cap 17

ALLANA,

Vai ser melhor assim, esses dois dias que ele estiver fora, vou aproveitar para descobrir sobre ele, quem ele é e o que faz da vida. Preciso saber de tudo, deixar tudo no esquema para conseguir escapar dele, sem que ele volte a me achar.

O primeiro passo é descobrir seu nome e sua idade.

Desço as escadas e vou tomar café. Esta casa é tão grande e tão vazia, tão sem graça, sem cor, tudo é branco no preto, ou preto no branco, chega a ser chato morar aqui.

Tem luxo para todo lado, mas não tem graça de nada, se eu fosse escolher, mesmo se tivesse dinheiro, essa mobília não seria a que eu escolheria.

É um lugar que você tem medo de encostar para não sujar, cheio de frescura, de luxo até desnecessário.

Se eu fosse mesmo a dona disso tudo, já teria modificado tudo, pois aqui dentro não tem nada da natureza, não tem nada com a minha cara, e nem com a minha personalidade.

Não tem um arranjo de flor, um quadro colorido para mostrar algum tipo de felicidade ou conforto.

É tudo neutro, sem amor, só... escuridão, igual o dono. Esta casa realmente é a cara dele, mas como não é minha, não precisa ter minha personalidade mesmo.

Até porque não ficarei muito tempo aqui, meu plano de fuga tem que ser perfeito, mesmo que eu finja um desmaio no meio dessa casa e seja socorrida até um hospital, e assim, de lá eu fujo, como fiz na farmácia.

Termino o café e vou para o escritório dele, vejo que está destrancado, e quando vou entrar, a maluca da empregada toca no meu braço e me puxa, fechando a porta do escritório de volta, me fazendo explodir de raiva.

Quem essa mulherzinha pensa que é? Só porque abre as pernas para o patrão acha que pode alguma coisa?

Eu olho para ela com ódio, com raiva, ela é muito folgada e atrevida, pois querendo ou não, sou a esposa do chefe dela, e pelo menos por isso, me deve um pouco de respeito.

– Se tocar em mim mais uma vez e se meter no meu caminho, vou varrer esse chão com seus cabelos engordurados, onde até os piolhos morrem de colesterol, sua abusada, mal amada.

Abro a porta novamente e olhando nos olhos dela eu entro e fecho na cara dela, bem forte.

Abusada, ficou me encarando. Só não a mando embora porque eu é que vou sair daqui logo logo, e ela pode continuar investindo no seu patrãozinho.

Passo os olhos em tudo ali, me sento na poltrona, me sinto até a dona de uma empresa, rodo até a cadeira imaginando isso.

Bom, eu não sei mexer em computador, então vamos ver se tem algum documentário aqui que me mostre pelo menos o nome dele.

Começo a vasculhar as gavetas, vários documentos, mas todas têm mais que um nome.

Então encontro na última gaveta a nossa certidão de casamento e vejo meu nome e o nome dele do lado.

Dominic Bernardes.

Dominic, até que o nome do satã é bonito.

Não tem mais nada que me interessa ali, só coisas da empresa dele, que é de cosméticos. Me faz lembrar meus pais, meu pai tinha uma empresa exatamente de perfumes.

Que saudades deles, se eles estivessem aqui, eu não estaria passando por isso.

Fico ali ainda tentando encontrar mais coisas sobre ele, mas se tiver algo pessoal, pode ser que esteja no quarto dele.

Então saio do escritório, passo pela escada e aquela mulherzinha fica me olhando. Que vontade de ser uma patroa autoritária e dizer.

"Você está demitida, suma da minha casa agora."

Mas, primeiro que aqui não é minha casa, não vou transformar isso aqui em meu lar, e segundo que não sou a patroa dela, então deixa que me olhe, só mostra que sou mais importante que ela, já que para o que está fazendo só para me ver desfilar.

Chego no quarto do satã e vou direto para o closet.

Ele tem bom gosto para roupas. Todas que você toca, parece estar tocando nas nuvens de tão macias que são.

Olho as gavetas, e ele é todo certinho, uma gaveta para cada coisa, e ainda por cima tudo arrumadinho, uma do lado da outra.

Vejo um quadro lindo, mas parece que está um pouco torto, então eu arrumo ele, e olho embaixo, e tem um cofre ali.

Retiro o quadro e fico olhando, qual será a senha do satã?

Coloco 666, quem sabe ele não seja a besta.

Mas dá wrong password (senha errada).

Droga!!!

Coloco o quadro de volta, mas tenho certeza de que um dia ainda vou ver ele mexendo aqui, e vou saber essa senha.

Passo o dia mexendo em tudo ali, só desço para comer e subo de volta.

Vou tomar banho de banheira, já que ele não está aqui, posso fazer isso sem medo de ele entrar e me ver.

Fecho meus olhos, sentindo a água quentinha, muito gostoso, muito relaxante.

E quando abro os olhos, ele está ali, de pé.

Me assusto me ajeitando na banheira, ele sorri para mim e retira sua roupa, ficando com a cueca, e senta do outro lado da banheira.

Ficamos nos olhando, o satã é muito lindo, tenho que admitir.

Ficamos só um pouco, ele se levanta e pega as toalhas, e me estende uma.

E quando ele se vira de costas para secar o cabelo, é nessa hora que eu me levanto e me enrolo de qualquer jeito.

Ele se vira e pega na minha mão, me tirando do banheiro.

Vou direto para o closet e coloco um pijama comportado, para não atiçar ele.

Ele também coloca um pijama, e antes de me deitar na cama, ele pega na minha mão, e me leva até a sala que tem a TV grande.

Ele se senta, levemente deitado, deixando as costas elevadas, e me puxa de costas para ele, para ficar apoiada no seu peito, entre suas pernas.

Ele liga a TV e eu olho para ele.

– Tá, é romântico, mas eu não escuto, como vou entender o filme?

Ele só dá um sorrisinho e aponta para a tela.

Quando eu olho, o filme está com legenda, eu sorrio por ele ter se preocupado com isso.

A empregada nojenta entra e fica com cara de bunda ao ver nós dois ali.

Acho que ela gosta dele, coitada, nem sabe o que ele faz à força.

Ela sai, como uma menina mimada, depois de um tempo, ela volta com uma bandeja cheia de petiscos, ela coloca do meu lado, e me olha nos olhos sorrindo de lado.

Como se tivesse aprontando alguma coisa, ou que vai aprontar.

Ela sai da sala, deixando novamente ele e eu sozinhos.

O filme é sobre um homem e uma mulher que jogam uma moeda em um poço dos desejos, e eles se aproximam no sonho. Gostei, mas só no final eles se encontram e são felizes.

Assistimos o filme comendo os petiscos, e ele sempre colocando na minha boca.

Ele está sendo carinhoso, estou estranhando isso dele, como pode mudar assim do nada?

O filme acaba e eu vou me levantar, mas ele me segura, e da um beijo na minha cabeça e me abraça, demonstrando mais carinho.

Iiiiii, acho que o satã está enlouquecendo.

Alguns minutos depois ele me levanta e se levanta junto, sinto uma tontura, e ele me segura antes de eu cair, ele me senta no sofá e me olha preocupado.

Meu estômago embrulha, e eu empurro ele saindo correndo, mas antes de conseguir chegar em algum banheiro, eu vomito ali mesmo, todos os petiscos e o suco.

Ele segura meus cabelos, e quando eu termino, ele vai me levando para o quarto, mas eu acabo desmaiando ali mesmo.

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