Capítulo 3

A primeira coisa que Tae-ho reparou do local em que ele iria se encontrar pela primeira vez com o atual Diretor das Companhias Hyun, era que ele definitivamente não combinava com ele. A fachada do restaurante era definitivamente bonita, organizada, e gritava para todos os quatro ventos que ali pertencia a classe rica e dominante da sociedade.

     Com um suspiro pesaroso e com um nervoso contido, o mais novo dos Kim se retira do carro enviado para busca-lo. Ele não soube ao certo quando seu pai organizou aquele encontro, mas não ficou suspreso já que no último dia ele havia ficado — praticamente — grudado em seu celular.

— Sr. Kim? - uma voz doce e calma soou por seus ouvidos quase que imediatamente após seus pés tocarem o primeiro degrau da entrada do restaurante. Automaticamente seus olhos se voltaram para quem quer que fosse.

     Alto, ombros largos. Um forte aroma que denunciava a qual classe ele fazia parte. O alfa que se aproximava de si de forma cautelosa e firme, possuía um sorriso doce em seus lábios, e por um momento, Tae se permitiu observa-lo.

     Terno cinza escuro perfeitamente emoldurado contra seu corpo, sinal de que havia sido feito sob medida. Assim como seus óculos que combinavam perfeitamente com o formato marcado de seu rosto, e seu nariz suavemente arredondado. Seus cabelos eram de um tom castanho escuro, e seus olhos cinzentos marcados pela idade, demonstravam que o homem muito provavelmente tinha mais do que 30 anos.

     O alfa possuía uma beleza máscula, o que de certa forma, contrastava e combinava com seu olhar doce e sorriso de menino.

— Sim? - respondeu de forma firme, sem se importar em demonstrar que não o conhecia de maneira alguma.

— Eu sou Min-Suk Baek, atual secretário do Sr. Hyun. Por favor me acompanhe, o levarei até a sua mesa. - embora sua voz soasse calma e suave, era explícita a ordem nela, assim como era óbvio seu olhar afiado o analisando dos pés a cabeça.

     Ele sabia que o homem fitava as roupas que ele usava, e ainda assim, se ele soubesse com antecedência que fosse ser observado daquela maneira, ele teria feito ainda mais questão de vestir com gosto aquela calça jeans rasgada.

     Ele não estava apropriado para o lugar em questão, mas não se importava nenhum pouco com isso.

     Com  acenar leve de cabeça, Tae observou o homem aos poucos passar a adentrar o local, e ele não tardou em segui-lo, observando detalhadamente cada um dos cantos dos lugares pelo o qual passava. E embora seu coração se tornou apreensivo quando notou que estava sendo direcionado para um salão privado, Tae-ho ignorou tal sensação, já que de todas formas, nada verdadeiramente bom sairia dali.

     Os olhos cor de mel do mais novo dos Kim contemplaram o espaço bem aproveitado e grande da sala privada que foi levado. O homem que o acompanhava, Min-Suk, o deixou na porta dizendo que logo Hyun o acompanharia, e sozinho, Tae-ho caminhou em direção ao grande sofá se couro no meio do ambiente.

     Havia outro, do mesmo tamanho em sua frente, e uma poltrona no mesmo estilo há sua direita. Tae observou o ambiente claro mas de luzes graxas, a extrema organização e cuidado com cada objeto de decoração do mesmo. Era bonito à vista, confortável até demais para um ser humano tão nervoso e aflito como naquele momento, ele estava.

     Tae engole em seco quando mais uma vez a realidade cai sobre si, e ele outra vez a ignora completamente, principalmente quando finalmente compreende que o vinho sobre a mesa redonda no centro, provavelmente estava ali disponível para ele.

     Um copo, dois copos, três copos...

     E Tae beberia o oitavo se repentinamente, todos os pelos de seu corpo não tivessem se arrepiado em sinal de alerta quando repentinamente um aroma forte de algo que não soube distinguir adentrou suas narinas.

“Mas que diabos!?”

