Capítulo 5

Igor tomou um banho e arrumou-se para ir ao shopping, comprar um presente pra sua pequena Clara. Ia ganhar a confiança da filha e depois colocar em pratos limpos as condições que Rafaela teria que seguir, se quisesse ter a filha por perto.

— Olha que delícia a mamãe fez pra você... — Colocando o prato na mesinha de Clara. — Arrozinho, feijão e carninha com macarrão...

-Que deicia mamãe... -Disse a garotinha sorrindo.

-Abre a boquinha então... -Fazendo aviãozinho com a colher.

-Eu atendo a pota... -Se levantando com dificuldade pra atender a campainha.

— Clara, cuidado com a perninha, deixa a mamãe atender... — Disse Rafaela sorrindo ao ver a garotinha esticar um pezinho pra alcançar a maçaneta.

-Espela... -Abrindo a porta. -Papai! -Gritou ela feliz.

-Oi princesinha... -Se abaixando na altura da filha.

"O que ele quer aqui meu Deus, ele quer ganhar o amor da minha filha, e eu não posso fazer nada pra impedir".

— O papai pode te dar um abraço, Clara? — Perguntou Igor sorrindo pra filha.

— Sim! — Gritou ela jogando-se nos braços do pai.

-Clara minha filhinha... — Apertando a filha. — O papai te ama, minha bonequinha...

— Amo voxe papai... — Disse ela tímida. — Vem papai, fominha... — O levando pra perto da mesinha dela.

— Olá Rafaela... — Disse Igor com um olhar frio.

— Olá Igor... — Disse ela abalada com a presença dele.

— Vamos continuar a comer, meu amor... — Pegando a colherzinha.

— Não mamãe, o meu papai me dá... — Disse ela olhando pro pai. — Dá papai...

— Eu... — Sem saber o que fazer. — Eu dou sim, pequena... — Se sentando no lugar de Rafaela.

— É pezente papai? — Apontando pra um grande embrulho ao lado da porta.

— É sim, é pra você, mas, só depois que você comer é que eu vou te dar. — Disse ele acariciando o rostinho dela. — E a sua perninha dói?

— Não, minha mamãe da beijinho quando dói, aí pala... — Disse ela sorrindo pra mãe.

Rafaela sentou-se no sofá e ficou observando o momento "pai e filha" de longe. O seu coração se apertava, a cada sorriso que a sua garotinha dirigia ao pai. Se perdesse Clara, a vida não teria mais nenhum sentido pra ela. Igor era muito carinhoso com a filha, a escutava com atenção, sorria a cada gesto dela, adorava ouvi-la pronunciar as palavras erradas. Mas, quando o seu olhar se encontrava com o de Rafaela, tudo mudava, e um frio percorria-lhe a espinha.

"Você ainda não viu nada Rafaela, vou conquistar a minha filha e vou fazer você pagar por três anos de mentira".

Igor acabou de dar o jantar a Clara, e entregou-lhe o grande embrulho colorido. Clara rasgou o papel, e quando viu a grande boneca dos seus sonhos começou a gritar de alegria. Rafaela estava feliz por sua filha e triste por perder a primeira jogada.

— Olha mamãe! É a bonequinha gande! — Gritou a menina puxando Rafaela pela mão até a caixa. — Abe mamãe... Bigado papai... — Abraçando o pai e o beijando. — Quelo mostla a titia Ju mamãe... — Pegando a boneca que Rafaela tirou da caixa.

— Calma querida, a sua perna Clara... — A vendo carregar a boneca maior que ela. — Vem, a mamãe te leva filha... — Pegando a filha no colo e a boneca.

Rafaela levou Clara até a casa de Júlia e a deixou lá, precisava ter uma conversa com Igor, e com toda a certeza, Clara não podia estar presente. Rafaela entrou e sentou-se no sofá respirando fundo, Igor sentou-se à frente dela pensativa.

— Parece que a minha filha não tem uma boneca... — Disse ele sério.

— Ela tem sim, mas, as que eu posso dar a ela. — Esclareceu ela com a cabeça erguida.

— Como pode vir morar com a minha filha nesse lugar horrível... — Reparando o apartamento minúsculo. — Aposto que ela não tem um quarto só dela.

— O importante é que ela tem um teto, eu nunca deixei a minha filha passar por nenhuma dificuldade, eu já fiquei com fome, mas, ela nunca, eu daria a minha vida pra que a minha filha não passasse frio. — Disse ela trêmula.

