Os eventos seguintes acontecem rápido demais. Christian, o ladrão de guarda-chuva, desce a escada a passos largos, e atravessa a rua sem olhar para trás. Ainda estou surpresa com o que ele acabou de fazer e demoro um pouco para voltar à realidade.
Decidida a recuperar o meu guarda-chuva — e quem sabe, esbofetear Christian —, corro atrás do sujeito que já anda normalmente pela rua pouco movimentada, usufruindo meu belo guarda-chuva transparente que muda de cor no escuro. É um grande insulto ele estar com o meu guarda-chuva e não consigo controlar a onda de raiva que me invade. Ele não tinha esse direito!
Há algumas pessoas que me olham desentendidas e outras, assustadas, quando esbarro em Christian e me agarro em sua perna direita, acabo me sujando de lama e solto um xingamento baixinho. Ele para de andar e me olha confuso, embora esteja esboçando um sorriso de divertimento. Como ele ainda tem a cara de pau em me olhar assim?!
— O que está fazendo? — Pergunta, friamente.
— Devolve o meu guarda-chuva!
— Não. — Nega secamente. — Eu preciso dele, Beatrice. — Christian fala, entediado. — Pode, por favor, soltar a minha perna?— indaga pacientemente.
— Não. Devolva o meu guarda-chuva, agora! — Esbravejo, impaciente.
— Não. Preciso dele. — Christian tira as minhas mãos de sua perna com uma paciência surpreendente.
Ele sai andando e me deixa sozinha na rua. Não me movo, fico esperando por ele. Sei que vai voltar, sei que vai... não seria tão cruel. Fico parada na rua, deixando nítido que estou magoada e me questiono porque fui tão ingênua, se Christian é um desconhecido...
Ele volta, demora uns dez minutos, mas volta. Está segurando uma capa de chuva transparente, tamanho médio e quando se aproxima de mim, coloca a capa em meus ombros e diz:
— Resolvi o seu problema. — Me olha, esboçando um sorriso cínico. — é sua.
— Eu não quero vestir isso, — Devolvo a capa, fazendo uma cara de reprovação. — use você.
— Pensa que cabe em mim? — Pergunta, num tom de indignação. Respira fundo e continua, dizendo calmamente: — Se tivesse alguma capa de chuva para a minha altura, não pegaria o seu guarda-chuva emprestado, Beatrice.
— Você roubou — Corrijo, num tom de afronta, o que é uma novidade até para mim.
— Me emprestaria se eu pedisse? — Ergue uma sobrancelha e me encara.
Cruzo os braços e o olho de cima a baixo.
— Provavelmente não.
— Então! — Christian ri, vitorioso. Fica sério e me olha dramaticamente. — O que você quer que eu faça? — Indaga, passando a mão nos cabelos escuros e brilhosos, colocando, mais uma vez a sua franja para trás.
— Quero que devolva o meu guarda-chuva — Respondo, com calma e simplicidade.
— Isso não será possível. — Ele respira fundo, pacientemente. Continua, falando com tranquilidade. Sujeito cínico. — Preciso ir aos Correios buscar uma encomenda, antes que o prédio feche. Depois, devolvo o seu guarda-chuva. Fica a seu critério, doçura — Christian dá de ombros e esboça um sorriso travesso.
— Não me chame assim.
— Como quiser, Beatrice... — Fala o meu nome enfaticamente e me olha com divertimento.
Reviro os olhos e faço uma careta. — Enquanto busca a sua encomenda, o que eu faço?
— Venha comigo, se desejar. — Christian sugere com desinteresse.
— Não te conheço, como posso confiar que não vai me sequestrar?
Questiono baixinho, mas ele escuta e me olha de relance.
— Não vou te sequestrar, doçura... a única coisa que me interessa nesse momento é a minha encomenda e o seu guarda-chuva para não molhá-la.
Rio com ceticismo.
— Isso é o tipo de coisa que um sequestrador diria.
Ele ri, sem jeito.
— E eu pareço um sequestrador? — Indaga, a indignação aparente.
Fico em silêncio, apenas afirmo com a cabeça. Não sou de julgar as pessoas pela aparência, mas Christian tem um ar misterioso, poderia muito bem ser um sequestrador. Vendo que estou um pouco tensa, ele suspira, está impaciente.
— A escolha é sua, doçura.
— Beatrice. — Corrijo, revirando os olhos.
Christian está andando a passos largos, provavelmente decidido a me deixar para trás. O que devo fazer? Eu amo o meu guarda-chuva e as memórias que o acompanham... não posso deixá-lo na mão de um estranho. Mas você também não pode seguir um estranho! Minha consciência está lutando para ter a razão, mas eu a ignoro. Respiro fundo.
Dou de ombros, visto a capa de chuva e o sigo.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Lourdes Rodrigues
gostando 😏
2023-03-04
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