11- Phillip

– Olá rapazes, meu pai liberou o chalé para uma festa hoje, topam? – a voz da líder de torcida se fez presente e quando virei meus olhos azuis para encará-la. Minha carranca foi automática.

– Não vai rolar, Thalía. – respondi ao pegar meu equipamento para guardar.

– Poxa Phill, podia quebrar as regras pelo menos uma vez na vida não é baby? – ela veio de forma manhosa em minha direção, tentando a todo custo colocar as mãos em meus ombros e nesta hora todos os integrantes do time já me olhavam em expectativa.

Thalía, atual líder de torcida e também pertencente ao meu bando. Desde que me entendo por gente, meu pai tenta fazer com que nos aproximemos mais um do outro, ele não consegue aceitar que seu filho no último ano de escola em pleno seus dezenove anos não queria saber de garota alguma. Sempre vi Thalia como uma irmã mais nova, porém quando ela começou a se jogar para cima de mim, inventando histórias sobre qualquer pessoa ou garota que me visse conversando, percebi que além do meu pai, ela também estava obcecada por essa união e com isso me afastei o máximo que pude, talvez por isso ela tenha feito tudo que fez para ser líder de torcida.

– Já fazem três anos, três anos que você se atira para cima de mim… Não cansa? Tenha um pouco de amor próprio. – minha voz saiu fria enquanto alguns companheiros seguravam o riso, aquele era meu último ano no colégio e não queria desperdiçar.

A garota me olhou brava com os braços cruzados, ouvi um rosnado saindo de seus lábios e em seguida ela saiu pisando duro.

– Cara, isso foi cruel! Sabe que ela vai correndo contar para ele, não sabe? – um dos rapazes falou e apenas dei de ombros.

– Falei alguma mentira? Deixe que com meu pai, eu mesmo me resolvo. – perguntei ao jogar as mechas rebeldes de meu cabelo para trás e o vi balançar a cabeça negativamente.

– Ela realmente mereceu. Thalía precisa cair na real que ninguém é obrigado a ficar com ela apenas pela posição, Foster fez bem. – A voz do treinador surgiu atrás de nós e todos viraram para encará-lo.

O treinador do time era bastante rígido sobre seus jogadores se envolverem com as garotas e em polêmica, afinal o pai dele era treinador do time e tinha orgulho do mesmo nunca ter perdido um campeonato na vida, claro que isso era graças as estrelas da família Beauchamp. Um legado que começou com Esteban, perdurou com Luke e quase se findou em Juan, o garoto problema da família que foi expulso da escola e quase levou o time junto se não fosse pela minha chegada. Não gosto de me gabar, mas aquele garoto é problema.

Com o fim das aulas estava pronto para ir pra casa, tomar um banho quente e relaxar do meu dia atarefado. Tudo estava indo bem até esbarrar nela, um sorriso surgiu nos meus lábios, afinal aquele era o maior contato que tínhamos desde que ele entrou no colégio e tudo foi por água abaixo quando senti o cheiro do seu primo. Segurei o rosnado que veio até minha garganta e encarei o loiro com raiva e nojo. O soco que Juan me deu no rosto quando o pai de Luke foi morto ainda estava fresco na memória, e ver a maneira como o loiro defendeu o primo me deixou mais furioso ainda.

Nossa alcateia não tinha culpa que Sebastian havia sido morto por um lobo solitário, e culpar a nós todos era como generalizar uma raça inteira. Ignorei o máximo que pode as provocações e indiretas que Luke fazia sempre que nos encontrava, talvez isso tenha ajudado a me decidir nunca se quer trocar uma palavra amigável com aquela Beauchamp nova.

(...)

– Então, quando me formar poderei viajar conforme meus planos? – perguntei ao entrar dentro de casa e jogar meu material sob o sofá, Kevin estava sentado na mesa olhando o jornal enquanto Olívia descia as escadas com seu olhar revoltado de sempre.

– Sabe que ele não me deixa nem mesmo ir na cidade vizinha, o que te faz pensar que com você será diferente? – Olívia respondeu ao cruzar os braços na altura da cintura sorrindo de forma debochada.

Olívia Foster, a irmã mais velha que ninguém pediu. Se lembra quando disse que ele já era casado quando fui concebido? Pois bem, ele tinha uma filha também, de sete anos na época. Hoje ela tem a mesma idade que os gêmeos Beauchamp, uma loba assim como eu. Liv, como gosta de ser chamada, é a típica garota que banca a dócil e inocente até ter o que deseja, bastante protetora com sua família e embora eu suspeite que sim, ela teima em dizer que não sente nada por Luke Beauchamp, o que seria um enorme erro, pois como eles são netos de uma bruxa, todos aqui os veem como impuros, mestiços.

– Soube pelo treinador que hoje foi tudo bem. E que você foi um pouco grosseiro do Thalía. – Kevin finalmente abriu a boca para falar ignorando totalmente minha pergunta anterior o que me fez bufar em frustração, Liv apenas riu pois já sabia que ele fazia assim quando não queria responder.

– Foi pelo treinador mesmo, tem certeza? Estou lá para jogar futebol e não ficar flertando com Thalía. A garota parece um chiclete, não desgruda nunca. – retruquei quando peguei minhas coisas pronto para subir.

– A garota nova, fique longe dela, entendeu? Porque me lembro vagamente de Thalía falar que no segundo dia você não tirou os olhos dela… – estava no terceiro degrau quando as palavras dele me atingiram com certa força. Segurei com força o corrimão da escada e procurei colocar o mais lindo sorriso que tinha nos lábios antes de responder.

– Uma Beauchamp sempre chama a atenção, seja pela beleza ou pelo cheiro… E pode apostar esta garota nova, não faz o meu tipo. – quando soltei o corrimão voltei a subir.