Maydol Departamento Penitenciário
Era uma manhã ensolarada e, no pátio da penitenciária, os detentos se distraíam à sua maneira. Uns conversando e fumando, outros sentados e observando ao redor, e outros caminhando. Dentre os diversos detentos, havia um que era alto, tinha olhos verdes, era careca e possuía uma tatuagem de caveira na cabeça. Ele era um dos que se encontrava sentado, distraído, com o olhar distante, enquanto fumava um cigarro.
- Aí\, Ted! – Um dos detentos que era loiro e usava um coque\, se aproximou do homem de cabeça tatuada. - Estão te chamando ali. – Ele acenou com a cabeça em direção ao segurança que fazia a vigília do lugar.
Ted olhou em direção ao segurança e se intrigou.
- O que foi que você fez agora\, hein? – O loiro perguntou com deboche. - Não se cansa de levar bronca dos caras?
Ted o olhou com raiva.
(Ted) - Eu não fiz nada e vê se para de me encher!
Em seguida, ele se levantou e seguiu em direção ao segurança que o chamava, enquanto o loiro o encarava com um sorriso debochado. Depois de alguns passos, Ted se aproximou do segurança.
(Ted) - Me disseram que você estava me chamando.
O segurança, que era jovem, o olhou e, disfarçadamente, tirou um envelope do bolso e o entregou.
(Segurança) - É melhor ser discreto.
Em seguida, o segurança caminhou para outra direção, se afastando de Ted.
Ted o olhou se afastar e em seguida, caminhou até uma parte isolada do pátio. Após olhar ao seu redor, se certificando de que ninguém estava observando-o ou se aproximando, ele abriu o envelope e tirou uma carta de dentro. Ao ler o que estava escrito, ele sorriu com malícia.
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Na casa dos amigos, quase todos estavam envolvidos com os preparativos da festa, que aconteceria no dia seguinte. Hannah, Lilly e Jessy estavam na cozinha preparando o almoço, enquanto decidiam quais seriam os aperitivos da festa. Enquanto isso, Adie, Dan, Thomas e Jake estavam na varanda.
Adie e Dan estavam na área onde os carros ficavam estacionados e, enquanto observavam a área, eles discutiam sobre melhores posições para posicionarem algumas luzes e uma máquina de fumaça, que Phil foi até o bar Aurora buscar. Já Jake e Thomas, que não tinham muitas ideias de como decorar um espaço para uma festa, estavam sentados à mesa, se distraindo com uma partida de xadrez.
(Adie) - Então, esse espaço poderia ser nossa pista de dança. – Ela apontou para o local mencionado, esboçando um sorriso entusiasmado. - O que acha?
(Dan) - Hum, está ótimo. Eu só não imaginava que você gostasse de dançar.
(Adie) - Bem, eu não sou muito boa nisso, mas, mesmo assim, me arrisco a balançar o esqueleto às vezes. – Ela dançou desajeitada, enquanto falava.
Ele deu uma leve risada.
(Dan) - Sei.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, enquanto observavam o espaço que seria a pista de dança, mas, depois de alguns segundos, Adie começou a observar Dan, estando pensativa. Dan, ao notar, a olhou com estranheza.
(Dan) - Perdeu alguma coisa?
Ela deu uma leve risada.
(Adie) - Não. É só que… Acabo de me lembrar de algo importante.
(Dan) - Hum… – Ele revirou os olhos e desviou o olhar. - Aposto que lá vem piada de mal gosto.
(Adie) - Não. Dessa vez, não.
(Dan) - O que é então? – Ele voltou a olhá-la.
(Adie) - Bom... Quando é que você vai poder andar de novo?
Dan logo desviou o olhar, ficando pensativo por alguns segundos.
(Adie) - Desculpe, eu não queria ser inconveniente.
Ele a olhou, arqueando uma de suas sobrancelhas.
(Dan) - É sério que estou ouvindo isso da pessoa que faz piada de mal gosto comigo todos os dias?
(Adie) - Mas são só piadas para descontrair e tornar tudo mais leve. Eu sei o quanto essa situação é incômoda para você.
