Bangkok, Tailândia 2019
O amanhecer surgiu uma vez mais, denunciando o início de mais um dia infernal naquela delegacia, a manhã estava fria com raios de sol tímidos. Algo se movia inquieto na cama, entreabrindo os olhos devagar, permanecendo algum tempo ainda deitado a mesma, apenas a observar o semblante adormecido do garoto que repousava tranquilo agarrado a seu corpo, e subitamente, muitos pensamentos inundaram sua mente, como o seu casamento, que já tinha data marcada; mas dúvidas o assombravam.
Permaneceu fixo no teto, mas logo tratou de levantar para ir trabalhar na delegacia de polícia Civil tailandesa.
Caminhou em direção ao banheiro, onde ficou debruçado na pia, olhando seu próprio reflexo no espelho, e concluiu que estava mas cansado do que nunca, e rezou internamente para que hoje o dia fosse tranquilo. Passou a mão em seus cabelos pretos, para tirá-los do seu rosto magro, ele não se achava bonito, apenas uma pessoa normal, baixo e magro para um policial.
Quando finalmente tomou seu banho, demorou mais do que o previsto. Saiu já com sua farda, pegando o secador para arrumar seu cabelo, depois de tudo feito, seguiu para cozinha, para preparar seu café da manhã; o apartamento não era tão grande, bastava passar por um corredor, e já chegava na mesma. Alguns minutos sozinho no escuro da cozinha, cuja a unica iluminação fraca, vinha apenas da pequena janela, mas não demorou para que ele percebesse que passos se aproximavam de si.
— Amor? Por que está aqui sozinho no escuro? — Mark pergunta enquanto esfrega os olhos
Mas ele não respondeu, apenas o observou se aproximar, com o corpo parcialmente desnudo, a mesma calça jeans aberta da noite passada e seus cabelos pretos levemente bagunçados; deslizou seus olhos por suas tatuagens, a do peito, pescoço e em especial a do braço, cujo havia estampado ali em letras elegantes o seu apelido "Jimmy"; e mais uma vez duvidas apertavam seu peito.
Mark se aproxima, e o abraça por trás, entrelaçando uma de suas mãos, aos finos dedos do menor, enquanto a outra abraçava sua cintura. Mark deixava leves selares em seu pescoço e o fazia arrepiar levemente. Mas antes que pudesse acontecer algo a mais, Jimmy se desvencilha de seus braços, pegando a xícara de café já pronta, e andou a passos apressados até a mesa.
Mark apenas o seguiu em silêncio, se sentando na cadeira a sua frente e logo começa a falar sobre o suposto casamento.
— Já está quase tudo pronto, temos que decidir o sabor do bolo — Ele dizia com um largo sorriso — Temos que ir esse final de semana para a prova, se não, não haverá bolo em nosso casamento.
A mente do menor vagava na incerteza, enquanto ele tentava inutilmente prestar atenção ao que o maior dizia; o som de sua risada fraca o inebriou, mas antes que ele pudesse dizer algo, o som de um notificação rouba a atenção. Uma mensagem em seu celular fora o suficiente para romper a tenção
Parceiro homofóbico |Vamos florzinha, está atrasado! já temos trabalho a fazer, vocês bichinhas acham que podem fazer o que quiser|
O ser encantador que o apressava, era seu parceiro Pound, e para a infelicidade do pequeno, ele tinha que aturá-lo diariamente o dia inteiro, mas poderia ser pior, não é?
— Quem é? — Mark pergunta sério
Jimmy apenas ignorou a mensagem e saiu correndo, antes que ele resolvesse o tirar de casa, mas de longe, ouviu Mark gritar algo, que o fizera parar para observá-lo.
— Eu te amo.
Jimmy se virou parcialmente, encarando de canto, os olhos castanhos a fitarem os seus, em busca de uma resposta, algo que pudesse lhe trazer acalento; mas a mesma não é dita, pois o pequeno, apenas saíra imediatamente em direção ao corredor, pegou o elevador e para surpresa de todos — ou de ninguém — lá estava ele, o esperando na viatura
— Finalmente florzinha. Pensei que iria ter que subir! Anda logo, se o chefe brigar comigo eu mato você — Reclama o mais velho
Ele apenas entrou correndo no carro, pois sabia que suas ameaças não eram infundadas, ele o mataria mesmo, se tivesse chance. Já no carro, um silêncio constrangedor tomou conta da viagem inteira, demorou cerca de quarenta minutos para chegar a delegacia.
