Capítulo 16

Novamente o silêncio brindou o final da exposição. As impressões eram retidas para que se tornassem nítidas. Não desejávamos expor algum comentário superficial. A espera exasperou Set.

-- Então\, não vão dizer nada?

-- Sua alma me parece tomada por incerteza e mágoa. Manifestou Deimos.

-- É. Parece que você se ressente por algo que sua família fez. Afirmou Mefisto.

-- Isto porque meu nascimento foi um erro.

-- Nenhum nascimento é um erro. Afirmou Darkness. Erro comete aqueles que não sabem reconhecer a dádiva advinda com o germinar da vida.

-- Meus pais não me desejaram.

-- Pode ser. Mas alguém\, em algum lugar desejou.

-- O que? Quem mais poderia desejar meu nascimento além de meus pais?

-- Assim que uma mulher engravida\, muitos daqueles que aguardam o momento de nascer se aproximam. Quando o pai ou a mãe\, ou ambos\, são fortes o suficiente\, espiritualmente falando\, atraem aquele que lhes são mais próximos. No entanto\, existem casos em que os pais são espiritualmente fracos e aí\, outros podem atrair algum espírito que lhe seja mais próximo.

-- Quer dizer que alguém\, que não meus pais\, atraíram-me até a este mundo.

-- Sim.

-- Nunca sentiu que alguém lhe dedicava mais atenção que o normal? Perguntou Fobos.

-- Bem\, tem uma tia minha que sempre me tratou com mais paciência.

-- Então?

-- Mas isto não quer dizer que ela me ame.

-- Talvez não do modo como deseja\, mas da única forma que ela consegue expressar. Pode parecer pouco\, mas já se perguntou o quanto ela deve sofrer por não poder lhe demonstrar todo amor que sente?

-- Por que\, então\, não nasci filho de minha tia?

-- Sua tia é casada?

-- Não.

-- Pelo que sei\, a família de sua mãe é muito tradicional. Estou certo?

-- Está.

-- Considere o fato de uma moça solteira aparecer grávida numa situação desta. É capaz de imaginar os transtornos que ela teria que enfrentar?

-- Mas e eu? Não estou enfrentando transtorno maior?

-- Talvez. Mas considerando o fato que sua tia sozinha não poderia atraí-lo\, deve reconhecer que sua vontade de estar próximo a ela\, alimentou o anseio de ambos e acabou por trazê-lo até aqui.

-- Tudo isto é muito complexo. Afirmou Pandora. Além do que foge dos assuntos habituais que estamos acostumados a discutir.

-- Desejam voltar aos temas comuns? Darkness sempre permitia que escolhêssemos nossas atividades.

-- É melhor. Lilith apontou o desejo da maioria.

-- Então voltemos a normalidade.

A celebração prosseguiu com mais leituras e comentários a respeito dos textos lidos. Alguns gracejos a parte, todos se sentiram mais aliviados quando o tema voltou a ser as corriqueiras atividades do grupo.

Fobos, eu, Eve e Darkness nos resignamos. O grupo ainda não estava maduro para ir além. Nós ansiávamos para que pudéssemos discutir assuntos mais elevados, porém Darkness nos fez ver que não avançaríamos em tal propósito.

A determinada altura da celebração, o grupo se dispersou e cada um foi se entreter com aquilo que lhe agradava. Eve e Darkness retiraram-se sem que ninguém se desse conta. Minha ligação com eles fez-me perceber o momento em que deixavam o grupo e iam para a parte de cima do casarão.

Deixando a sala, eles seguiram até o aposento onde ele costumava passar os momentos mais reservados. Sentindo o clima que os conduzira até lá, Darkness adiantou-se a Eve e perguntou:

-- Tem certeza de que deseja realmente fazer isto?

-- Nunca tive tanta certeza a respeito de algo que desejasse fazer.

-- Depois de tudo consumado\, não terá como voltar atrás.