Ele suspirou e desviou o olhar novamente.
(Adie) - Por isso, eu realmente gostaria de saber quando você vai poder caminhar novamente.
(Dan) - Eu não sei e isso não importa agora.
Ao observar o incômodo de Dan para falar sobre isso, ela se agachou perto dele e apoiou o braço na cadeira de rodas.
(Adie) - Pra mim, importa sim.
Ele a olhou com o cenho franzido e desviou o olhar novamente.
(Adie) - Me promete uma coisa?
Ele bufou.
(Dan) - Que coisa?
(Adie) - Que quando você voltar a andar, vai dançar uma música comigo.
Ele a olhou com o cenho franzido novamente e ela sorriu.
(Dan) - Mas que porcaria de pedido é esse, cara?!
(Adie) - Ah, qual é? A gente pode dançar… que tal um Pop? Já sei! Vamos dançar Beyoncé? Você conhece Single Ladies? Eu amo essa música! All the single ladies… – Ela cantarolou e se balançou em uma dança desajeitada, mas por estar agachada, se desequilibrou e teve de segurar na cadeira de Dan para não cair.
Ela deu risada de si mesma e Dan também deu uma leve risada, balançando a cabeça em negação.
(Dan) - Você é louca.
(Adie) - E então, prometido? – Ela estendeu o punho fechado para ele.
(Dan) - Óbvio que não!
(Adie) - Ah, que isso, Dan?
(Dan) - Esquece!
Ela suspirou desapontada, mas ainda manteve o punho fechado estendido, numa tentativa de fazê-lo mudar de ideia.
(Dan) - Eu tenho uma outra proposta. – Ele a olhou.
(Adie) - E qual é?
(Dan) - Quando eu me livrar dessa porcaria de cadeira, quero que você vá dar uma volta de carro comigo.
O sorriso de Adie logo se desfez, mas como ela havia mantido o punho fechado estendido para Dan, ele logo tocou o seu punho no dela.
(Dan) - Ótimo, prometido.
Ela se surpreendeu.
(Adie) - O quê?! Não! Eu não disse que sim. Isso não vale!
(Dan) - Já era, promessa é dívida. – Ele sorriu.
Ela se levantou, irritada.
(Adie) - Seu idiota trapaceiro!
Enquanto ela reclamava com Dan, Jake olhou em direção aos dois e sorriu sutilmente.
(Thomas) - Esses dois são uma piada constante, você não acha?
(Jake) - Sim. – Ele ainda os olhava.
(Thomas) - Eu acho bem legal o quanto eles se dão bem. – Ele deu uma leve risada. - E entendo que seja realmente muito interessante prestar atenção no quanto eles se divertem juntos, mas, você não deveria fazer isso enquanto joga comigo... Xeque-mate.
Jake se surpreendeu e logo olhou para o tabuleiro.
(Jake) - O quê?! Ah, cara.
Thomas sorriu com deboche.
(Thomas) - Mais uma?
Jake o olhou com uma de suas sobrancelhas arqueada e ajeitou seus óculos no nariz.
(Jake) - Mas é claro!
Thomas manteve o sorriso debochado e logo começou a posicionar as peças no tabuleiro.
Enquanto isso, na casa, Cleo estava no quarto, arrumando algumas roupas na cômoda. Estando distraída, de repente, um barulho lhe chamou atenção. Era um barulho familiar, como se fosse de um notebook descarregando e, ao olhar para o lado, ela notou que Adie havia deixado seu notebook aberto sobre a cama. Após finalizar a dobradura de uma camiseta branca e guardá-la na gaveta, Cleo foi até a cama de Adie. A tela do notebook ainda estava acesa, mas com o brilho diminuído, por conta da pouca carga. Ao se aproximar, Cleo o pegou e logo ia fechando a tela, mas, ao passar o olho rapidamente, notou uma pequena frase que a intrigou: Histórico de Transtornos Mentais. Ela tentou lutar contra sua curiosidade e logo fechou a tela, mas, naquele momento ela se deu conta de que Adie era um completo mistério para todos do grupo, exceto para Jake. Ao pensar sobre isso, ela olhou em direção a porta, que estava aberta, se certificando de que ninguém estava se aproximando e, mesmo receosa, abriu a tela do notebook para começar a ler do que se tratava aquilo.