Chegando a delegacia, o menor fora direto a sala do delegado, explicar o motivo de seu atraso, e para sua sorte, seu chefe também era seu único amigo homossexual, casado com seu marido a quatro anos; Jimmy o invejava, apesar de também ser homossexual ninguém zombava ou fazia "bullying" com ele, os outros policiais o respeitam e até temiam ele, por ser o nosso chefe a anos. Desde que iniciou ali, ninguém conseguiu tirar seu cargo, e não fora por falta de tentativa.
— Desculpe pelo atraso senhor, não vai acontecer... — O menor diz em referência, tentando se desculpar, mas é cortado antes de terminar a frase
— Que isso Jimmy, não precisa me tratar assim, quando estamos a sós, você sabe, nos somos amigos a anos, estudamos juntos, lembra?— Diz sorrindo quebrando totalmente o nervosismo fazendo Jimmy sorrir de volta.
— Certo, me desculpa! — Sorriu fraco
— Então, me conta, como foi ontem a noite? E os preparativos do casamento? — Diz Ming curioso.
— MING! — Indagou sorrindo e cobrindo seu rosto de vergonha e tristeza ao mesmo tempo
— Ah! Suas bochechas ficaram coradas, significa que a noite foi boa, não é? — Ele sorriu alegre apontando para o rosto do menor que já estava todo vermelho de vergonha.
Mas antes de sanar sua curiosidade, algo estranho ecoa no ar, um som que os interrompe, parecido com um chamado, mas o mais estranho, era que mais ninguém parecia ouvir, era especialmente para ele, seu nome era chamando pelo rádio, repetidas e repetidas vezes; ele estranhou, mas não se omitiu, respondendo logo em seguida.
Desconhecido |Um homicídio dentro de uma ferraria em Woodwell, Nightmare, policial Jimmy por favor comparecer ao local|
Mas que diabos era Nigthmare? E onde ficava Woodwell? Fora só ele pensar, que números aleatórias começaram a ser falados
Desconhecido |Norte +06˚ 15′ 35″S -80˚ 10'5 O|
Eram coordenadas muito estranhas, não correspondiam a nenhum local conhecido, e movido pela curiosidade, ele pegou a viatura, e seguiu até o local mais próximo do ordenado; chegando lá, era um terreno abandonado, não tinha ferreira nenhuma, e parecia armação, então o menor resolveu entrar e examinar o lugar. Mais para frente, havia uma elevação, com uma estrada de pedra, e assim que subiu, se deparou com um grande portão, era apenas isso, não havia nada atrás, e confuso ele murmurou comigo mesmo.
— Isso sempre esteve aqui? Nightmare? O que esta acontecendo?
Eram muitas perguntas, mas antes de fazer qualquer coisa, o portão se abriu, e de lá saiu um senhor já de idade e bengala, perguntando se o mesmo queria uma passagem; assustado ele deu dois passos para trás com medo, mais resolveu verificar aquele chamado e respondeu.
— Por favor senhor, que lugar é esse? — Disse franzindo o cenho
— O barco sai em cinco minutos, se quiser entrar em Nightmare, é melhor correr, tome, vai precisar disso — O guardião do portão diz o entregando uma moeda de ouro.
Apenas agradeceu levemente, e seguiu em direção ao barqueiro no convés
— Com licença, eu preciso ir à cidade
— Tem certeza? Aqueles que entram, não podem mais sair — Comenta o barqueiro
Aquele comentário assustou muito menor deles, como assim não saem mais? Ele pensou, estava com medo e confuso, mais mesmo assim, encarou.
— Tenho certeza sim!
Era o certo a se fazer
— Então só um twon! — Falou estendendo a mão
Entregou a moeda a ele, mesmo não sabendo o que era um twon, logo em seguida, entrou no barco, seguindo o rio em direção a cidade, e durante a viagem o barqueiro falava...
— Esse é o Rio das Almas, ele carrega todos aqueles que morrem na cidade, e suas almas, depois de serem julgadas, vão direito ao mar morto, onde serão devoradas por Boru pela eternidade.
