Uma semana depois...
Eu deixei as corinas abertas ontem à noite, então, os raios de sol batendo no meu rosto, são o que me fazem despertar.
Mas minha vontade é continuar assim, deitada na minha cama, enrolada no meu edredon, com o ar condicionado ligado no máximo.
Faz uma semana que meu pai se foi. Uma semana que ele me deixou. Uma semana que eu sinto uma das piores dores da minha vida. Uma semana que não saio desse quarto, dessa cama, desse casulo em que eu me fechei.
Eu não quero ver ninguém, ouvir ninguém, falar com ninguém!
Ana, a minha mãezinha, traz as minhas refeições todos os dias. Ela entra aqui, me faz um carinho, dá um beijo em minha testa, deixa a bandeja na mesinha e logo sai, respeitando meu luto.
O velório do papai foi triste, mas eu estava tão anestesiada pela dor e tristeza, que parecia só ter eu e minha angústia, naquele lugar frio.
Lembro de receber condolências de várias pessoas que nunca vi na vida, vários oficiais da marinha, políticos... Minha tia e meus primos chorando lágrimas de crocodilo. São uns hipócritas, sanguessugas que sempre viveram do dinheiro que meu pai dava à eles. Sempre desejando sua morte, de olho na herança.
Eu não quis o abraço deles, tão cheios de falsidade. Eu me limitei a ficar nos braços da minha mãezinha, sendo amparada por ela o tempo todo, sofrendo calada, em um silêncio perturbador até pra mim.
Quando meu pai recebeu todas as honras de um almirante, eu continuei alheia a tudo. E não consegui conter meu profundo desespero e agonia vendo ele ser sepultado. Eu queria ir junto, quer por um fim à minha dor, mas o Michael me segurou, me dando seu abraço e seu ombro pra que eu chorasse.
Michael...ele estava lá! Resolveu tudo referente ao velório, liberação do corpo, burocracias, tudo.
Meu pai ficaria orgulhoso de ver como ele cuidou de tudo e assumiu o papel de filho mais velho.
Eu não fui marrenta nem orgulhosa, então fiz questão de agradecer à ele por tudo, recebendo um carinho nos cabelos e um leve beijo na testa, enquanto ele me dizia que ficaria tudo bem.
Mas infelizmente, meu pai não vai mais voltar pra casa. Eu nunca mais vou poder abraçá-lo, ver seu sorriso eu dormir em seu colo...e isso me dá a certeza de que não...não vai ficar tudo bem.
Mesmo assim, me forço a levantar da cama e caminhar lentamente até o banheiro, onde tomo úm banho frio e faço minha higiene. Passo uma maquiagem, apenas pra tentar disfarçar as olheiras enormes e escuras. Visto uma calça jeans, uma blusa básica e calço uma bota cano curto, com um salto grosso. Os cabelos eu deixei soltos, afinal, tive que lavá-los, então vou deixar que sequem naturalmente.
Pego minha bolsa, chaves do carro e celular, que eu deixei desligado nos últimos dias, e assim que ligo o aparelho, recebo mensagens e mais mensagens, alertas de ligações perdidas e mensagens de voz. Apenas ignoro tudo e ponho o aparelho dentro da bolsa.
Saio do quarto, em direção às escadas. Hoje será a leitura do testamento do papai, por isso eu, como filha única, preciso estar presente. Segundo o dr. Rubens, nosso advogado, a minha presença durante a leitura foi uma exigência do papai, que deixou isso por escrito, antes de falecer.
Chego até a sala, e minha mãezinha vem ao meu encontro.
- Bom dia minha filha! - ela me abraça e eu a aperto em meus braços, beijando seu rosto.
- Bom dia, mãezinha!
- Fico feliz em te ver sair daquele quarto, meu bem.- ela acaricia meu rosto, me dando um sorriso carinhoso.
