O Silêncio naquela sala já durava alguns minutos, e Benício estava parado em frente à janela, mãos no bolso, olhando para fora. O outro homem no cômodo o observava em silêncio. Benício permaneceu assim por um tempo antes de se virar e encarar o homem.
— Isso não é cansativo? — perguntou Benício ao homem à sua frente.
O terapeuta de Benício deu um leve sorriso, cruzou as pernas e ajeitou o pequeno caderno e a caneta que segurava nas mãos, antes de responder ao seu paciente.
— Depende. Do que está falando?
— Ficar aí parado, esperando que os seus pacientes decidam falar alguma coisa.
O terapeuta respondeu:
— Isso faz parte do meu trabalho. Não posso forçar meus pacientes a falarem e se abrirem. Preciso que cada um faça isso, para podermos chegar à causa e à solução dos problemas de cada um deles. Tenho que respeitar o tempo de cada paciente. Já tive casos em que a pessoa passava todo o seu tempo sentada em silêncio, até decidir se abrir — respondeu tentando esclarecer aquela dúvida.
— Mas o senhor já sabe qual é o meu problema, a minha anormalidade.
— Como já disse antes, você não é uma pessoa anormal, Benício. O que temos que trabalhar aqui é a sua aceitação do que sente e do que você é. Seu problema não é algo que eu possa recomendar uma terapia ou receitar uma medicação para desaparecer. Já fiz essa pergunta uma vez a você, e vou fazê-la novamente: está feliz sendo quem você finge ser?
Benício, no fundo, sabia a resposta, mas relutava em admitir o que já sabia. Ele se escondia por trás de um personagem que ele mesmo havia criado, mas era constantemente confrontado por seu verdadeiro eu.
— Não estou, mas também não quero ser essa outra pessoa. Preciso ser o que sempre esperaram de mim: um líder com uma carreira brilhante, um pai de família com uma esposa e filhos.
— Mas e quanto ao que você quer? Onde estão seus desejos e vontades? Onde eles ficaram ao longo desses anos? Já conversamos sobre o motivo de suas crises. Você exerce uma pressão muito grande sobre si, Benício, e isso causa toda a sua ansiedade — explicou mais uma vez, buscando fazê-lo entender.
— Todas essas coisas eu já sei. O que quero saber é quando ficarei curado? Quando vou parar de ter esses pensamentos e desejos absurdos? — Benício voltou a encarar a janela.
— Você não tem nenhuma doença para ser curada. Você está passando por um processo de negação, Benício. A primeira coisa que você precisa deixar para trás, são as palavras que foram ditas a você no passado, quando descobriu como se sentia.
Benício foi levado de volta ao passado e às lembranças das palavras que ouviu. Ele sabia que seu terapeuta estava confrontando-o diretamente, algo necessário, mas não fácil de enfrentar.
— Não é fácil — respondeu com resignação.
— Eu sei, é por isso que estamos aqui, para que você aprenda a lidar com isso e superá-lo.
— Mas e quanto à pessoa de quem falei? — Ele já havia mencionado Adrian naquela consulta.
— Já parou para pensar que ele pode ser a chave para abrir a porta que você insiste em manter fechada? Deixe as coisas acontecerem naturalmente e não force uma recuada.
— Está sugerindo que eu cancele meu noivado? — Benício se virou mais uma vez para encarar o terapeuta.
— Será que você já não considerou isso antes?
Mais uma vez, ele havia sido confrontado com a verdade. Ele já havia considerado aquela possibilidade várias vezes. Sempre que falava sobre o casamento, sentia-se pressionado, como se fosse sua única escolha, seu escape da realidade. Por mais que a verdade fosse atormentadora, pensar em passar a vida ao lado de Carla parecia ser ainda pior.
Depois de mais uma sessão com verdades ditas, mesmo que não concordasse, ele acabaria pensando naquilo. Benício foi para o escritório, onde era ainda mais difícil estar, já que via Adrian constantemente, o que o fazia pensar mais sobre aquele homem. Como ele passou parte da manhã fora do escritório, Adrian teve que ajustar sua agenda. Quando Benício voltou, foi informado das modificações, e enquanto seu funcionário repassava as informações, Benício evitou olhar em sua direção, o que não passou despercebido por Adrian, que imaginou que Benício estivesse de mau humor.
— Podemos prosseguir com esses horários, senhor? Ou deseja alterar alguma coisa?
— Não, pode seguir com cada um deles. Mas na reunião no horário de almoço, eu irei sozinho dessa vez. Você pode cuidar das outras tarefas. Quando eu voltar, podemos discutir os detalhes de alguns documentos — Benício disse isso sem olhar para Adrian.
Adrian saiu da sala de Benício e ficou pensativo. Mesmo sem conhecer Benício tão bem, ele notou que algo estava diferente. Não sabia se era por causa de seu erro no dia anterior ou se havia algum problema pessoal. No entanto, ele decidiu não cometer mais erros naquele dia, pois não queria que a situação piorasse.
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Atualizado até capítulo 82
Comments
Expedita Oliveira
🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔
2024-12-15
1
dark
nossa que história legal eu amei parabéns não consigo parar de ser só quero ver a carla se dar mal
2024-11-30
2
Maria Pinheiro
Fingir ser quem não é , viver um personagem é muito triste e doloroso de mais ele está sendo insensato insistindo nesse noivado que o deixa sufocado esquece que quando casar será bem pior .
2024-10-19
3