Luna
Eu passei o dia com meu pai. O quadro dele se agravou muito já que durante a tarde, ele teve outra parada cardíaca e tiveram que me tirar do quarto às pressas para poderem reanimá-lo. Por conta disso precisaram transferi-lo para uma UTI.
- Doutor Cláudio, eu não vou poder ficar com ele?- pergunto ao médico que está acompanhado o caso do meu pai.
- Sinto muito, Sta Alves, mas na UTI não são permitidos acompanhantes, isso é uma norma padrão, pra garantir o bem estar dos pacientes.
- Ok, eu entendo. - falo, desanimada. - Tem alguma coisa que eu possa fazer por ele?
- Agora ele está sendo monitorado e medicado. Tem uma equipe muito competente cuidando dele, então, a Sta. deveria ir pra casa e descansar um pouco. Nao adianta ficar aqui, sentada no corredor do hospital.Eu mesmo ligo pra Sta. caso haja alguma mudança no quadro do almirante. Mas agora ele está medicado e como os remédios são fortes, ele só deve acordar amanhã de manhã.
- Eu vou poder vê-lo? - pergunto, aflita.
O médico me encara, com um olhar de compaixão. Ele é um homem jovem, deve ter uns 30 anos. moreno, olhos castanhos, cabelos escuros e curtos. Tem um corpo bem forte, pois mesmo com o jaleco branco, seus músculos são aparentes. O sorriso muito bonito e uma voz calma. Em outra situação eu talvez até flertaria com ele, mas agora, não consigo ter cabeça pra isso.
Dr. Cláudio segura minha mãos entre as dele, e me olha, falando com um tom carinhoso.
- Olha, eu imagino sua aflição em ver seu pai nessa situação. Mas infelizmente, a Sta. ficar aqui, não vai mudar em nada o quadro clínico dele. Então, escute o meu conselho, vá pra casa e descanse, se alimente direito, cuide da sua saúde também.- ele para por alguns segundos, até respirar fundo e continuar. - Eu vou ser sincero. As expectativas não são boas, mas estamos tentando o nosso máximo pra que ele fique confortável e com o mínimo de dor possível. Eu só peço que se prepare e tente ser forte...
Eu encaro o médico, sentindo meus olhos arderem pelas lágrimas que teimam em querer sair.
- Ele tem quanto tempo, doutor? - pergunto, com a voz embargada.
- Sendo otimista? - ele fecha os olhos, parecendo ponderar e procurar as palavras. - Um dia...talvez dois.Eu sinto muito..
Eu senti como se minhas forças fossem tiradas de mim, como se meu coração estivesse sendo esmagado. Senti minhas pernas fraquejarem, e logo dois braços envolveram meu corpo, e quando virei meu rosto, encontrei o olhar preocupado do Michael, que me analisava.
- Ele está morrendo, Michael! - eu falei, me agarrando a ele e deixando minhas lágrimas saírem, num choro abafado, sentido...
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Michael
Assim que saí da academia, fui direto pra casa, tomei um longo banho e depois me deitei, tentando descansar.
Acho que dormi por umas quatro horas, mas acordei bem mais disposto. Tomei outro banho, e enquanto fazia a barba, lembrei do que a Luna disse, o que me fez sorrir involuntariamente.
Preparei um sanduíche e uma vitamina e assim que terminei de comer, resolvi voltar ao hospital. Luna estava com a aparência bem abatida. Provavelmente não deve estar dormindo direito e, se conheço aquela teimosa, também não está se alimentando bem.
Sei que não deveria estar me preocupando, afinal, ela é adulta e já sabe se virar. E também tem a dona Ana, a ex babá da Luna, que trabalha na mansão até hoje e sempre tratou aquela marrenta como uma filha, então sei que tem quem cuide dela.
Mas, mesmo assim, meu padrinho pediu pra que eu cuidasse da filha dele. E se isso inclui passar mais uma noite no hospital pra que aquela loirinha abusada possa descansar, então que seja!
Pego minha mochila e saio do meu apartamento. Desço até a garagem e vou até carro, um Jeep Grand Cherokee preto.
