Capítulo 4

Eu levei a Luna pra casa, afinal, não tínhamos muito o que fazer naquele hospital.

Infelizmente, eu sei que provavelmente meu padrinho não passará dessa noite, devido à gravidade dos ferimentos provocados pelos tiros e pela sua piora significativa.

Então, o que posso fazer é garantir que a filha dele esteja bem, se é que isso é possível, visto que a tempestade que ela terá que enfrentar não será nada fácil.

Luna já perdeu a mãe, ainda muito pequena, e agora está prestes a perder o pai, que foi praticamente a única família que restou à ela, já que além do almirante ela só tem a Ana, que sempre cuidou dela como uma mãe de verdade, e uma tia e dois primos, que mais parecem três abutres, esperando a hora do meu padrinho morrer, pra poder pôr as mãos em uma parte da herança...e isso eu vou garantir que não aconteça!

Bom, eu não me enquadro no quesito família, já que, mesmo tendo sido tratado como filho pelo almirante, eu não sou o tipo que se apega e desenvolve sentimentos. Eu respeito muito meu padrinho e, posso dizer que o amo, mas daí a ser considerado um familiar pra Luna, é um pouco demais.

Saio dos meus pensamentos quando chegamos ao jardim da mansão e eu estaciono meu carro. Olho pro lado e vejo Luna dormindo tranquilamente no banco do carona. Fico parado, observando os detalhes do seu rosto, o contorno da boca...e só por alguns segundos, imagino como seria beijá-la, sentindo a maciez de seus lábios...

- Se quiser, te dou uma foto minha Michael, já que gostou tanto de admirar minha beleza! - ela diz,com um sorriso se formando em seus lábios, antes de abrir aqueles intenso olhos azuis, me deixando totalmente sem graça.

- Eu só estava pensando numa forma gentil de te acordar, sua folgada! - falo, fingindo estar bravo.- Já que você fingiu estar dormindo.

- Eu não fingi. Só estava aproveitando o silêncio pra pôr os pensamentos em ordem. - ela tira o cinto se segurança e me olha. - Obrigada pela carona, não precisava pois eu fui de carro, mas como estou muito cansada, eu agradeço por não ter que voltar dirigindo pra casa do meu pai.

- É sua casa também, Luna. - falo, dando um longo suspiro

- Que seja! - ela dá de ombros. - Enfim, você vai entrar? Tenho certeza de que a minha mãezinha vai preparar algo pra gente, e como ela ama mimar o garotinho dela...- ela revira os olhos.

Luna chama a Ana de mãezinha desde que era pequena, e realmente, elas parecem mãe e filha, tamanho o carinho que uma sente pela outra. Mas, apesar de ter uns 50 e poucos anos, dona Ana é uma mulher muito bonita. Claro que eu nunca a vi com olhar de maldade, pois a respeito como se fosse minha mãe também, mesmo assim, não resisto à vontade de provocar Luna, pois gosto de tirá-la do sério, então digo:

- Ciúmes,Luna?! - sorrio de lado. - Só porque a Aninha me mimou todos esses anos em que você esteve morando fora?

- Para de se achar, Michael! - ela bufa, saindo do carro, e andando a passos largos em direção à casa,me deixando confuso com essa reação.

Que garota mais mimada e maluca! penso.

Saio do carro e caminho pelo jardim. Aproveito pra conversar um pouco com um dos meus homens de confiança, que eu deixei vigiando a casa. depois do que aconteceu com o almirante, não posso descuidar um minuto sequer, afinal, é da segurança da Luna e da Ana que estamos falando.

- Hoje está tranquilo, chefe. Mas aquele carro de que falei, ficou aqui perto da entrada do condomínio até às três da madrugada. Nós estamos monitorando, e até agora foi só isso, o carro parado com os vidros fechados. Eles vão durante a madrugada e voltam, num outro carro, lá pelas 8 da manhã. - Max, um dos seguranças, vai me passando o relatório.

- E dentro do condomínio, algum movimento ou visitante suspeito? - pergunto.

- Não. Mas estamos de olho, pode ficar tranquilo.

-Sei que posso, meu amigo. - bato no ombro dele.

