Capítulo 10

Charlie

Nunca vi Setembro ser tão devagar para passar, após Marie ser presa na semana passada o trabalho ficou monótono, eu verifiquei as câmeras de segurança da cafeteria e realmente ela não estava mentindo, estou fumando meu charuto olhando pela janela.

Faresh: Chefe?

Olho para Faresh.

Charlie: Pode falar.

Faresh: Saiu a data do julgamento da Marie

Charlie: e pra quando é?

Faresh: Próxima segunda

Concordo com a cabeça, aquela mulher é um perigo.

Faresh: Enviaram um advogado para ela, a carcereira disse que ela mandou o homem sumir da frente dela e olha que ele é parecido com você.

Olho para Faresh

Charlie: Parecido comigo?

Faresh: Sim, alto, forte, o cara até que é bonito e ele está aqui pra te ver.

Um homem da mesma altura que eu se aproxima.

Homem: Detetive Faresh, Detetive Ankh, sou o advogado da senhorita Adams, Enzo Hostie.

Aperto sua mão.

Charlie: o que te trás aqui senhor Hostie.

Enzo: Minha cliente disse em alto e bom som bem com sentimento de raiva: Não quero ser defendida por ninguém e que se Charlie quer ajudar, ele que venha até mim. Preciso conversar com ele.

Olho para Faresh que também me olha.

Charlie: Mas eu não te enviei lá.

Enzo: Ela não quis me ouvir e saiu da sala sem mais nem menos.

Charlie: Eu não vou lá.

Me viro para a janela voltando a fumar meu charuto

Faresh: Charlie, desculpa me intrometer, mas ela precisa estar com o advogado na próxima segunda e se ela quer conversar com você, vai lá, talvez tenha algo que não sabemos sobre esse caso.

Respiro fundo e solto o ar em seguida.

Enzo: Detetive Ankh, eu pedi para fazerem um julgamento antes, pois a juíza já havia decretado sentença de morte para senhorita Adams.

Charlie: Mas ela já decretou assim?

Enzo: Pelas minhas pesquisas a juíza é uma parente próxima da última vítima.

Charlie: e ela acha correto usar sentimento numa decisão sobre a vida de outra pessoa?

Enzo: Por isso pedi por outro juízo nesse julgamento.

Concordo com a cabeça.

Charlie: Vou ver a Senhorita Adams amanhã, hoje tenho muita coisa para fazer.

Volto para minha mesa enquanto Faresh acompanha o advogado Enzo, fico digitando algumas coisas sobre o caso da Marie no computador.

Faresh: Eu falei que ele era bonito, quem sabe se ele conseguir tirar a Marie da cadeia, ela se interesse por ele né.

Olho feio para Faresh que me dá um sorriso vitorioso.

Charlie: Você quer perder seu distintivo?

Faresh: Já estou me retirando chefe.

Ele sai andando com as mãos levantadas em sinal de desistência. O restante do dia passa tranquilo, quando termina meu turno vou para casa, tomo um banho e me jogo na minha cama.

Charlie: O que você tem pra me falar em Marie?

Respiro fundo e desligo o abajur que está ao meu lado, caio no sono e rápido vencido pelo cansaço do dia. Acordo cedo e me arrumo, vou para a penitenciária que leva cerca de uma hora de viagem, chegando lá mostro o distintivo.

Dan: Ah detetive Ankh, ela está na cela, vou avisar que está aqui, pode me acompanhar para a sala de visita.

Acompanho a carcereira e fico em pé na parede do canto esperando Marie aparecer, ela está diferente, seus braços ganharam um pouco mais de músculos, seu corpo está bem mais definido do que antes, ela se senta na cadeira e me olha.

Dan: trinta minutos de visita intima.

Marie: Obrigada Dan

Charlie: Visita Intima? que...

Marie: Eu que pedi...

Olho para ela.

Marie: Por favor sente-se, não gosto de conversar com alguém que está em pé.

