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Mesmo sem entender o significado daquele ato um tanto desrespeitoso, Catarina permanece em silêncio o tempo todo e só falou quando Regina perguntou:

__Quer dizer que você fala doze idiomas? E nem se quer terminou o ensino superior?-perguntou a mais velha enquanto esboçava um sorriso tímido, ela realmente não conseguiu entender.

__Sim senhora, a minha mãe era apaixonada pela diversidade linguística existente no planeta e eu herdei isso dela, já sobre o ensino superior incompleto tem a ver, só e somente só, com as condições financeiras desfavoráveis no momento-respondeu Catarina enquanto fitava a mais velha.

Regina deu um sorriso e falou novamente:

__Ótimo, só mais uma pergunta, como devemos tratar as crianças com deficiência?-perguntou Regina deixando Catarina bastante confusa.

Apesar de Catarina ter sido pega de surpresa, ela logo respondeu calmamente.

__Devemos encorajar as crianças à aprender comportamentos adequados levando em consideração a sua condição, assim como alertá-los acerca dos desafios a serem superados, é importante ainda deixar a criança ter um pouco de autonomia, deixando que eles cuidem de si mesmo o máximo possível, isso com certeza irá ajudar no desenvolvimento da criança com deficiência-disse Catarina enquanto fitava Regina incapaz de entender o que estava acontecendo ali.

"Eita, essa com certeza vai saber lidar com o filho do senhor Andrey, que Deus a ajude com as outras etapas", pensou Regina enquanto separa o documentos de Catarina e logo a dispensou e daí passou a entrevistar outras candidatas, ao poucos a fila ia diminuindo e uma grande parte acabou sendo dispensadas por falta de disponibilidade de horário.

Ao encerrar a primeira etapa já eram quase 14:00h, Regina se levantou e logo falou:

—Das 72 candidatas apenas 39 passou na primeira etapa, agora vão almoçar, a gente retorna as 15:00h e daí vocês irão ter que fazer uma prova subjetiva, desde já, desejo boa sorte-finalizou Regina enquanto olhava de canto para Catarina.

—Dona Regina, e se muitas de nós passar nas três etapas, como será feito o desempate?-perguntou Catarina enquanto se preparava para sair.

Ouvindo aquelas palavras, Regina deu um pequeno sorriso e logo começou a falar:

—Isso não vai acontecer minha querida, pode ficar despreocupada, nós fazemos isso há cinco anos e nunca houve um empate-disse Regina e logo saiu deixando as candidatas prestes a chorar de desespero.

"Que Deus me ajude, eu preciso muito desse emprego", pensou Catarina ao lembrar das palavras de Regina e daí saiu a perambular pelas ruas movimentadas de Moscou em busca de algum lanche barato pelas redondezas.

*

Sentado na cadeira giratória do seu escritório, Andrey Corky estava distraído falando ao telefone com alguém.

—Alice, eu já disse que eu estou sem tempo agora, diga ao Luca que nós iremos nos ver no final de semana-disse Andrey e daí começou a mexer em alguns papéis.

—Eu já disse isso a ele senhor, mas ele insiste em vê-lo hoje..

—Eu já disse que estou sem tempo, não insista-Andrey falou com arrogância e logo encerrou a chamada.

Andrey só tem 30 anos, é muito bonito e extremamente cobiçado pelas mulheres, mas a sua beleza se perde no mar de arrogância emanada por ele, um homem frio e com um passado trágico, isso o torna praticamente intragável, um típico velho ranzinza.

—Tomara que dessa vez eu consiga uma boa babá, Luca está acabando com o meu psicológico-ele falou sozinho enquanto tentava se concentrar no trabalho.

Luca é um lindo menino, a sua idade é 5 anos, porém ele é muito inteligente e as vezes confundi a cabeça das pessoas, Luca nasceu com um problema na coluna cervical o tornando paralítico, o seu problema de saúde aliado a raiva por ser desprezado por seu pai o torna uma criança difícil de lidar.

Algum tempo depois, Andrey ouviu leves batidas na porta, era Regina, então logo a sua entrada foi liberada.

—Aqui está os currículos das candidatas que passaram na primeira etapa-disse Regina e logo entregou vários papéis a Andrey.

Este no que lhe concerne, apenas deu um longo suspiro e logo começou a ler alguns dos currículos.

—Essa Michele parece boa, tem uma vasta experiência, como foi a entrevista dela?-perguntou Andrey enquanto esboçava um pequeno sorriso já imaginando o quão bom será ter uma babá para cuidar do seu filho e assim a criança vai parar de fazer tantas cobranças.

Acontece que Andrey cria Luca praticamente dentro de uma bolha de proteção, mas os protetores são os seus empregados,  já que Andrey não consegue enfrentar o filho, e isso faz com que Luca seja um menino muito carente de amor e atenção, mas Andrey diz não ter tempo para ele e nisso Luca foi se tornando um garoto um pouco chato.

Ouvindo as palavras do patrão, Regina deu um pequeno sorriso e logo falou:

—Eu escrevi, a inicial T para burra, (тупой, burra em russo) e Y para inteligente, (умный, inteligente em russo), assim fica fácil para eu lembrar rsrs-disse Regina e logo sorriu levemente, mas ao encontrar o olhar fulminante de Andrey, Regina deu um sorriso amargo e logo falou sinceramente.

—Desculpe senhor, bem, a Michele tem um bom currículo, mas ela não possui vocabulário enxuto para lidar com o mestre Luca.

—Estou vendo que você colocou o T em quase todas, se elas não são capacitadas por que passaram na primeira etapa?-peguntou Andrey, de braços cruzados e olhando fixamente para Regina.

—Bem, eu nem sei muito bem, sinceramente eu gostei muito da senhora Catarina, olhe o currículo dela-disse Regina e logo apontou para o currículo de Catarina que estava sob a mesa, Andrey nem olhou e logo falou:

—Então diga-me Regina, por que a considera uma boa candidata?-perguntou ele já bastante curioso, Regina é uma boa pessoa e, como funcionaria é simplesmente impecável, pessoas desqualificadas não tem chance de agradá-la.

(Andrey Corky, 30 anos)

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