— Isso é horrível!
— É o preço a se pagar meu jovem, e logo você também entenderá isso, é o que os anciãos dizem.
— Quem são os anciãos?— Perguntei
— São os responsáveis pelo regimento da nossa realidade, são sempre quatro, o grão Mestre, o guardião das Almas, o juiz do limbo e o líder da Vila, cada um é responsável por um lado da cidade, mas nada acontece sem a permissão do grão Mestre.
— Ele parece uma pessoa importante — Falou logo encerrando o assunto, pois haviam chegado em Rivergate
Ao descer do barco, seguiu sem rumo pela cidade, percebendo que era tudo tão estranho, a começar pela diferença de época, a cidade parecia ter parado no tempo; o clima escuro e a neblina sinistra que pairava, como se tivesse escondendo algo. O local era dividido em setores, com o Rio das Almas separando tudo, e todos os lados estavam ligados no grande castelo bem no centro de tudo, com uma bandeira que balançava com o vento, e não se via nada além da floresta, até as pessoas pareciam diferentes.
Ele não sabia como, mas sabia exatamente onde precisava ir, então pegou outro barco e foi em direção a Woodwell; chegando lá, havia um alvoroço, pessoas por todos os lados, e cheio de "policiais locais", ou seja lá o que eram; de longe, ouviu uma voz chamar.
— JIMMMYY! — Grita apontando em sua direção.
Caminhou até o desconhecido de cabelo e olhos castanhos, longos que batiam em seu ombro. Seu uniforme era incrível, uma manta longa com o emblema dos guardiões e uma corrente de ouro, um terno preto, uma blusa verde, um relógio de bolso e o símbolo de Oldport, que consistia em uma estrela de esmeralda envolto em um círculo com asas
— Quem é você? Como me conhece? — Perguntou confuso enquanto analisava o estranho
— Fui eu que te chamei, lembra? Prazer meu nome é Derek White, sou o líder do gabinete das almas, servimos ao guardião das Almas, vamos, eu vou te explicar tudo!
Sua voz era doce e acalentadora, e Jimmy o seguiu até o interior da ferraria, onde ele mostrou a cena do crime, horrível e perturbadora, o menor jamais havia presenciado algo assim; depois Derek começou a explicar o motivo do mesmo estar ali.
— Sabe que nossa cidade não é igual às outras, você só está aqui por que é um escolhido, se não, nem suspeitaria da nossa existência
— Escolhido? Mas para quê? — O olhou com semblante curioso
— Isso nem eu posso dizer, você vai ter que descobrir sozinho, eu só cumpro ordens — Sorriu e logo continuou — Como você já deve saber, ninguém sai daqui, e uma vez dentro, não existe mais vida lá fora para você.
— Como assim não existe mais vida? — O menor altera o tom de voz
— Olha! Vai ser difícil no começo, mais você vai entender, assim que você pisou dentro de Nigthmare, sua vida lá fora foi apagada, como se nunca tivesse nascido, seus pais e familiares não se lembram de você, não existe mais nada lá, você não pode voltar, esse é o preço que todos os integrantes do gabinete das Almas pagam, todos nós somos escolhidos, fomos tirados de nossa realidade, agora essa é nossa vida, mas não é tão ruim assim — Termina com um sorriso
Aquilo o chocou muito, ele não existia mais, não tinha mais família, mais ninguém se lembrava dele; Jimmy já estava em prantos, e por alguns minutos, se permitiu ser confortado pelo estranho que agora seria seu superior, e quando voltaram, Derek o mostrou a entrada da ferraria, e lá estava ele, um menino todo ensanguentado, fitando suas mãos, cercado de guardiões; e Derek insistia que esse caso teria que ser dele, não havia escolhas nem como negar, já que o mesmo não tinha mais nada, a única coisa que podia fazer agora, era aceitar seu novo destino. Então pegou a arma e partiu dando voz de prisão.
— Parado, mãos ao alto! — Indagou pegando as algemas e colocando em seus braços.
Ele estranhou...
Fora mais fácil do que pensou que seria, ele se rendeu logo de primeira, e em questão de segundos estava ele, cuidando de um caso, em uma cidade estranha, o que mais poderia acontecer?
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Atualizado até capítulo 18
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