Igor a olhou de uma maneira estranha, nunca pensara que uma mulher pudesse se manter tão firme por um filho, Rafaela estava de cabeça erguida como uma leoa a proteger o seu filhote.

"Não vou me deixa abater por nada disso, quero a minha filha a meu lado e é só o que importa, é só isso que importa?"

— O meu advogado, já está cuidando de tudo...

— Porque está fazendo isso Igor? — Perguntou Rafaela com medo. — Você não precisa começar uma briga, você pode visitar Roberta quando quiser, pode sair com ela e...

— Quero que ela tenha tudo que o meu dinheiro pode comprar Rafaela, quero que ela tenha o pai dela ao lado dela sempre, pra levantá-la quando ela cair...

— A mãe dela também pode fazer isso, e é o que eu tenho feito durante esses três anos... — Se sentando. — Ela é minha vida, minha única razão pra continuar a lutar...

— Podemos entrar num acordo Rafaela... — Indo até à janela. — Um acordo que vai favorecer a você e principalmente a nossa filha.

— Que... Que tipo de acordo? — Gaguejou ela trêmula.

— A nossa princesinha, só tem três aninhos e precisa de você... — Se sentando na mesinha a frente dela. — E conforme o que você diz, precisa dela pra viver...

— Aonde você quer chegar com tudo isso, Igor? — Perguntou Rafaela desconfiada.

- O meu advogado pode cancelar tudo, basta você aceitar morar comigo e a minha filha na minha casa em Londres. — Disse ele sério fitando o rosto dela.

Rafaela pensou que fosse desmaiar, nunca passou pela cabeça dela morar com Igor, e pior ainda era morar em Londres com ele. Se fosse morar tão distante, ia ficar sem a sua mais nova amiga Júlia e perder completamente o contato com os pais.

"O que faço meu Deus? Se eu não aceitar, vou ficar sem a minha filha e se eu aceitar, a minha vida com certeza será um verdadeiro inferno ao lado dele, o homem que eu amo e que me odeia".

— Então Rafaela, o que me diz? — Perguntou ele impenetrável.

— Igor isso não é um acordo, é uma ameaça. — Disse ela assustada. — Você não está me dando escolhas! — Gritou ela zangada.

— É claro que estou, você aceita e fica com Clara, ou a deixa sozinha comigo, sofrendo e sentindo a sua falta...

— Você é cruel e desumano Igor! — Gritou ela descontrolada. -Eu te odeio! — Jogando o porta-retratos nele.

— Faça a sua escolha... Vou à casa de Júlia, despedir-me da minha filha. — Pegando o porta-retratos e olhando a sua foto nele.

— Se eu fosse tão errada nessa história, teria dito a Clara que você estava morto, eu não fiz isso... — Sentindo uma lágrima rolar por seu rosto.

— Se você fosse a certinha nessa história, teria ido atrás de mim assim que soube da gravidez... — Disse ele colocando o porta-retratos no lugar. — Nada que você fizer vai me fazer mudar de idéia, nem se as suas lágrimas se transformarem em sangue. — Disse ele frio. — Pela manhã, venho saber o que você escolheu, faça a escolha certa. — Disse antes de bater a porta atrás de si.

Rafaela cobriu o rosto com as mãos, lágrimas de dor e ódio escorriam por seu rosto. Em algumas horas estaria saindo com a sua filha pra um lugar desconhecido, pra uma vida nova.

"Vou fazer isso por minha filha, por minha Clara, quero tudo de melhor pra ela... Mesmo que custe a minha felicidade".

A porta se abriu e Júlia entrou com Clara no colo, Rafaela enxugou as lágrimas e esboçou um sorriso.

— Voxe viu mamãe, o meu papai toxe a bonequinha gande... — Disse a garotinha sorrindo.

— É sim, meu amor... Vem com a mamãe, você está com soninho... — Pegando a filha.

— Soninho... — Deitando a cabeça no ombro de Rafaela. — Betozinho, titia Ju... — Pedindo a mantinha.

— Aqui bonequinha... — Entregando a menina.

— Quelo mimi com a Fiona... — Apontando a boneca.

— Está bem... — Deitando à filha e colocando a boneca ao lado dela. — Dormi com os anjinhos minha vida... — Dando um beijinho na filha e a cobrindo.

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