VIVA O ROCK ‘N ROLL
Sábado, 2 de maio de 2015
Eu descobri ao menos o nome deles, o que possivelmente não é tão importante quanto acredito ser, mas também é pouco provável que eu esteja errada. Parecem ser aceitáveis, não os idiotas que eu temi serem, pelo menos dois deles não são, mas eu não posso ter tudo, já tenho o que a maioria quer ou deveria querer. Contudo, eu também não sou uma especialista em julgar caráter, um ponto negativo em minha observação.
— Sou Alex Rivers — diz o loiro de camisa regata deixando o seu peitoral amostra. — Baterista, guitarrista, seu vizinho mais gato, bartender nas horas vagas e ainda arrisco uns vocais. Ou seja, sou o pacote completo, com algumas surpresinhas.
O cabelo de Alex é quase tão grande quanto o meu e, eu tenho certeza que aquele nariz já foi quebrado mais de uma vez, embora, sua expressão seja afetuosa. Ele parece ser sufista ou só um adepto do visual padronizado que a profissão parece exigir e, parece também acreditar que possui dotes humorísticos, o que não é o caso. E foi ele que acenou para mim no outro dia.
— Não vai dizer que é um prazer para as mulheres te terem em suas camas como fez nas outras vezes? — pergunta o vizinho que parece ser mais gentil, dirigindo-se a Alex, mas deve ser uma pergunta retórica, pois ele não espera a resposta. — Sou Arnold Simonds, mas pode me chamar de Killer — diz, apresentando-se e acrescenta uma piscadela no final.
Killer faz o tipo bad boy, mas nem tanto. Ele tem os cabelos castanhos bagunçados, o sorriso encantador e os olhos mais sinceros que eu já vi. Não é tão alto como Alex, mas definitivamente é o mais musculoso entre eles. Eu posso entender o porquê do apelido.
O silêncio tomou o ar, apenas alguns segundos, mas o suficiente para nos deixar desconfortáveis. Killer lança um olhar para seu amigo e ele retribui, parecem estar conversando em uma linguagem que eu não sou capaz de entender.
— E eu sou Sagan O’Connor.
Eu acho o nome dele tão diferente quanto o meu, é bonito e soa bem, também é o nome de um dos cientistas que eu mais admiro. Sagan tem os braços repletos de tatuagens, também é quase tão alto quanto Alex e, é lindo como eu nunca vi antes, mas o que eu não disse, é que ele tem os cabelos tão pretos e brilhantes que deixariam qualquer mulher com inveja e, os seus olhos são do mesmo tom do cabelo, embora sejam tão perigosos e traiçoeiros quanto um buraco negro, o completo oposto de Killer. Se eu fosse uma estrela, temeria ser sugada pelo seu campo gravitacional.
Percebi que outro silêncio se instaurou enquanto eu o avaliava. Só espero que não tenha deixado transparecer, não acho que seja assim que indivíduos se relacionem, embora eu saiba que avaliação é o primeiro passo para tal. Preciso me apresentar conforme as normas de etiquetas exigem. Respiro fundo.
— Sou a vizinha — declaro o óbvio, de novo. — Alone Severin. — Coloco as mãos atrás do corpo para eles não verem que elas estão tremendo.
Alex arregala os olhos.
— Sério? Seu nome é esse mesmo? — quis saber.
— Não seja idiota — rebate Killer. — Ela não quer ouvir suas bobagens.
Eu fico em dúvida se devo concordar com ele ou não. Como devo agir em situações como essa? Normalmente, eu concordaria.
— Tá bom! — Alex levanta as mãos em rendição. — Qual é o motivo da visita? Mas não se preocupe, você evitou mais uma rodada de ensaios. Legal.
Sagan se apoia na parede e espera com o mesmo olhar divertido de antes. Ele acha que eu não consigo responder? Começo a falar o meu discurso ensaiado, fato que altera levemente a ordem da minha lista.