Vendo-me a sós, aproveitei para esmiuçar as biblioteca de Darkness. Para meu deleite ele possuía uma vasta coleção de escritos antigos. Alguns em línguas que eu nem conhecia. Devo ter permanecido por muito tempo entretido com os livros e pergaminhos pois quando fui tirado de meus devaneios, foi por um agitado Mefisto.

-- Onde estão Darkness e Eve?

-- Em cima.

-- Temos que ir!

-- Já?

-- Já! São quase sete horas!

-- Tudo isto?

-- Precisamos ir.

-- Vou chamá-los.

Um pouco inseguro, subi a escadaria que conduzia ao andar superior. Como não havia recebido nenhum convite para ir ter com eles e supondo saber o que faziam, senti-me meio constrangido em prosseguir. Só o fiz porque Mefisto estava certo. Já era tardiamente.

Ao chegar em frente a porta de acesso à sala, preparei-me para anunciar minha presença, mas uma fresta permitiu-me ter a visão mais fantástica até então presenciada. Planando bem no meio da sala Darkness, ou quem quer que fosse, abraçado a Eve. Ambos desnudos e parecendo estarem em transe.

A visão da verdadeira forma de Darkness, era a segunda vez que tinha esta visão, encheu-me de sentimentos contraditórios. Naquela cena, que não abandonaria minha mente jamais, com Darkness envolto por uma luminosidade dourada com um par de asas a cobrir seu corpo e o de Eve, presenciei algo que muitos gostariam de ter vivido.

Silenciosamente como havia me aproximado, retrocedi. Não tinha como interromper o ato que realizavam. O que não sabia era que eles haviam sentido minha presença. Já estava próximo ao patamar quando ouvi Darkness anunciar:

-- Avise-os que já estamos descendo.

Ao retornar para o andar inferior, encontrei todos reunidos a espera para irmos.

-- Então? Perguntou-me Lilith.

-- Estão descendo.

-- O que fazem lá em cima? Indagou Set.

-- Assuntos particulares.

-- Agora estão com segredo para o resto do grupo?

-- Não temos segredo algum. Só que não interessa a ninguém o fato de estarmos vivendo uma experiência além das formalidades. Anunciou Eve.

-- Realmente você está mudada. Concluiu Pandora.

-- Eve amadureceu. Anunciou Fobos.

-- Vamos! Convidou Darkness.

Naquele exato momento não tinha como sabermos as opiniões pessoais de cada um. Não houve tempo para trocarmos qualquer impressão. Darkness nos deixou no local combinado e seguiu com Eve.

-- Está rolando algo que não estamos sabendo? Perguntou Set.

-- Melhor esperarmos que eles decidam nos contar. Enfatizou Fobos.

-- Ultimamente você tem se mostrado muito dócil para com o sinistro. Set tinha imenso prazer em se mostrar sarcástico.

-- Está colocando em dúvida minha liderança?

-- Não é que o esteja desafiando\, apenas estranho o fato de você estar sempre defendendo o sinistro.

-- Darkness tem se mostrado nosso amigo. Está abrindo-nos portas que jamais pensaríamos existirem.

-- Diga isto por você. Para mim ele não passa de um embusteiro.

-- Ora\, mas você é muito...

-- Não. Intervi na discussão. Darkness não gostaria de ser motivo de desentendimentos entre nós.

-- Melhor irmos para casa. Amanhã nos reunimos no Club. Falou Fobos.

Set estava irritado além do normal. Já estávamos acostumados a suas rabugices, mas senti, ao observar-lhe o semblante contraído, que sua zanga não se resumia a uma desavença banal. Ele parecia estar com ódio de Darkness.

Naquele dia e nos que se seguiram não tivemos contato mais estreito. O grupo havia se dado um tempo. Isto para que tudo fosse se encaixando e pudéssemos compor um quadro mais exato a respeito de tudo que estávamos vivendo desde que Darkness surgira.

Neste meio tempo, Set recebeu a visita dele. Não em sua casa ou em qualquer outro lugar comum. Darkness penetrou em sua mente e o tocou. Já havia realizado esta mesma experiência com Fobos e Eve. Embora existisse uma ligação muito forte entre nós, ainda não havia experimentado esta ligação.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!