     Instintivamente se levantou do sofá onde estava e passou a fita a porta de entrada do local. Seu coração passou a bater constantemente contra a caixa torácica de seu peito a medida que ele recuou alguns passos para trás. Ele não entendia o porque, tampouco aparentava ter outro alguém do outro lado de fora, mas ainda assim, seu corpo reagiu repentinamente a quem quer que fosse que possuía aquele aroma.

     Foram cerca de segundos desde que Tae-ho sentiu o alerta em seu corpo, até a porta de entrada para a sala ser aberta, mas ainda assim para o castanho, aquele mísero tempo pareceu uma eternidade.

     As portas duplas do local foram abertas com suavidade, e Tae fitou imediatamente o homem que adentrou por elas. Novamente, ele engoliu em seco.

     Estatura alta, ombros largos. Um perfeito e belo conjunto de terno do tom negro que combinavam perfeitamente com os fios opacos e do mesmo tom de seus cabelos. No exato momento em que seus pés adentraram a sala, seus olhos carvão se encontraram com o dele, e Tae se sentiu sufocar quando o mesmo passou a se aproximar. E um suspiro escapou de Hyun quando ele percebeu a situação.

— Respire, devagar e calmo. - a voz firme do mais velho soou por todo o local silencioso conforme aos poucos, ele se aproximava do menor.

     Com cautela o mesmo levou suas mãos para ambos os lados do rosto do castanho, elevando-o e o obrigando a fitar seus olhos.

     Cabelos castanhos claros, olhos cor de mel. O ômega não possuía uma estatura baixa ou um corpo esguio como geralmente eles eram, seu toque era firme, Hyun percebeu isto no exato momento que ele segurou sem cautela em seu pulso, em uma falha tentativa de afasta-lo de si.

— Respire. - repetiu novamente, vendo o corpo do menor tremer suave abaixo de seu toque enquanto tentava se acostumar com o aroma que incomodava seus sentidos.

     Jihoon não podia considerar aquele cheiro que naturalmente emanava de seu corpo, feromônios, já que infelizmente ele não podia controla-los. Geralmente betas se sentiam incômodos ao seu redor por conta disso, alfas se irritavam pois se sentiam constantemente ameaçados, mas os ômegas, adquiriam uma instintiva posição diminuta de medo ou pavor extremo. Obviamente não era como se Hyun quisesse aquilo, mas sim, ele simplesmente não conseguia controlar suas glândulas de produzirem aquele aroma — seja qual for — em específico.

     Era instintivo de seu corpo assegurar sua posição e classe mais elevada. Ele não podia fazer muito quanto à isso, embora na maioria das vezes ele desejasse ser capaz de fazê-lo.

     Ele observou com atenção quando o mais jovem tratou de seguir seu pedido, respirando profundamente e de forma calma para assim, se acostumar — ao menos — com sua presença.

“Definitivamente uma situação extremamente caótica.”

     Tae-ho pensou conforme ainda encarava as orbes negras acima de si. O aroma que se desprendia inconscientemente do homem não era ruim — o castanho tinha que ressaltar. Mas ainda assim, era auspiciosa o suficiente para fazer cada célula de seu corpo tremer em medo e cautela.

     “Este homem é perigoso!”, anunciava seu consciente com rispidez, “Afaste-se!”, ditava vez ou outra contra seu âmago. Mas não era como se o ômega — naquele momento — fosse capaz disso.

     Tae-ho fecha seus olhos suavemente, respirando fundo uma vez ou outra, tentando inutilmente fazer desaparecer aquela sensação de desamparo e ameaça que sentira desde o momento que o alfa se colocou no mesmo ambiente que ele. Mas com certeza, não era uma tarefa fácil.

     O castanho queria de afastar, se retirar daquela sala, fugir para sua casa e se trancar em seu quarto. A presença daquele homem era dominante, e avassaladora o suficiente para fazê-lo desejar nunca mais encontra-lo em sua vida.

     Naquele momento Tae-ho Kim estava malditamente assustado, quase como se fosse um garotinho de três anos que havia se perdido de seus pais na multidão. E de fato, ele detestou com todas as forças aquela sensação.

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