- Não é por minha vontade, que fique claro! Mas, já que temos que fazer isso, que seja logo, não é mesmo?!- dou um suspiro.
- Eu sei o quanto está sendo difícil pra você, minha filha, mas precisa se erguer e tentar seguir em frente.
- Ainda é muito recente, mãezinha. E dói tanto...- sinto meus olhos arderem pelas lágrimas que se acumulam.
- Oh, minha pequena! - ela afaga meus cabelos, como fazia quando eu era criança. - Vai ficar tudo bem, e eu sempre vou estar aqui pra você.
- É a minha maior alegria e o que me conforta, o seu amor e carinho por mim. - seguro as mãos dela, e um pensamento me vem a mente. - Mãezinha?
- Que foi, filha?
- A senhora iria comigo pros Estados Unidos? Mas pra morar definitivamente...
- Ah, minha filha, você sabe que eu tenho medo de avião. Quase morri quando fui te visitar durante esses anos todos.
Eu sorrio levemente me lembrando do quanto ela ficava nervosa quando precisava embarcar de volta ao Brasil.
- Mas a senhora não vai precisar ficar viajando. Nós vamos morar lá, e se quiser, podemos voltar ao Brasil todo ano, pra senhora visitar seus familiares. O que acha?
- Você vai morar de vez no estrangeiro? Com aquele monte de gringo que fala enrolado e grita no telefone?
Sorrio do jeitinho dela se referir aos americanos.
- Sim, mãezinha, eu vou. E quero que a senhora venha comigo. Prometo matricular a senhora num curso de inglês e logo estará falando enrolado igual a eles.
Ela torce a boca, pensativa.
- Bom, eu fiquei no Brasil pra cuidar do teimoso do seu pai. - ela, finge ficar brava. - Mas agora que só tenho você...
- Então...- digo.
-Tudo bem, minha filha, eu vou com você morar no estrangeiro.
Eu sorrio e a abraço.
- Agora vamos, a senhora já está pronta?
- Já sim, apesar de não entender porque eu preciso ir junto pra escutar essa tal leitura de testamento.
- Porque, com certeza, a senhora é uma das beneficiárias do papai, ou seja, ele deve ter deixado algo pra senhora também, afinal, a senhora faz parte da nossa família.
- Eu sou uma empregada, minha menina...
Nem deixo ela terminar essa frase, a encarando com o olhar sério.
- A senhora é minha mãe do coração e nunca foi tratada como empregada, pelo menos não por mim ou pelo meu pai, então nem pense essas bobagens. - Seguro a mãos dela. - Agora vamos, que quanto antes terminarmos essa parte burocrática, melhor. Assim eu já vou organizando nossas coisas e agendo nossas passagens.
- Aí minha nossa, só você pra me fazer entrar naquele troço voador de novo! - ela torce a boca.
- Calma, vai ser por uma boa causa. - falo, sorrindo. - Agora vamos porque o dr. Rubens já está esperando.
- O Michael me ligou ainda a pouco e disse que estava indo pra lá...
- Michael? - perguntei, erguendo a sobrancelha.
- Sim. Ele falou alguma coisa sobre ser uma exigência do seu pai. Você e o Michael teriam que estar presentes.
Franzi a testa, realmente curiosa essa exigência do papai.
- Porque será que eu não estou com uma boa impressão dessa história!? - falo, suspirando alto.
- Calma, menina! Vamos esperar, já já você vai saber.
Não estou gostando nada nada dessa história...
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Jaildes Damasceno
Últimas vontades do pai. Michael casar e cuidar da Luna e do patrimônio. Luna aceitar o casamento e tudo mais. Ana vai ter direito a uma parte e ficará responsável pela mansão
2025-02-27
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Andréa Debossan
E Luninha a última vontade do seu pai vc vai ter que obedecer
2025-06-19
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Neuza Lucia
eita que as cobras do deserto estão soltas esmagar as cabeças dessas cobras logo
2024-06-30
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