A Dívida
Naquela noite, chovia bastante durante a madrugada e Sofia sabia que aquilo era um prenúncio de um dia ruim. Ela tentava se concentrar em seu estudo, pois teria uma prova na noite seguinte, mas era difícil com aquele barulho de goteira, pigando por todo seu quarto. O telhado estava com vários buracos e devido à condição financeira da sua família, o conserto teria que esperar mais um pouco.
Sofia pertencia a uma família extremamente humilde. Ela trabalhava em dois empregos e a noite, ia para faculdade. Por ser bastante estudiosa e esforçada, ela conseguiu uma bolsa semi-integral e o restante da mensalidade era custeada pelo seu trabalho, que também ajudava no sustento da sua família. Era curioso o fato de uma jovem tão humilde ter escolhido o curso de design de interiores, mas Sofia gostava de desenhar desde pequena e com o passar do tempo, desenhar ambientes bonitos, para que as pessoas pudessem viver e trabalhar, passou a ser seu sonho.
SOFIA
“Meu Deus do céu. Eu estou tão cansada, mas ainda falta tanta coisa para estudar.” Pensou Sofia aflita. Ela não podia se dar o luxo de dormir para voltar a estudar depois, pois logo vedo ela tinha que correr para a cafeteira onde trabalhava, pela manhã. Com certeza, o trânsito estaria insuportável por conta de toda aquela chuva da madrugada.
Infelizmente, ela não podia contar com ajuda de seus pais. Carlos, o pai de Sofia, era viciado em jogo e alcoólatra. A mãe de Sofia, Dona Ana, era completamente submissa ao marido. Ela trabalhava passando roupa para fora e entregava todo dinheiro que recebia a Carlos, que torrava tudo em bebida e jogo.
— Que droga, mulher! — Gritou Carlos, de manhã cedo, acordando Sofia. — Onde está o dinheiro da diária de ontem?! — Ele gritou completamente fora de si.
— Carlos. — Choramingou dona Ana. — Eu usei o dinheiro para fazer a feira. Nós estávamos com pouca comida.
— Quantas vezes eu já disse a você que sou eu quem resolve isso?! Você tem que me dar o dinheiro e ponto final. O destino dele sou eu quem decido.
Praticamente, em todas as manhãs, Sofia era acordada por gritos de seu pai, discutindo com sua mãe. Era até um dia bom, quando era só discussão. Contudo, tinha dias que Carlos batia em Ana e aquilo deixava Sofia arrasada, pois não tinha muito que ela pudesse fazer para ajudar sua mãe. A única coisa que deixava Carlos mais tranquilo era dar dinheiro para que ele pudesse manter seus vícios. Denunciar seu pai a polícia não era uma opção para ela. Por pior que o homem fosse, ele era seu pai, o homem que a colocou no mundo, que a criou e que durante um curto período da sua vida, a sustentou e a manteve segura.
— Bom dia papai, bom dia mamãe. — Sofia cumprimentou seus pais assim que entrou na cozinha. Aquilo era uma pequena tentativa dela de acalmar os ânimos dele e encerrar aquele bate—boca.
— Bom dia uma ova! — Exclamou Carlos se dirigindo a Sofia. — Sua mãe não me entregou o dinheiro da diária de trabalho dela de ontem!
— Eu precisava comprar comida para nossa casa, filha. — Justificou, mais uma vez, Ana.
— Você já deve ter recebido seu salário esse mês, Sofia. — Carlos falou num baixo e ameaçador, estreitando os olhos.
— Eu já recebi. — Confirmou Sofia temerosa. — E já lhe dei tu do que podia, pois preciso de uma parte para o pagamento mensal da minha faculdade.
— Essas mensalidades da faculdade são muito caras. Você deveria somente trabalhar. Não sei por que insiste tanto para estudar a noite. É muito cansativo. — O tom de voz de Carlos era cínico.
