Capítulo 5

Eu, por meu lado, sentia que todo receio que me dominava havia se exaurido como por encanto. Pela primeira vez na vida sentia uma paz tão reconfortante tomar meu âmago que tudo o mais parecia ter perdido qualquer significado.

-- Hei\, estou falando com você! A intervenção mais contundente de Fobos\, tirou-me de meus devaneios.

-- Heim?

-- O cara que estava aqui\, viu para onde ele foi?

-- Não.

-- Mas que sujeito mais estranho. Comentou Pandora. De onde será que veio?

-- Não sei\, mas ele era tão... tão... Eve deixou que profundo suspiro escapasse de seu peito.

-- Considerando que a noite foi tumultuada\, sugiro irmos até o Coven Club. Fobos mais ordenou do que sugeriu.

Resignados, deixamos as dependências do cemitério e fomos para nosso tradicional ponto de encontro. Um fator que naquele instante nenhum de nós poderia supor que havia surgido, era o fato de que daquela noite em diante, nada mais seria como antes.

O Coven Club estava igual aos demais dias. Uma banda tocando músicas típicas de nossos costumes, alguns grupos se divertindo, mais do que o recomendado, com bebidas. Nada de anormal  não ser...

-- Pelos cornos do chifrudo! Bradou Fobos.

Confortavelmente instalado em uma das poltronas do salão, Darkness se entretia com alguns aperitivos.

-- Filho da mãe\, está nos seguindo! Esbravejou Fobos.

-- Vai com calma\, amor. Aparteou Lilith.

-- Uma ova. Este cara vai ter que se explicar.

Totalmente descontrolado, Fobos aproximou-se do local onde Drakness saboreava seus petiscos.

-- Muito bem\, seu fantasma ou seja lá o que for\, acho que tem uma explicação a nos dar.

-- Explicação? Por quê? Já não tiveram emoções demais para uma noite?

-- Não venha querendo bancar o espertinho. Pode ter nos confundido lá no cemitério\, mas aqui o esquema é outro.

-- Melhor se acalmar. Por que não se senta?

A tranquilidade com que Darkness se expressava exasperou ainda mais nosso líder. Embora ele aparentasse ser tão gótico quanto nós, suas atitudes nos deixavam atônitos. Ou ele estava se divertindo a nossas custas, ou então suas intenções eram totalmente desconhecidas por qualquer um de nós.

Enquanto apenas observávamos o desenrolar do diálogo, Eve parecia participar de cada gesto. Discretamente a puxei para um canto e segredei-lhe:

-- O que está fazendo?

-- Heim?

-- Parece perdida no encanto do estranho.

-- Com ciúmes? Ironizou.

-- Não. Apenas lembre-se que Fobos pode não gostar.

-- E por que deveria me importar com isto?

-- Ele não gosta que tomemos atitudes independentes.

-- Ele é um babaca!

-- Eve!

Apesar de minha aparente indignação, confesso que sempre tive vontade de expressar o mesmo. Fobos era um manipulador. Conduzia-nos como se fossemos crianças brincando com um jogo perigoso. Não levava a sério nenhuma de nossas indagações.

-- Reparou como ele está inseguro? Perguntou-me Eve.

-- O que?

-- Fobos. Darkness parece tê-lo encostado na parede.

-- Não sei não. Até saber o que este cara pretende\, penso que seja melhor não avançarmos o sinal.

-- Tem tanto medo\, assim\, do Fobos?

-- Só não quero ser a origem de desavenças entre nós. Já me bastam às implicâncias que sofremos das demais pessoas.

-- Está certo. Embora Fobos seja um ditador\, ele sempre nos deu respaldo. Em consideração a isto\, esperarei até termos certeza de quem realmente é este Darkness.

-- Obrigado.

Este pequeno colóquio acabou por desviar nossa atenção dos fatos que se desenrolavam entre Darkness e Fobos. Ao retornarmos para juntos dos demais, Fobos estava só.

-- O que houve? Perguntei para Lilith.

-- O cara se mandou.

-- Como?

-- Sei lá. Num momento eles estavam ali conversando\, no outro...

-- O que Fobos disse a respeito? Quis saber Eve.

-- Nada. Ainda estamos esperando que ele nos chame.

Os próximos dias foram absorvidos por uma lassidão sem igual. Nossos já angustiados ânimos foram solapados por uma avalanche de fatos rotineiros e enfadonhos. Desde a aparição de Darkness, já não havia mais muito afinco de nenhum de nós, para encontros ou reuniões.

-- Isto tem que mudar! Afirmou Fobos. Não podemos ficar prostrados apenas porque um estranho se mostrou arrogante e tripudiou sobre nós.

-- O que pretende fazer? Lilith era sempre a primeira a se manifestar.

-- Temos que planejar algo grandioso. Algo que ainda não ousamos.

-- Um baile no mausoléu de algum ricaço? Sugeriu Deimos.

-- Não\, não. É preciso ser algo inédito. Algo que nenhum outro grupo tentou.

-- Assim fica difícil. Comentou Pandora. Nosso grupo sempre copiou os passos de outros mais experientes.

-- Pois está na hora de sermos originais! Quase gritou Fobos. Chega de nos inspirarmos nos outros. Temos que construir nossa própria identidade.

-- Posso intervir? Timidamente atrevi a me manifestar.

-- O que tem para nos dizer?

-- Este ânimo todo não contradiz nossas expectativas?

-- Como assim?

-- Sei lá\, só me pareceu ser festivo demais.

-- E parvo! Não é porque somos quem somos que não podemos brindar a vida. Quantas vezes já não participamos de festas no Coven Club?

-- Desculpe-me.

-- Hei\, pessoal! Manifestou-se Eve. Esta é uma ótima ocasião para entregarmo-nos a lamentação.

-- Quieta pirralha!

O rancor traduzido na fala de Fobos fez todos se interiorizarem. Não havia clima para mais nenhuma celeuma. Encobertos pela angústia, permanecemos sussurrando poesias ou cantarolando músicas que expressavam nossa tristeza e nossa dor.

-- Dor! Acham que esta lamentável covardia é resultado da dor!

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