08 - Louise

Já estava me acostumando a acordar todos os dias com Cristal entrando com seu jeito alegre e espevitada. Minha mãe estava mais à vontade e sorria com mais frequência, meu primo Juan por outro lado devia estar contando os dias para se ver livre de nós naquele lugar.

Minha mãe passava  a maior parte do dia junto com Juan, ensinando e chamando sua atenção. Evangeline dizia fazer bem ao garoto já que ele não tinha uma figura paterna por perto e não respeitava vovó Agnes e nem nossos primos Luke e Cristal, por outro lado Tia Eva fazia de tudo para que eu não sentisse ciúmes da atenção recebida por Juan, o que não me incomodava nenhum um pouco na verdade até gostava, pois assim não precisava contar como era meu dia a dia na escola e como em duas semanas já tinha me tornado a esquisita deles.

– Tchau mãe, te vejo depois da aula. – gritei do pé da escada após pegar minha mochila e sair praticamente correndo porta afora, o ônibus escolar passava na estrada em frente ao rancho então nem foi preciso dizer que por uma semana fui a nova sensação da escola, a aluna misteriosa que morava no rancho Beauchamp, embora desconfie que a maioria dos olhares que recebia era de puro desprezo.

– Posso saber onde a senhorita está indo assim? – Luke parou a minha frente com as mãos na cintura, automaticamente tampei meu rosto em profunda derrota, pois jurava que ele estava na cidade junto com Cristal e Tia Eva.

– Achei que estivesse na cidade… mas respondendo a sua pergunta, vou para escola. – falei ao me desvencilhar dele e começar a caminhar em direção a estrada de terra que ligava nosso rancho ao ponto de ônibus.

– Vem, vou te levar de carro. – Luke chamou ao me puxar pela alça da mochila, a careta já mostrava que não queria aquilo, mas sabendo como meu primo mais velho era insistente e bastante dramático apenas me dei por vencida e entrei na caminhonete.

A estrada estava calma, sem muito movimento de carro e se não fosse pelo som alto facilmente dormiria ali naquele banco até chegar na escola.

– Lou, sei que só faz duas semanas, mas se tiver qualquer problema na escola não exite em falar comigo, sei que não é fácil contar as coisas para sua mãe… Mas sou seu primo e estou aqui para te proteger, de tudo. – A voz de Luke soou tão baixa e calma que por alguns minutos fiquei assustada me perguntando quando foi que o volume do rádio tinha diminuído. Sorri fracamente enquanto apoiava minha cabeça na janela.

– Sabe, os Beauchamp deixaram um legado antes de mim… sinto que vivo à sombra de vocês. E todo mundo está aguardando me ver fazer algo, só queria passar despercebida.  – falei olhando agora para meus dedos que se mexiam sem parar ao segurar a alça da mochila.

– Mary Beauchamp a popular, seu primogênito Benjamin o ótimo receptor do time, Evangeline a inteligente, depois veio seus filhos os gêmeos prodígios Cristal e Luke, a líder de torcida e o quarterback, aí vem a ovelha negra Juan Beauchamp o delinquente, filho do grande atacante do time Esteban Beauchamp… Todos naquela escola olham para mim esperando ver qual rótulo vai sobressair, e atualmente sou a fracote esquisita, quando na verdade só queria ser a invisível. – suspirei quando voltei meus olhos para ele, Luke me olhava com amor e carinho, sua risada foi algo impagável, era bonita e leve, gostei de ouvi-lo rir.

– Sei que nosso sobrenome tem um peso enorme na cidade, mas seja você mesma. Não vou ligar se você for a nerd ou a esquisita, pra mim sempre será minha pequena Lou-Lou. Ignore os rótulos e seja feliz, me promete? – ele perguntou quando estacionou o carro em frente a escola, naquele momento todos os olhos estavam voltados para minha pessoa prestes a descer do carro.

– Prometo, com uma condição. Quero te ouvir rir mais vezes. – falei fazendo biquinho e uma cara de pidona, Luke riu com isso e alisou minhas bochechas concordando com tudo. Antes que eu descesse do carro ele beijou minha testa e encarou todos os possíveis garotos que seriam uma ameaça.

– Venho te buscar às 15h, nada de andar de ônibus mais mocinha. – Luke falou sério e acenou. Quando ele saiu com sua caminhonete preta suspirei. Por algum motivo meu primo mais velho estava tirando parte do seu dia para cuidar de mim, a prima que veio de longe, achava isso fofo de certa forma, afinal ele não pode fazer isso com Cristal pois ambos têm a mesma idade e ambos queriam aproveitar a vida quando mais jovem.

(...)

– Boa tarde! Te esperei no ônibus hoje e nada! – a voz alegre de Rose Collins invadiu minha audição cortando assim todo meu pensamento de como fazer novos amigos e ser mais sociável, afinal de contas qual melhor forma de passar despercebida se todos souberem seu nome, quanto mais souberem de você, menos misteriosa fica e esquisita também, olhei sorrindo para ela.

– Luke me trouxe hoje. – respondi ao ajeitar a mochila nas costas, estava voltando a caminhar quando Rose entrou bruscamente na minha frente fantasiando como meu primo.

Rosalie Hernandez, a primeira pessoa que conversou comigo quando entrei na escola. Ela parecia saber tudo sobre todos, e assim como eu era apenas uma esquisita vista por todos, talvez por isso tenha me dado bem com ela.

– O príncipe Beauchamp vai te buscar? Podia me apresentar a ele…– Rose estava empolgada, em duas semanas aprendi a diferenciar quando ela se empolgava e quando sentia vergonha.

– Você tem a mesma idade que eu, sabe disso não é? Luke não olharia para você daquele jeito…  Seria estranho. – respondi dando de ombros enquanto mantinha meus olhos na expressão dela.

– Não subestime o poder de uma mulher! – Rose tentou fazer sua melhor expressão sedutora, o que arrancou algumas gargalhadas minhas. E assim, em meio a risada me dei conta que tinha  uma amiga.

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