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ANAMNESE:
Nome: Sophia Martinez
Idade: 29
Estado Civil: Solteira
Profissão: Agente Comercial
HISTÓRICO DE TRANSTORNOS MENTAIS PESSOAL E FAMILIAR:
Pessoal: Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
Familiar: Transtorno Depressivo Maior (TDM).
QUEIXAS ATUAIS:
Após ser mantida sob cárcere privado pelo próprio namorado durante duas semanas, a paciente apresenta alterações de humor e crises de ansiedade recorrentes.
HISTÓRICO TERAPÊUTICO:
Psiquiatra: Dr. Ulric Barret - 5 sessões.
PSICOTRÓPICOS: ISRSs.
TRATAMENTO:
A paciente foi submetida a um tratamento baseado na TCC, mas por conta da intensidade dos sintomas, que indicam um quadro inicial de TEPT, se iniciou a fase 2 do tratamento: Hipnoterapia guiada pela Dra. Adelynn Folsham.
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Cleo terminou a leitura estando extremamente surpresa e boquiaberta. Ela fechou o notebook lentamente, enquanto tentava assimilar as informações que acabara de obter.
(Cleo) - Dra. Adelynn... A-Adie?! – Ela sussurrou.
Ela deixou o notebook sobre a cama e se sentou na mesma, ainda estando abismada. Porém, depois de alguns segundos, alguém apareceu na porta.
(Hannah) - Cleo, onde você colocou...
Cleo se assustou.
(Hannah) - Desculpe, eu não quis te assustar.
Cleo continuou com uma expressão abismada e Hannah se intrigou.
(Hannah) - O que foi? Você parece ter visto um fantasma. – Ela se aproximou da amiga.
(Cleo) - N-Nada, Hannah. – Ela passou as mãos no rosto e logo se recompôs. - O que você perguntou?
Hannah a observou por alguns segundos, ainda estando intrigada.
(Hannah) - Bem, eu queria saber onde você guardou o tomilho.
(Cleo) - Ah, sim. Eu mudei algumas coisas de lugar hoje cedo. Venha, eu vou te mostrar. – Ela se levantou e logo saiu do quarto.
(Hannah) - Hum, tá. – Ela ainda estava intrigada, mas acompanhou a amiga para fora do quarto.
Na varanda, Phil havia chegado do Aurora e estava tirando as coisas do porta-malas do carro, com a ajuda de Dan. Enquanto isso, Jake e Thomas continuavam jogando Xadrez e Adie havia ido para a cozinha, ajudar no almoço.
Enquanto Jake pensava em qual peça mexer, Thomas observou Phil e Dan por alguns segundos.
(Jake) - Sua vez. – Ele disse após movimentar um cavalo.
Thomas se atentou ao jogo novamente.
(Thomas) - E então, como você tem lidado com a presença do Phil aqui na casa? – Ele observou o jogo, pensando em uma boa estratégia.
(Jake) - Hum, normal. – Ele também observava o jogo.
Thomas movimentou um peão.
(Thomas) - Eu sei que não tem sido fácil. Não se esqueça que tem quase o mesmo peso para nós dois.
Jake suspirou e movimentou um peão. Thomas o observou por alguns segundos, antes de voltar sua atenção para o jogo.
(Thomas) - Você não é bom em falar sobre o que sente, não é?
Jake o olhou.
(Jake) - Bem, tudo o que eu disser sobre isso pode me fazer parecer imaturo ou até mesmo, inseguro. Por não conseguir definir exatamente o que eu sinto ou o que sou por sentir isso, prefiro simplesmente me calar.
Thomas voltou a olhar para o jogo e movimentou mais uma peça no tabuleiro, passando a vez para Jake.
(Thomas) - Sabe... Somos parecidos nessa parte. Eu nunca fui muito bom em dizer ou demonstrar o que sinto. – Ele suspirou e desviou o olhar por um breve momento, em direção aos rapazes que ainda carregavam coisas. - Mas tudo mudou quando a Hannah desapareceu.
