Capítulo 4

-- Então encontro um bando de adoradores da morte!

O riso e a voz que se misturavam no ar era tão espectral que senti meu sangue gelar. O semblante alucinado daquele que nos interpelava sugeria estarmos diante de alguém cuja razão esvaíra-se como areia em uma ampulheta.

-- Quem é você? Soou a pergunta de Fobos. Mesmo sentindo o mesmo medo que nos dominava\, Fobos tentava se mostrar confiante.

-- Darkness! Foi a resposta lacônica que ouvimos.

-- Ninguém se chama Darkness. Redargüiu Fobos.

-- Eric Draven soa melhor? Ironizou o estranho.

-- Também não acredito que tenha o mesmo nome de um personagem de cinema. Fobos insistiu em sua intenção de não se deixar intimidar.

-- Conhece a história? Zombou o estranho.

-- O que acha? Acaso pensa estar diante de um grupo de mauricinhos?

Como resposta apenas o riso ecoando na noite.

-- Não tem o direito de se intrometer em nossa reunião. Desafiou Fobos.

-- Pelo que consta\, não detêm o título de posse deste local. O estranho devolveu o desafio.

-- Quem é você afinal?

-- Lhe forneci duas identidades. Escolha aquela que mais lhe agrada.

-- Impossível! Quase gritou Fobos. Como ousa...

-- Hei\, vai com calma! Adiantou-se o estranho\, dessa vez com um tom tão suave que parecia ser um velho conhecido. Não quero tumultuar a festinha de vocês.

-- O que deseja\, Darkness? Lilith enfatizou o nome pretendido pelo estranho.

-- Nada.

-- Como nada? Vociferou Fobos. Se não fosse por sua inoportuna presença estaríamos realizando nossos ritos.

-- Ritos? Chama uma reunião enfadonha onde prevalece o monólogo de rito?

-- O que entende de nossos ritos? Nem mesmo conhece nossas finalidades.

-- Como se autoproclamam? Góticos? Darks?

-- O que tem com isto?

-- Gostam de rituais\, não?

-- Nossos rituais.

-- Talvez possa contribuir para que deixem de lado este encontro banal.

-- Não se atreva... a zanga de Fobos perdeu-se no vazio.

Em um segundo o estranho abandonou a postura na qual se mantivera até então, estendeu seus braços para o alto e conclamando as energias do cosmo, lançou palavras desconhecidas para o ar.

Repentinamente o céu pareceu encher-se de raios. Clarões ardentes pareciam precipitar-se das mãos do estranho. Seus olhos brilhavam com tanta intensidade que mal podíamos encará-lo. Ao observá-lo mais atentamente, notamos que ele levitava.

-- Pelos chifres de belzebu! Exclamou Pandora.

-- Que diabos está acontecendo? Balbuciou Deimos.

-- Ele é um bruxo! Bradou Lilith amedrontada.

Boquiabertos ficamos contemplando aquele inusitado espetáculo. Fobos não conseguia disfarçar o espanto. Os demais, incluindo eu, estávamos pasmos. Darkness, ou quem quer que fosse, nos surpreendeu além de qualquer expectativa.

-- Mas como ele consegue? Sussurrou Eve.

-- Isto é impossível! Comentou Deimos.

Após algo em torno de dois minutos, Darkness voltou a tocar o solo. Como se nada de extraordinário houvesse acontecido, lançou seu olhar inquiridor sobre nós e pronunciou-se:

-- Será que foi suficiente?

-- E... e... Fobos só conseguiu gaguejar essas monossilábicas letras.

-- Bem\, vejo que agradei. Se quiserem\, poderão me encontrar por aí.

-- Espere! Até hoje\, nem mesmo sei de onde veio a força que me inspirou pronunciar esta frase. O certo é que Darkness parecia estar esperando por ela.

-- Ora\, ora. Vejo que não me decepcionou\, “Hades”. Talvez fosse melhor escolher outro nome. Este não combina muito com sua índole.

-- Eu... eu penso que podemos conversar um pouco mais.

-- O que pensam seus amigos?

-- Não sei...

Embora Fobos não gostasse que tomássemos qualquer decisão sem antes consultá-lo, não manifestou nenhuma contrariedade. De bom grado sentou-se, não sem antes solicitar que formássemos um círculo.

Darkness posicionou-se no centro do círculo e nos incitou a expressar nossas dúvidas. O que se viu foi uma explosão de indagações. Cravamos dezenas de perguntas nos ouvidos de Darkness. Ele parecia se divertir muito com nossa atitude. Era como se estivesse brincando com nossas emoções.

-- Bem\, começou ao notar que já não tínhamos mais perguntas a fazer\, pretendo responder a todas as indagações levantadas\, mas primeiro quero que exercitem suas mentes.

-- Como? Suspirou Lilith.

-- Fechem os olhos. Agora tentem espantar qualquer tipo de pensamento que possam ter. Deixem que o vazio se aposse de suas mentes.

Aquilo não era bem a nossa praia. Gostávamos de recitar poesias, falar sobre nossas angústias, dores, sobre a morte, cantar nossos hinos de repúdio a tudo que era alheio a nosso mundo, enfim, éramos mais pragmáticos.

-- Não\, não! Não precisam diluir o mundo em que vivem. Apenas o ouvimos por um momento. Não sou nenhum canibal\, não pretendo devorar-lhes o cérebro ou mesmo sugar-lhes a alma.

Aquela incipiente manifestação de humor nos fez relaxar. Pela primeira vez desde que aceitara entrar para o grupo, sentia estarmos todos num mesmo degrau. Até Fobos não ousava questionar a condução que Darkness nos impunha.

-- Quando o vazio se instalar em suas mentes\, comecem a sentir o ambiente em que se encontram. O vento\, a chuva\, o ruído do trovão... lentamente sintam toda energia que flui nesta hora.

Em alguns momentos, chego a pensar que tudo aquilo não demorou mais que uns dois ou três minutos, em outro acredito que ficamos a noite toda naquela contemplação profunda. A única certeza que temos, desde então, é que ao abrirmos os olhos Darkness havia evaporado. Era como se ele jamais tivesse estado ali.

-- Que diabos aconteceu aqui? Esbravejou Fobos ao recobrar o controle.

-- Ainda estou meio zonza. Adiantou Lilith.

-- Onde está aquele cara? Questionou Eve.

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