Capítulo 13

Enquanto nossas mentes, tornadas uma, se mantinham conectadas, pude testemunhar todo o diálogo que se desenrolou. Eve manifestava-se através de um fio tão fino de voz que me assustei. Só não deixei o desespero tomar conta de mim porque sentia que Drakness também evitava elevar a voz. Voz? Eles nem mesmo abriam a boca ao falarem!

Agitando-se convulsivamente em seu leito, Eve finalmente se mostrava de volta ao mundo real:

-- Dark!

-- Filha! É a mamãe. Agora está tudo bem. Entre lágrimas de dor e alivio\, a mãe de Eve abraçava a filha.

-- Dark!

-- Logo estará melhor\, não pense em nada.

-- Dark!

-- O que deseja\, filha? Por que repete sempre esta palavra?

-- Dark!

Aflita, a mãe de Eve tocou a sineta e aguardou a presença do marido. Este não demorou a aparecer.

-- O que foi querida?

-- Ela recobrou os sentidos.

-- Graças aos céus!

-- Mas parece estar delirando.

-- Por que acha isto?

-- Desde que se manifestou\, só fica repetindo sempre a mesma palavra.

Não tanto aflito quanto sua esposa, o pai de Eve a observou mais de perto.

-- Dark!

-- Ouviu?

-- Sim. O que quer dizer isto?

-- Não sei. Talvez um lugar\, um destes malditos lugares que ela freqüenta!

-- Ou talvez o nome de um de seus “amigos”.

-- Por que nossa filhinha teve que se juntar a estas pessoas tão estranhas?

-- Ah\, bem que eu gostaria de saber\, querida!

-- Ela sempre foi tão amada. É um doce de criatura. Por que se envolveu com eles?

-- Acalme-se\, querida. Eve precisará de nosso auxilio ao despertar.

-- Percebeu que mesmo nós já a tratamos por este nome esdrúxulo?

-- Darkness! Desta vez Eve não sussurrou\, gritou o mais alto que conseguiu.

-- Pelos céus! O que foi isto?

A mãe de Eve não suportou aquela explosão de dor da filha. Recostou a cabeça no ombro do marido e abandonou-se em um pranto incontrolável.

-- Não se desespere\, é uma reação natural. Ela está delirando.

-- Darkness\, onde está?

-- Ela está chamando alguém. A mãe de Eve não conseguia controlar-se.

-- Venha\, querida. Vamos até a sala.

-- Não! Não vou deixar minha filha sozinha!

-- Não fará bem a ela se continuar nervosa deste jeito. Vamos\, Sarah poderá fazer companhia a ela.

Mesmo contrariada, a mãe de Eve teve que deixar o quarto. Ao passarem pelo quarto da irmã de Eve, o pai pediu que ela ficasse ao lado da irmã. Mais temerosa que por má vontade, Sarah demorou a obedecer.

Desde que Eve se juntará ao nosso grupo, Sarah tinha medo da irmã. Achava que ela havia enlouquecido por causa da doença que tinha. Mesmo assim, penalizava-se pelo estado em que a irmã se encontrava.

O pai de Eve havia convencido sua esposa a deitar-se um pouco e administrara-lhe um calmante. Já se preparava para voltar ao quarto quando a campainha soou.

-- Espero que a situação esteja um pouco melhor. Darkness tinha um modo muito especial quando desejava atingir determinado fim.

-- Você de novo!

-- Desculpe-me a insistência\, mas é muito importante que conversemos.

-- Olha aqui\, mocinho\, não apoio minha filha na escolha que ela fez pelos amigos que tem\, muito menos concordo com as loucura que ela vem fazendo\, portanto...

-- Portanto creio que já está na hora de deixar de lado esta empáfia toda e dar ouvidos a quem pode revelar-lhe um aspecto da vida de sua filha que ainda não deu chance de enxergar.

O pai de Eve sentiu-se invadido pela determinação expressa por Darkness. Ele havia mesclado sua voz doce com o tom sinistro que utilizava quando desejava atingir-nos bem fundo.

Sem ter como reagir àquela situação, o pai de Eve se viu obrigado a recebê-lo. Inseguro, conduziu Darkness até uma pequena sala que fazia às vezes de escritório. Depois de acomodados, Darkness começou:

-- Bem\, peço-lhe que mantenha a mente aberta para tudo que tenho para dizer. A lucidez de sua filha depende do quão disposto esteja em auxiliá-la.

A madrugada cedeu lugar à manhã. A manhã cedeu lugar à tarde e Darkness mantinha o pai de Eve refém de sua conversa. Somente quando julgou ter colocado tudo às claras, foi que resolveu despedir-se.

-- Creio que já disse tudo que tinha para dizer. Tenho que ir.

-- Espere um pouco. Acha que pode vir até minha casa\, falar o que bem entender e ir assim?