Jake, que estava atento ao jogo, logo o olhou.
(Thomas) - Quando eu soube que ela estava em perigo, todas as emoções que eu nunca fui bom em deixar aparecer, saíram automaticamente. Foi quando eu percebi o quanto a amo, mas também foi quando eu descobri o quão longe sou capaz de ir para salvá-la, para recuperá-la, para não perdê-la.
Jake voltou a olhar para o jogo e ficou pensativo.
(Thomas) - Foi quando descobri que eu estaria disposto a matar e a morrer por ela. Mas também foi quando descobri que, se algum idiota, como ele... – Ele apontou o dedo discretamente para Phil. - Voltar a se aproximar dela com segundas intenções, eu não responderei por mim.
Jake o encarou por um breve momento, até que voltou sua atenção para o jogo e movimentou mais uma peça no tabuleiro. Após passar a vez para Thomas, ele ficou pensativo, com o olhar distante. Ele sabia do que o Thomas estava falando, pois havia sentido um pouco de tudo isso quando quase foi pego e existiu a possibilidade de nunca mais falar com Adie. Ela era seu ponto fraco e, quando as pessoas que estavam atrás dele descobriram isso e tentaram chegar até ela, ele pôde perceber que seria capaz de tudo. Porém, ao se lembrar disso, ele compreendeu que tudo agora era diferente. Seus sentimentos por ela eram mais fortes e agora ele sabia o que é tê-la por perto. Para ele, era a melhor coisa do mundo e algo que jamais queria perder. Porém, até então, eles haviam falado somente sobre a possibilidade dele ser encontrado e ser forçado a se separar dela, mas, e se fosse o contrário? E se ele a perdesse? Se alguém a tirasse de perto dele? Se alguém a levasse para longe, como fizeram com a Hannah? O que seria dele?
(Thomas) - Jake?
Ele tomou um leve susto e olhou para Thomas.
(Jake) - O quê?
(Thomas) - Eu disse que é a sua vez.
(Jake) - Ah… Certo. – Ele voltou sua atenção para o jogo e movimentou uma peça no tabuleiro.
Enquanto isso, na sala de estar, Adie e Jessy estavam arrumando a mesa. As duas conversavam e riam de assuntos aleatórios, até que Cleo, que estava na cozinha com Hannah e Lilly, passou por elas, saindo da sala de estar.
(Jessy) - Não vai almoçar com a gente, Cleo?
Ela se virou para olhá-las, mas seu olhar foi diretamente em Adie, que continuava arrumando a mesa e intercalava seu olhar entre ela e os pratos que colocava nos lugares. No olhar de Cleo, era possível enxergar uma certa frustração e desapontamento, um sentimento confuso e, por não saber defini-lo, ela apenas se virou e saiu, sem dizer nada. Em seguida, Jessy e Adie se olharam, intrigadas.
(Jessy) - O que deu nela?
(Adie) - Sei lá. Ela está meio estranha desde aquela hora que estávamos na cozinha.
As duas continuaram intrigadas e pensativas, mas depois de alguns segundos, voltaram suas atenções para a arrumação da mesa.
Algum tempo depois, todos estavam sentados à mesa e almoçavam. A maioria conversava sobre assuntos aleatórios e até davam boas risadas com alguns deles. Porém, Cleo, mesmo tentando disfarçar, ora ou outra olhava para Adie com uma expressão que denotava seus sentimentos conflituosos. Depois de ter que lidar com o fato de que Richy, que era um ótimo amigo e que estava sempre bem humorado, escondia uma personalidade assustadora, seu medo de viver algo parecido novamente, lhe perturbava. Mesmo que tentasse se envolver nos assuntos, em sua mente, várias perguntas vinham ao mesmo tempo, enquanto observava Adie, uma mulher aparentemente inofensiva, de sorriso fácil, jeito único e com a capacidade de prender a atenção de qualquer um com suas falas firmes, mas que sempre traziam um sentido irrefutável. A pergunta mais clara que se repetia em sua mente enquanto a olhava, era: Quem de fato Adie é?
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Atualizado até capítulo 66
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