Relutante me sento de frente pra ela, sinto que preciso fumar, mas resisto. Ela parece notar e aproxima o cinzeiro até minha mão.

Charlie: Já falei que não gosto de fumar perto de você.

Marie: Já falei que não tem problema, é um vício seu então não tem por que eu impedir você de fazer o que gosta.

Charlie: O que você queria falar comigo?

Ela pega algo em seu bolso e me entrega um

Marie: Chiclete de nicotina, se não quiser fumar, eu vou no de morango.

Ela abre a boca para colocar o chiclete em sua boca e eu noto o desenho perfeito que ela tem nos lábios, ela me deixa maluco e não percebeu isso ainda.

Marie: Quando eu era criança, via meu pai ser muito agressivo com minha mãe... Ele era tranquilo comigo, uma noite eu escutei minha mãe implorando para ele parar... sim, mesmo sendo casado com ela, ele estuprava ela.

Ela respira fundo e me olha, vejo seus olhos marejados.

Marie: Um dia brincando de me maquiar encontrei uma arma na gaveta dela e ela me viu na hora, disse que era para se defender... Na noite seguinte meu pai chegou bêbado e drogado em casa.

Ela para e começa a soluçar, ela enxuga as lágrimas com a manga da roupa, minha vontade é de ir até ela e abraçar ela, mas não posso fazer isso agora.

Marie: Meu pai começou a bater nela e quando ele achou que ela estava apagada, ele veio até mim, ele começou a rasgar minha roupa e eu só chorava, não conseguia lutar contra ele, do nada só escutei um som alto e vi o sangue escorrer pela cabeça do meu pai... ela matou ele para me proteger. Os vizinhos ouviram tudo e minha mãe foi presa, ela tinha outra arma guardada num lugar que ninguém imaginava, dentro do colchão. Fiquei na guarda da minha tia, irmã da minha mãe, dois meses antes de eu completar vinte e oito anos, minha mãe foi solta e me contou tudo... só pude aproveitar 3 semanas com ela, por que o câncer dela estava em estado terminal.

Charlie: Por que?

Marie: Por que eu estou te contando isso? Simples, pra mostrar que a justiça é injusta, eu dei queixa sobre o estrupo e pouco tempo depois o homem estava solto como se nada tivesse acontecido, fiz exame e tudo, tinha vestígios do sêmen dele e mesmo assim, ele foi solto.

Sêmen? então ele a estrupou e provavelmente pode ter deixado uma semente.

Marie: Sim, eu engravidei, porém eu sofri um acidente dois meses depois levando a perda do bebê. Eu já amava, mesmo sendo fruto de um estrupo e eu sabia que não poderia dar uma vida boa, então colocaria para adoção, até uma moça que me conhecia disse que cuidaria para mim, mas não foi permissão de Deus que eu tivesse.

Dessa vez são meus olhos que enchem de lágrimas, não imaginei que essa mulher pequena perto de mim teria uma história tão triste assim.

Charlie: Era isso que queria conversar?

Ela concorda com a cabeça e se levanta.

Marie: Alguém que eu amo precisava saber da minha história e como estou com a pena de morte decretada, precisava te ver uma última vez chefe... Charlie... obrigada por tudo que você fez por mim durante esse tempo, obrigada por me mostrar o que é bom e eu desejo que você seja muito feliz.

Ela se retira da sala não deixando eu responder, ela simplesmente me deu um adeus. Me levanto para ir atrás dela, mas sei que não posso, não posso deixar essa mulher se afundar assim, não no meu turno nessa vida.

Enzo Hostie (Advogado)

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Comments

haydee correa

haydee correa

/Cry//Cry//Cry//Cry//Cry/

2025-02-19

0

mandinha

mandinha

Que capítulo foi esse 😭😭😭😭

2024-12-16

1

Maria DA Gloria

Maria DA Gloria

espero que ela consiga ser livre,a mulher do cara também teria de ser presa

2024-01-22

8

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