— Eu tenho uma bolsa semi-integral na faculdade, papai. — Sofia respondeu tentando controlar a raiva. Sabia que seu pai não estava preocupado com seu cansaço. Ele queria era mais dinheiro. — Dessa forma a mensalidade não fica tão alta. Trabalho em dois empregos justamente para pagar universidade e ainda ter um pouco de dinheiro para lhe dar. Não seria tão cansativo se o senhor trabalhasse e ganhasse seu próprio dinheiro. — Sofia falou sem pensar. Não sabia de onde tinha tirado coragem para falar aquilo ao seu pai, que era um homem violento e estourava por muito pouco.
— O que você disse? — Carlos indagou trincando os dentes. — Repita o que você falou, sua atrevida! — Ele gritou assustando Sofia. — Você tem um teto para morar graças a mim! Devia passar o resto da sua vida trabalhando para me retribuir! Você e essa sua mãe inútil!
Depois daquele último arroubo de raiva, Carlos seguiu para seu quarto, deixando Sofia e Ana sozinhas na cozinha.
— Acho que agora podemos tomar café da manhã em paz. — Sofia comentou com sua mãe se servindo de café apressadamente, pois precisava sair para seu trabalho.
— Minha filha. Não provoque seu pai. Eu não sei o que eu faria se ele passasse a lhe agredir também.
— Você não faria nada, mamãe. — Sofia respondeu triste. Sua mãe nutria um amor doentio por seu pai. — Eu já pedi tantas vezes para irmos embora dessa casa. Poderíamos alugar o quartinho e vivermos em tranquilas, sem sermos exploradas.
— Não diga isso. Sabe que não posso abandonar seu pai.
— Sei sim. — Zombou Sofia. — Bem, eu não tenho tempo para continuar com esse assunto. Preciso correr para cafeteria. Não posso chegar atrasada.
Dito isso, ela se levantou da mesa e saiu apressada em direção ao ponto de ônibus. Naquele mesmo instante, após verificar que Sofia já tinha saído para trabalhar, seu pai entrou em seu quarto.
— Qual será o novo esconderijo onde Sofia guarda dinheiro. — Carlos disse em voz alta. — Pelo que ela falou, ela ainda não pagou a mensalidade desse mês. Esse dinheiro deve estar aqui em algum lugar.
Pouco tempo depois, Carlos encontrou o dinheiro que Sofia tinha separado para o pagamento da mensalidade e saiu animado em direção a sua casa de jogo preferida. A casa de jogos que ele frequentava, funcionava 24 horas e era extremamente luxuosa. Pertencia a um homem riquíssimo, que tinha fama de ter vários empreendimentos ilícitos. Alguns comentavam que ele era da máfia americana, mas Carlos não se preocupava com aquilo. Ele queria era jogar, nutrindo a esperança de que um dia ganharia bastante dinheiro.
Raramente, Sofia voltava na hora do almoço para casa, mas ela tinha percebido que esqueceu o dinheiro da mensalidade da faculdade e precisava pegar, pois hoje era dia de pagamento. Não tinha ninguém em casa naquele momento e Sofia começou ao ficar nervosa ao se dar conta que o dinheiro havia sumido.
“Eu não acredito que papai foi capaz disso.”Ela pensou angustiada. Carlos já tinha roubado da própria filha outras vezes, mas nunca tinha comprometido a mensalidade da faculdade dela. Até porque, Sofia tinha bastante cuidado com aquele dinheiro. Contudo, dessa vez, ela não conseguiu evitar o pior.
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Atualizado até capítulo 108
Comments
Anonymous
Sofia vai embora e deixa sua mãe com seu pai, eu já teria feito isso, depois que sofrer e estiver numa boa eles vão se arrepender e pedir perdão. Deus me livre de pais assim, e que mãe idiota.
2024-10-22
0
Gessivania Benevinuto
Show de capítulo
2024-09-17
1
Marilza Motta
que desespero é ainda ser roubada pelo próprio pai
2024-04-18
1