Mio piccolo amore

Alice

Amadureci bastante no último ano. Agora tenho as responsabilidades do casamento, da faculdade, do trabalho...

O Théo andou extremamente ocupado com a inauguração do espaço cultural, ajudei no que pude e tentei ser compreensiva e não cobrar atenção, mas foram os momentos mais difíceis que já passe.

Estava acostumada a ter a sua companhia para assistir TV, fazer refeições, fazer compras de supermercado... E de repente me vi sozinha.

Quando ele chegava em casa, só dava tempo de tomar um banho antes de adormecer até o dia seguinte, eu respirava fundo e dizia para mim mesma: — Calma, Alice, é só uma fase. Você prometeu não desistir de vocês.

Perdi as contas de quantas vezes tive que repetir essa frase.

Tentei me ocupar com outras coisas e até comecei a ler, o que nunca foi um hábito meu. A Nina também andava ocupada com a inauguração da confeitaria e eu não queria preocupá-la com os meus problemas, mas assim que inaugurou, eu já saia do trabalho e ia direto para lá passar um tempo e ajudar no que fosse necessário e fiz até amizade com o Max, um funcionário que é uma figura.

Mas teve um dia que nem as gracinhas do Max foram suficientes para me animar, e tive que desabafar com a minha irmã. Que como sempre, tinha o melhor conselho, disse que eu estava certa de ser paciente, mas se isso estava me fazendo sofrer daquela forma, que eu deveria conversar com ele.

Sai da confeitaria decidida a ter essa conversa quando ele chegasse em casa, mas logo nesse dia, ele chegou antes em casa, e quando cheguei, ele já estava em um sono profundo.

E mais uma vez as minhas lágrimas se confundiram com a água do chuveiro.

Deixei a conversa para outra hora. No dia seguinte, fiz toda a minha rotina e passei o dia pensando na gente, estava com uma saudade imensa do meu marido, só o que via ultimamente era o empresário e o professor de piano.

Mas ele foi mais rápido e nem precisei dizer tudo que passei o dia ensaiando, com apenas um abraço, me disse tudo que eu precisava ouvir.

Agora estamos bem, conseguimos conciliar o nosso casamento com o lado profissional e ele voltou a ser o meu marido presente e bem-disposto, e eu voltei a ser a Alice animada e leve de sempre... Quer dizer, já fazem alguns dias que não estou tão animada e leve assim.

Agora a minha preocupação é outra, e essa não é só uma fase, é para a vida inteira. E não sei se estou preparada, o medo tomou conta do meu ser.

Hoje eu decidi não ir à faculdade, não tenho condições. A Nina me trouxe direto para o meu trabalho, não me deixou dirigir, disse que eu precisava pôr a minha cabeça no lugar primeiro.

Assim que entrei, cumprimentei alguns professores e alunos que encontrei pelo caminho e fui direto para a sala em que o Théo estaria dando aula. Fiquei parada, encostada na porta o observando dar aula para uma menininha que deve ter uns seis anos. Eu amo assistir, admiro toda a paciência e carinho que dedica aos seus alunos e gosto de ver o quanto é admirado pelo seu trabalho.

Fecho meus olhos e me perco em meus pensamentos com a tranquilidade do som do piano. Nem percebo quando param de tocar.

— Está aí há muito tempo? — A voz do meu marido me desperta.

— Acabei de chegar.

— Tchau tio, tchau tia! — Sua pequena aluna nos cumprimenta e retribuímos o cumprimento.

— Achei que iria para a faculdade após encontrar a sua irmã.

— Preferi vir ver você. — Sorrindo, ele me puxa para mais perto e me beija.

— Acho que isso não é muito profissional. — Falo parando o nosso beijo.

— Você tem razão, preciso me controlar.

Vou tentar sair mais cedo hoje. Abrimos um vinho e eu preparo uma massa para o nosso jantar, o que acha?

— A massa eu aceito, o vinho só daqui a uns meses.— Ele me olha confuso.

— Está tudo bem amore? Eu tenho te achado um pouco estranha esses dias, principalmente hoje cedo, quando eu saí.

— Não sei se está tudo bem, vai depender de você. — Volto a ficar tensa.

— Está me deixando preocupado... Vamos para a minha sala. — Assenti e o acompanhei até a sala.

— Pronto, Alice, me fala o que você tem. Seja lá o que for, estaremos juntos. — Trancando a porta atrás de mim

— Lembra do período difícil que passamos?

— Achei que tínhamos superado. Eu tenho feito de tudo para estar presente... — O interrompo.

— Calma amor! Estamos bem!

Só voltei nesse assunto porque ele nos trouxe uma consequência. — Ele me olha sério, ficando em silêncio para que eu prossiga.

— Lembra do que fizemos aqui depois daquele abraço onde nos reencontramos?

E não foi só aqui, fizemos muitas outras vezes e em dias seguidos, você lembra? — Ele abre um sorriso malicioso.

— Claro que me lembro, eu estava morrendo de saudade de você.

— Então... você me conhece, sabe como sou esquecida e eu estava com a cabeça cheia com o nosso problema... — Ele me interrompe.

— Vamos direto ao ponto, o que esqueceu?— Segurando a minha mão.

— Esqueci de tomar o meu remédio... — Falo rápido, como eu fazia quando precisava contar para a minha mãe que tinha quebrado algo em casa.

— O que quer dizer com isso? O que tem o seu remédio... — Parando de falar, processando o que acabou de ouvir.

— Então, não estava tomando nada quando nós... Quer dizer que você está... — Minha vontade era rir da sua confusão mental, nem as frases conseguia terminar, mas segurei o riso e respondi.

— Sim, Théo, eu estou grávida.

Sei que não queria agora, que disse que não precisávamos ter pressa... — Sou calada por um beijo e me surpreendo.

— Nem termina de falar amore, eu só falei aquilo para não te pressionar. Tudo que eu mais quero é ser pai de um filho seu.— Com lagrimas escorrendo por sua face.

— Eu estava tão insegura, com tanto medo... — Não contenho as minhas lágrimas e ele abraça forte, me passando toda a segurança que preciso.

— Não precisa ter medo de nada, nós vamos cuidar de você. — Me soltando do abraço, se ajoelhando e beijando a minha barriga.

— Nós vamos cuidar da mamãe.

Mio piccolo amore! — Conversando com a minha barriga enquanto nossas lágrimas de felicidade escorrem pelos nossos rostos.

Continua...

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