-- Não tenho mais nada a acrescentar.

-- Mas tenho muitas perguntas a fazer.

-- Quando a hora para isto chegar\, terei imenso prazer em voltar a nos encontrar.

-- Mas\, mas...

Darkness não deu tempo para que o pai de Eve redarguisse. Como uma sombra que se perde com a chegada da luz, ele se foi. Demorou alguns minutos até que o pai de Eve recuperasse seu controle e decidisse ir para o quarto da filha.

Ao aproximar-se do local, ouviu uma acalorada discussão:

-- Você está louca! Mamãe e papai deviam interná-la num hospício! Esbravejava Sarah.

-- Cale-se! Você não tem nada com minha vida!

-- Pensa que pode agir assim como bem entende? Até parece que papai vai deixar você sair.

-- Eu tenho que ir. Ninguém pode me impedir de procurar minha felicidade!

-- Ah\, sei! Chama de felicidade ficar errando feito um zumbi pelos corredores de um cemitério!

-- Chega! Não tenho que ficar aqui ouvindo seus desaforos!

Neste ponto o pai de Eve decidiu entrar. Mal havia aberto a porta e ela saia esbaforida.

-- Eve! Chamou o pai.

-- Não tente me impedir! Eve gritou.

-- Não tenho intenção de impedi-la\, apenas desejo um pouco de seu tempo.

A reação amistosa do pai a derrubou. Esperava reprimenda, bronca, ordem para que não saísse. Mas aquela tranqüilidade toda não esperava.

-- Como é?

-- Podemos conversar um pouco\, antes que saia?

-- Está brincando?

-- Não!

A firmeza com que o pai falara não deixou dúvidas para Eve. Algo muito sério deveria estar ocorrendo. Seu pai nunca havia agido daquela forma. Um tanto incerta, acedeu ao desejo do pai.

-- Está bem. Onde podemos conversar?

-- Ótimo! Bradou Sarah ainda no interior do quarto. Agora também vão passar a mão na cabecinha da neurótica!

-- Sarah! Zangou-se o pai. Vá para seu quarto. Depois converso com você.

Sarah pensou em responder, mas ao observar o semblante austero do pai, desistiu. Cabisbaixa recolheu-se sem mais palavras.

Eve estava confusa. O que o pai poderia querer? Aquele jeito carinhoso que ele usara não era normal.

-- Posso saber aonde vai? A voz do pai demonstrava que ele desejava conversar em paz.

-- A uma festa.

-- Ainda há pouco estava desfalecida.

-- Mas já melhorei.

-- Vai se encontrar com aqueles “amigos”?

-- São os único que tenho!

-- Engana-se\, filha.

Filha! Aquilo foi demais. Eve já nem se lembrava mais a última vez que o pai a chamara assim.

-- O que está havendo?

-- Nada.

-- Então por que este modo afetuoso de falar-me?

-- Porque é assim que um pai deve falar com seus filhos.

-- Ah\, e concluiu isto assim\, de repente!

-- Não. Precisei que um estranho viesse até minha casa e me dissesse um monte de verdades que eu mesmo deveria ter enxergado\, mas que por ser limitado em minha compreensão\, não fui capaz de ver.

-- Quem o visitou?

-- Darkness! Conhece?

-- Ele esteve aqui! A empolgação de Eve deu a entender que Darkness era muito mais que um simples amigo.

-- Sim. Conversamos por um longo tempo.

-- Não acredito!

-- Nem eu mesmo acredito. Devo assumir que estava errado quanto ao tipo de pessoas com quem convive. Ele me pareceu tão centrado. Além de possuir um conhecimento muito vasto.

-- Darkness é maravilhoso!

-- Está apaixonada por ele?

-- O que?

-- Seus olhos brilham quando fala dele.

-- Não sei é paixão\, só sei que ele representa algo muito forte.

-- Entendo.

-- Não vai começar o sermão?

-- Ah\, ainda dura com o pai! Gostaria que soubesse e acreditasse que nunca agi premeditando lhe causar aflição. Agia do único modo que era capaz. Nós pais temos a ilusão que poderemos sempre proteger nossas crianças.

-- Conversou mesmo com ele\, não é?

-- É.

Eve deixou que algumas lágrimas ganhassem o contorno de seu rosto. Silenciosamente abraçou o pai e lhe deu enternecido beijo.

-- Não se preocupe\, estarei bem.

-- Eu sei que sim.

Através da vidraça, o pai de Eve a viu sumir no prolongamento da rua. Sem perder mais tempo, voltou sobre o próprio corpo e seguiu para o quarto. Sua esposa ainda repousava sob efeito do sedativo. Sentou-se ao seu lado, acariciou-lhe os cabelos e deixando um profundo suspiro escapar-lhe, cerrou os olhos.

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