ela.
— Mas fiquei um ano longe da senhora. Tive que me controlar muito para ficar longe das drogas e do álcool. E a única coisa que me dava forças era saber que a senhora acreditava em mim - continuei segurando as lágrimas.
— Filha, eu sei que foi difícil e é por isso que eu tenho medo de você voltar aos velhos vícios - respondeu ela.
Então era isso, se eu ficasse perto demais, poderia ceder à tentação.
— Um dia antes de viajar, um amigo meu apareceu lá em casa com uma garrafa de vinho, e era o meu favorito - contei e vi o medo nos olhos dela. - Ele perguntou se eu deixaria ele entrar ou se ficaria babando por ele. Mas eu não estava babando por ele. Ele entrou, foi até a cozinha e voltou com duas taças de vinho. Sabe mamãe, quantas taças eu bebi? - perguntei derramando algumas lágrimas. Ela ficou em silêncio.
— Nenhuma taça, mamãe, não bebi uma gota de vinho. Derrubei as tuas taças no chão da minha sala - falei e ela me olhava nos olhos.
— E no outro dia eu saí com o Juan, o meu professor de dança. Eu não sabia para onde íamos e quando ele disse que iríamos a um bar, pensei em dizer não. Mas eu não vi problema e o acompanhei. Chegando lá, pedi um suco de morango com menta. Nem cheguei a beber o suco. Liguei para a Silvina e pedi para ela chamar um motorista, não porque estava bêbada, mas porque estava cansada e a única coisa que queria era voltar para casa e descansar - continuei e nos olhos da minha mãe vi o arrependimento.
— Filha, me perdoa, eu não deveria ter agido daquela forma - disse ela chorando.
—;Eu já te perdoei, fui eu quem te deu motivos para não confiar em mim. Só colhi o que eu plantei - respondi abraçando-a.
Depois fui tomar meu banho. Fiquei embaixo da água fria e deixei que ela levasse todas as minhas lágrimas embora. Desejei que aquela água afogasse todas as lembranças do meu passado. Não sei quanto tempo fiquei lá, mas foi tempo suficiente para minhas mãos ficarem brancas como papel e meus dentes rangerem de frio. Enrolei-me na toalha e deitei na minha cama, me cobrindo com as cobertas. Tentei me aquecer e acabei cochilando.
Acordei com batidas na porta e, ao me levantar, percebi que estava só com a toalha no corpo. Me aproximei da porta e perguntei: — Quem é?
— Sou eu, vim pegar a bandeja - respondeu Silvina. Procurei a bandeja com os olhos e a vi na penteadeira.
— Ainda não tomei café, quando descer, eu levo - falei.
— Então está bom - respondeu Silvina.
Peguei a roupa que tinha separado e vesti, era uma roupa simples. Me aproximei da bandeja e sorri ao ver o suco de morango com menta, esse suco tinha se tornado o meu favorito e isso graças a Romina. Sorri ao lembrar da cara que ela fez quando mamãe me chamou de "amor".
Não a vi mais desde aquele dia, provavelmente a veria hoje na festa. Tomei meu café e desci com a bandeja exatamente como tinha dito que faria. Silvina me disse que minha mãe tinha saído, segundo ela, tinha ido buscar meu vestido para a festa.
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Atualizado até capítulo 57
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