07- Mary

O tempo que minha filha levou para acordar e enfim descer, serviu para conversar com minha mãe e irmã sobre algumas coisas, claro que também sabia que meu sobrinhos iriam participar do assunto de forma involuntaria.

– Nenhum sinal? Força, audição, velocidade… Nada? – Cristal perguntou ao se juntar a nós três ali na sala de estar, mesmo com o olhar reprovador de minha irmã.

– Não… tenho medo por ela. A alcateia já rejeita nossa família, quando souberem que Louise não é uma de nós, eles podem exigir seu banimento apenas por capricho… – Falei ao voltar meus olhos para cima, minha mãe estava em silêncio apenas ouvindo. Ela sabia os sacrifícios que foram feitos e sobretudo sobre o trato que meu pai havia feito com o alfa pai de Kevin, e que agora o mesmo honraria.

– Já somos excluídos da alcateia, eles não possuem poder algum sobre nós. Se esqueceu disso tia? Somos nossa própria alcateia e cuidamos uns dos outros, isso não vai mudar se minha prima não for uma loba como os demais. – A voz de Luke me chamou a atenção e Cristal concordava com cada palavra dita pelo irmão, isso me fez sorrir.

– Isso é verdade, cuidamos do Juan que é o mais problemático… Cuidar da minha linda prima vai ser moleza! –  Cristal falou com um sorriso fraco.

– Ainda estou ouvindo Cristal, ainda estou ouvindo! – Juan que se encontrava no canto da sala em silêncio se pronunciou fazendo todos rirem.

– Vamos para a mesa, irei fazer o café e Cristal acorde a Lou por favor. – Minha mãe falou ao se levantar caminhando em direção a cozinha. A verdade sobre Agnes Beauchamp é que a mesma se sentia culpada por tudo que sua familia passou e ao mesmo tempo se sentia grata por ter conhecido o amor, e concebido três crianças, ela nos chamava de presentes.

– Bom, mudando de assunto, como é a liderança do Kevin? – perguntei com certo receio, a última vez que o vi o mesmo tentava a todo custo bater de frente com o pai para que pudesse se casar comigo, mesmo sabendo que não o amava.

– Ele como xerife é bastante imparcial, agora como alfa… É um verdadeiro pé no saco. Não podemos cruzar a fronteira ao sul da cidade que já considera invasão, nossos clientes são apenas humanos, nesses últimos dez anos os anciões dificultaram muito nossa vida, se não fosse por Lorenzo e alguns bruxos que se solidarizam com a mamãe, estaríamos em sérios apuros. As vezes sinto que a alcateia quer nos ver rastejando de volta para eles, sabe o desejo de ver nosso pai implorando para voltar? Pois é, acho que transferiram esse desejo para nós. – Eva falou com calma enquanto seus filhos concordavam.

– Não vamos nos esquecer do idiota do filho dele, que lidera outro bando de idiotas. Sinceramente, seria melhor se nossa familia se mudasse e começasse em outro lugar. – Luke falou com desdém, sendo repreendido por sua mãe apenas pelo o olhar.

– E ainda temos a questão do rebelde sem causa ali, os anciãos vão querer a cabeça dele, mais cedo ou mais tarde. E em breve eles viram pela Lou Lou. –  Cristal falou apontando para Juan antes de subir as escadas. Cocei a testa com certo receio, e voltei meus olhos para Juan.

– Você é um lobo e um Beauchamp, só aqui já tem dois fatores para querer que ande na linha, e ainda por cima a sua fama não é das melhores. A menos que queira passar duas semanas na prisão no deserto, sugiro que comece a mudar. – Falei firme e o vi retrair os ombros.

– Vai mesmo seguir as ordens dos anciãos? – Juan perguntou incrédulo, mas antes que pudesse responder Luke tomou a palavra.

– Você faz ideia do acordo que nossa familia tem com os anciãos?  Para que nossa familia tivesse paz, o trato é que sempre que a ordem vier dos aniões deve ser acatada e em troca eles permitem que nossa familia possa andar livremente por essa cidade… Juan já te explicamos várias e várias vezes. – Luke finalizou ao me ajudar levantar de onde estava. Ouvimos o barulho de Louise ao cair da cama o que resultou em uma risada escapando dos lábios de Juan, nesse momento Luke me olhou assustado.

– O Anticristo, sabe rir! – Luke falou me fazendo segurar o riso antes de dar um tapa em seu braço.

Juan não pareceu gostar da brincadeira e saiu bufando em direção às escadas, retornando logo depois ao lado de Louise ainda com a expressão seria.

(...)

Tinha me esquecido como era estar novamente em casa, o café da manhã foi no mínimo caótico a ponto de precisar conter a língua de minha irmã que contava mentiras sobre Kevin e eu. Não me dei conta até arremessar a panqueca em sua direção e depois voltei a rir.

– Irei ao colégio matricular Louise, na segunda feira. – Falei tranquilamente e vi os olhares que me foram lançaram.

Sabia que em certo momento minha filha teria que conviver com os desafios de todo o Beauchamp, mesmo que no colégio houvesse pessoas normais ainda sim a maioria era os lobos, mesmo assim consegui me sair bem na epoca do colegio, ela também teria o mesmo sucesso com toda certeza.

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