— Não é que eu desgoste do som de vocês — afirmo. Acho que estou indo bem, é assim que os jovens falam, não é?
— Droga! — exclama Alex.
Pulo assustada, pronta para fugir pela porta. Não esqueci que estou sozinha com eles.
— Ei, calma! Desculpa, não quis te assustar, gata — diz Alex. Ele tentou se aproximar, mas acho que dei um passo para trás.
Sagan intervém, colocando-se entre eu e ele.
— Se gostou do som — Sagan dá ênfase na última palavra —, por que está aqui? Com certeza, não é para tocarmos para você.
Olho atravessado para ele. Não estou preparada para tantas perguntas, o que se mostra um erro comum entre indivíduos com intelecto inferior, que não é o meu caso. As mudanças na minha rotina, nos meus horários e nas minhas listas já estão mostrando seus efeitos negativos.
— Eu poderia ter pedido — defendo-me. Tirando é claro, o fato de que já passa da meia-noite, horário em que eu deveria estar dormindo.
— Mas não vai — retruca ele.
— Foca no lado bom, galera. Ela disse que gostou da nossa música. — Killer abre um sorriso sedutor. — E é a primeira mulher a dizer isso.
Reviro os olhos, o que quer que ele esteja fazendo não está dando certo.
— Não sei se podemos abrir a contagem dessa forma — diz Sagan.
O que ele quer dizer? Eu ainda sou uma mulher. Babaca! Suspiro, chateada. Usei mais de um substantivo e adjetivo ofensivos hoje.
— Verdade — concorda Alex, dando de ombros.
O quê? Babacas!
— Bem — começa Killer com a intenção de não continuar.
Babacas!!!
Devo estar vermelha agora, mas por outro motivo. Estou zangada, não, furiosa. Quem eles pensam que são? Vou ligar para as autoridades competentes toda vez que passar das dez horas e eles não pararem de tocar.
— Quais são suas bandas favoritas de rock? Cantores? Músicas? — pergunta Alex.
— O quê? — Estou atônita. Pisco os olhos em uma tentativa de me recuperar.
—Você não pode falar Queen, nem Scorpions, os Beatles e Rolling Stones também não, todo mundo gosta deles. E quanto aos rocks alternativos poucos se salvam — alerta Sagan.
Lentamente, eu abro a boca, mas as palavras não saem. Estou sorrindo interiormente, porque mais uma vez eu interpreto a situação de forma errada. Os rapazes ficam sem entender minha reação. Devo parecer uma louca descabelada e sem os sapatos.
— Ela está bem? A lista foi tão desafiadora assim? — quis saber Alex, confuso, passando a mão pelo couro cabeludo.
— Parece que está rindo — balbucia Killer. — Mas não tenho certeza.
Eu continuo com a expressão fechada, mas divertida uns bons minutos. Sinto uma mão pousar delicadamente no meu braço. Meu primeiro impulso é me afastar, mas quando vejo que é Sagan e parece estar tão temeroso e confuso quanto os outros dois, tenho pena deles e me deixo guiar para o sofá.
— O que houve? — pergunta Sagan baixinho. Seus olhos parecem estar sugando a luz da sala.
Baixo os olhos, porque não posso encará-lo. É demais para mim, mas respondo sua pergunta.
— Achei que estavam ofendendo minha feminilidade.
— O quê? — grita Alex. Ele é muito intenso, penso.
— Mil desculpas se fizemos isso — desculpa-se Killer, confuso.
Eles não entenderiam, como poderiam?
— Você quer falar sobre isso? — murmura Sagan.
— Não — sussurro de volta.
Ele assente e se levanta.
— Não lembro de você nos responder sobre suas músicas favoritas. Precisamos avaliar o seu gosto musical — brinca Sagan.
Agradeço com um olhar rápido direcionado a ele. Talvez, ele não seja o babaca que eu achei que fosse, parece entender que não estou disposta a interagir com eles. Eu costumo errar quando se trata de pessoas, mas não com tanta frequência.