- Agora, mudando de assunto...- ele baixa o tom de voz, como se fosse contar um segredo. - Que loirinha linda é essa filha do almirante, minha nossa! Delicinha de tudo! - ele fala, passando a língua nos lábios. - Os caras do turno da noite disseram que outro dia ela foi trocar de roupa no quarto, e mesmo com a cortina fechada, deu pra ver mais ou menos...os caras ficaram doidos, chefe! - ele sorri e eu o encaro com a cara fechada.

- Como é que é? - cruzo os braços. - Vocês estão querendo morrer, é isso? - ele me olha, assustado.

- Calma, chefe. Foi só um comentário. Eu mesmo não vi nada não.

- E eu acho bom que continue sem ver! - bufo, irritado. - Luna é uma menina, só tem 19 anos, além disso ela é filha do meu padrinho, que eu tenho como um segundo pai, então eu espero que vocês se limitam a fazer seu trabalho que é protegê-la e não ficar babando ou espiando os momentos íntimos dela, fui claro!? - o encarei, com raiva

- Foi sim, chefe. Me desculpa aí, foi mal

- Foi mal não, Max. Foi péssimo. Espero não ouvir comentários desse tipo sobre a Luna, dona Ana ou nenhuma funcionária dessa casa, estamos entendidos?

- Positivo, chefe. - ele fala, baixando a cabeça. - Vou voltar pro meu posto.

- Ótimo! Aproveite e passe meu recado aos seus companheiros. Se querem manter seus empregos, quero vocês fazendo estritamente seu trabalho, sem ousar olhar pra Luna com outras intenções.

Ele assenti e sai, me deixando completamente irritado, e eu nem sei bem porque estou tão bravo.

Ok, temos que manter o respeito pelos nossos clientes e nesse momento, Luna e todos da mansão são exatamente isso, clientes.

Mas eu nunca reagi assim quando soube das olhadas dos rapazes para alguma moça. Sempre exigi respeito, discrição e profissionalismo, mas nada me afetou tão profundamente quanto agora, pra me fazer chegar ao ponto de chamar a atenção do Max, um dos meus melhores seguranças.

Fecho meus olhos e suspiro longamente. Mas assim que os abro novamente, dou de cara com o motivo das minhas dores de cabeça últimamente...Luna!

- Minha mãezinha mandou te chamar. O lanche tá pronto! - ela fala, e eu fico encarando aqueles olhos, a boca, o nariz, aquela carinha de marrenta, o top marcando o colo, a barriguinha de fora, que deixa à mostra aquele piercing, a leggin que marca muito bem o corpo dela, modelando cada curva, as coxas e as pernas...

Fico pensando, até que não seria tão ruim essa história de casamento. Afinal seria só por um ano...

- Já terminou de me admirar? - ela pergunta, sorrindo divertida. - Sério, Michael, vou começar a achar que você tem uma quedinha por mim hen!?

Reviro os olhos, bufando e caminhando até ela, parando bem em sua frente, chegando a centímetros de distância de seu rosto.

De onde estou, poderia beijá-la facilmente. Mas ela recua? Não! E sinceramente não seria a Luna que eu conheço, se fizesse tal coisa.

Ela apenas me encara, sem desviar o olhar, e mantém aquela postura firme de sempre, com a nariz empinado.

- Você bem que gostaria que eu tivesse algum interesse em você, não é pirralha? - falo, erguendo a sobrancelha. - Mas pra sua tristeza, eu não gosto de patricinhas metidas, mimadas e que ainda cheiram à leite. - falo, sorrindo de lado, ao ver sua cara de brava.

Ela se aproxima ainda mais, até encostar a boca próxima ao meu ouvido, o que é um pouco difícil já que eu tenho 1,87 de altura e ela deve ter uns 1,70 no máximo. Mesmo assim, ela faz questão de passar os braços ao redor do meu pescoço, me deixando sem ação, e fala baixinho.

- Que pena, Michael. Porque a patricinha aqui faz coisas que te levariam à loucura! - ela se afasta e me olha nos olhos, mordendo o lábio. - Mas acho que você não tem curiosidade em descobrir, não é mesmo!?

Dito isso, ela se vira e entra em casa, rebolando e me deixando com cara de idiota.

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