Assim que dou a partida, recebo uma ligação do hospital, informado que meu padrinho foi transferido às pressas para a UTI. mas que droga!
Acelero e saio da garagem e em poucos minutos estou entrando no estacionamento do hospital da marinha. Entro e vou direto até sexto andar, onde fica a UTI, pois quero conversar com o médico de plantão e também quero ver a Luna, que deve estar muito abalada.
Mas quando chego no corredor da UTI, vejo um médico segurando a mão da Luna e isso me causa um certo incômodo. Que intimidade é essa? Ele não conhece a ética profissional? penso, fechando a cara e me aproximando, pisando duro.
E é aí que, quando chego perto, vejo a Luna cambalear e só tenho tempo de segurá-la, impedindo que ela caia no chão. Ela se vira pra mim e eu vejo o desespero em seus olhos, antes de sentir aqueles braços frágeis se agarrarem à mim, e ver ela desabar, chorando, abafando os soluços contra o meu peito.
Aquilo pra mim era uma completa novidade!
Eu nunca fui um cara emotivo,sentimental ou coisa do tipo. Eu sou ex soldado, trabalho treinando homens para terem resistência e controle tanto físico quanto mental, esconder sentimentos e emoções.
Agora essa menina está aqui,agarrada à mim, totalmente inconsolável, e eu sinto uma vontade estranha de cuidar dela. Então, apenas a abraço, o que faz com que ela se encolha ainda mais no meu peito e quase sumir, já que eu sou bem maior e mais forte. Faço um carinho demorado em seus cabelos, enquanto digo:
- Vai ficar tudo bem, loirinha. Eu estou aqui com você!
Ela continua ali, sem me soltar, com o rosto enterrado no meu peito, chorando.
Eu volto meu olhar para o tal médico, que nos observa, com um olhar curioso.
- Eu não sabia que vocês eram tão próximos, Sr Bianchi.- ele fala, cruzando os braços e erguendo a sobrancelha.
- E eu não sabia que a minha vida pessoal era da sua conta, Dr. Soares. - respondo no mesmo tom,fechando a cara.
Ele meneia a cabeça, dando um leve sorrisinho cínico.
- Bom, o Sr. já foi informado do estado de saúde do almirante?- ele questiona.
- Ele está na UTI. Mas agora não é o momento para conversarmos sobre o estado de saúde do meu padrinho. A filha dele está visivelmente abalada e eu vou levá-la pra casa. - falo, apertando mais os braços ao redor da Luna. - Mais tarde eu volto e aí sim, nós conversamos, doutor.
- Como quiser! - ele responde. - Até logo, Sta Alves. - ele diz, tocando o ombro da Luna, que afasta a cabeça do meu peito e apenas dá um leve aceno de cabeça. - Até mais, Sr Bianchi.
Aceno, com cara de poucos amigos, e ele sai andando pelo corredor.
Afasto a Luna, somente o suficiente para olhar em seus olhos.
- Vou te levar pra casa! - falo, tentando não ser tão duro. - Você precisa tomar um banho e descansar, afinal, sua cara está horrível.
Ela me olha e então dá um leve sorriso.
- Você fez a barba..- ela passa a mão no meu rosto e estranhamente eu gosto daquele carinho. - Está até menos feio.
- Até chorando, com o nariz escorrendo, não deixa de ser marrenta.
Ela sorri levemente, fungando.
- Eu tô com medo Michael. - sinto a tristeza na voz dela. - Eu sei que ele não vai aguentar muito...
- Seja o que for, o que vier ou o que acontecer...- seguro o rosto dela.- Eu prometo estar com você e te ajudar a superar. Ok!?
Ela apenas assenti e nós caminhamos juntos pra fora do hospital.
Sei lá...acho que essa garota desperta o pior de mim...o meu lado fraco!
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Jaildes Damasceno
Emocionante capítulo autora. Carinho você já tem Michael e logo será amor que ambos vão descobrir
2025-02-27
0
Andréa Debossan
Já está ficando caído por ela
2025-06-19
0
Vandek Santos
muito bom este capítulo
2025-01-22
0