— Se eu disser qualquer coisa diferente do que vocês gostam, não vão aprovar — digo, confiante. Uau. Acho que nos últimos meses essa palavra não foi muito usada por mim. — Basta dizer que rock não é o meu gênero musical preferido, mas que eu gostei da música de vocês. A questão é que não tem letra, o que me afligi. E o principal, eu preciso trabalhar. — Finalizo quase sem ar, esse foi o maior conjunto de palavras que eu disse a noite inteira.
Eles ficam em silêncio por um instante, em seguida se encaram. Eu estou impaciente.
— Acredito em você — declara Killer.
Alex repete a afirmação e Sagan dá um sorriso matador. Droga, estou usando o apelido de Killer para descrever outro homem. Preciso de um copo de água.
— Então, vamos precisar fazer um acordo — afirma Killer.
Acordo? Não foi para isso que vim aqui. Acordos são vias de mão dupla, por isso, precisarei me envolver. Sei que eu cumprirei a minha parte, mas eles manterão a sua? Como estão propondo dou o benefício da dúvida.
Olho ao redor, prestando atenção na casa pela primeira vez. Eles depositaram os objetos no cômodo sem se darem ao trabalho de arrumar e, estou olhando só para a sala! Tem uma jaqueta em cima do sofá! O restante da casa deve estar um completo caos, minha cabeça doe, estou planejando nesse exato momento uma lista de limpeza para eles.
— Que acordo? — questiono.
— Nós tocamos das nove e meia até onze e meia, o restante das noites são suas — propõe Killer, jogando seu charme para cima de mim.
Preciso me segurar para não revirar os olhos diante da sua tentativa tosca de me enfeitiçar ou seja lá o que está fazendo.
— Das nove às dez — proponho. É, eu posso ser durona.
— E por que não das nove as dez e meia? — pergunta Alex.
— Porque eu posso chamar a polícia quando passar das dez — respondo. Parece que eu mandei para anos-luz a gentileza.
— Uou, a gatinha tem garras — grita Alex.
Essa gatinha tem garras, quero responder, mas seria demais para mim.
Eles estão surpresos. Eu estou surpresa também, depois de vinte e um anos, descobri minhas garras. Antes tarde do que nunca. Eles não ficam irritados, principalmente Alex, parecem divertidos.
Sargan me leva para a porta, enquanto Alex grita.
— Das nove às dez. Se passarmos pode chamar a polícia.
Aceno em resposta.
Quando atravesso a porta, a brisa fria de maio me atingi. Seguro o roupão com força contra meu corpo. Sagan olha para os meus pés e franze o cenho. É possível que tenha percebido só agora? Deveria ser mais atencioso aos detalhes.
— Posso emprestar um chinelo caso precise — oferece.
Não, eu não quero seu chinelo. Nego com a cabeça, digo um “tchau” tão baixo que acredito que ele não ouve. Corro de volta para casa tomando cuidado com a grama molhada. Por sorte, não levo uma queda na frente dele, se caso ele estivesse na porta ainda.
Abro a porta e entro. Limpo os pés no tapete e encosto na porta fechada. A noite não tinha sido como eu imaginei, enfrentei meu medo de contato humano fora do ambiente de trabalho, conheci três homens bonitos que é o que eu deveria estar fazendo em uma sexta-feira à noite, posso até ter flertado e não tive um ataque de pânico. Você sabe, é um dia bom esse.
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Bunny
Alone flertadora kkkkkk. Ela parece engraçada, me identifiquei na timidez e insegurança com garotos, mas jamais ficaria a sós com três homens assim, muito maluca kkkkkkk
2023-02-13
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Bunny
"Ele parece ser surfista" kkkkkkkkk, tadinho, produziu tanto rock pra ser chamado de surfista pela vizinha kkkkkkkk
2023-02-13
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