Capítulo 12. Nada Aconteceu

Quando Rafael acordou, viu Melanie ainda dormindo e sentiu um carinho imenso por ela. Ela sempre esteve em seu caminho, desde quando a viu na calçada, admirando o telão, sentiu borbulhar seu sangue e enxergou tudo mais colorido. Seu mundo ganhou novas perspectivas e sonhou que podia ter uma vida diferente, sem mais ataques de seu tio a sua sanidade e tentativas de usurpação de se seu patrimônio.

Sempre se questionar se valia a pena todo trabalho que fazia, pois trabalhava muito além do normal, embora gostasse do que fazia, não vivia para outra coisa a não ser trabalhar. Quando Mel chegou, transformou o seu mundo que era solitário, em um mundo cheio de cores, de vida, ao qual ele sentiu vontade de estar. Não entendeu o porquê da implicância com ela, depois que a viu e soube que seria a faxineira. Ele nunca foi discriminatório e não ligaria a mínima se ela fosse de classe inferior, mas ela não parecia ser faxineira e quando enfim descobriu o que realmente ela era, uma contadora, continuou com sua implicância. Por quê?

Ela agora estava ali, dormindo placidamente, para lhe fazer companhia e prevenir se seu tio chegasse de surpresa, para fazer alguma maldade de madrugada. Levantou-se e foi ao banheiro, sentiu seu corpo leve e parecia que tinha feito sexo, entrou debaixo do chuveiro e se lavou, mas continuou com a sensação em seu corpo de que havia se relacionado com alguém. Saiu do banho e secou-se, vestindo o roupão limpo que haviam deixado ali.

Quando saiu do banheiro, ela já havia se levantado e dobrado a roupa de cama que usou, George também já estava lá e o café da manhã já havia chegado Será que demorou tanto assim no chuveiro?

— Bom dia, parecia que estava tirando a sujeira de uma vida inteira, neste banho. — disse George.

— Bom dia, demorei tanto assim?

— Bastante. O suficiente para eu estar aqui esperando, assim como Mel e seu café da manhã.

— Não podemos sair e tomar café em uma cafeteria? Com certeza seria melhor do que este café daqui.

— Se você não quiser, eu quero, estou morrendo de fome. — disse Mel.

— Sim, entendo, é o bebê…

— Claro que é o bebê, o que você queria que fosse.

— O que houve, Melanie? — perguntou George, examinando ela com o olhar.

— Nada aconteceu. — Ela cruzou os braços na frente do peito e se virou de costas, não querendo olhar para nenhum dos dois.

George entendeu logo o que tinha acontecido, provavelmente o outro Rafael acordou no meio da noite e fez o que sempre fazia com ela. Era uma situação muito difícil e ele não entendeu, até agora, porque ela ainda não reclamou. Talvez até tenha reclamado, mas ele não ligou. Infelizmente não podia atestar nada, pois nunca viu Rafael em outra forma que não a diurna.

Finalmente Rafael se conformou e tomou seu café da manhã, logo o de Melanie, que era acompanhante, também chegou e ela pôde se alimentar, mas não foi o suficiente e George achou melhor ir até a cantina e comprar mais alguma coisa para ela. Nesse meio tempo, Rafael aproveitou para perguntar o que ela tinha, que estava tão emburrada.

— Você realmente não sabe não é, você tem algum distúrbio mental, é um cara de dia e outro à noite.

— Como assim, eu estou doente sim, mas não da cabeça. 

— Da cabeça, sim, como eu te disse, você se comporta de um jeito de dia e de outro à noite. Você dorme e quando acorda no meio da noite, é outro completamente diferente.

— Do que você está falando?

Neste momento, George voltou e eles pararam a conversa no meio. Rafael olhava para ela com a testa franzida e mergulhado em dúvidas sobre o que ela falou. Já ela, passava a mão na barriga pensando que logo ela estaria grande e seu bebê nasceria, sem ter um pai responsável que cuidasse dele. Melanie pegou o lanche que George trouxe e comeu com vontade, finalmente se sentindo saciada.

O médico chegou e deu alta a Rafael, fazendo muitas recomendações e entregando por escrito tudo que ele deveria fazer até a próxima consulta. Melanie ficou curiosa sobre todos aqueles cuidados, pelo que Rafael falou, ele estava doente, mas que doença seria essa a ponto dele precisar ter tanto cuidado e continuar se consultando?

Saíram do hospital e Jorge passou pela casa de Melanie e deixou-a lá, logo ela teria que pegar no batente, mas Rafael lhe deu a manhã de folga.

— Que lugar é esse? Nunca imaginei que ela morasse em um lugar tão precário. — comentou Rafael, observando bem o bairro, conforme passavam.

— Você deveria saber que algumas pessoas têm mais que outras, por fora até nem é tão ruim, mas ela divide o quarto com outras cinco moças. 

— Será que ela pretende ter o bebê e criar aqui?

— Pelo que conversei com ela, não, ela está aproveitando este lugar barato enquanto está grávida, para juntar dinheiro e depois conseguir um lugar bem melhor para criar seu filho.

— Ela me falou uma coisa hoje, que me deixou preocupado. Ela disse que eu sou um de dia e outro à noite. Não me lembro de ter feito nada para ela durante a noite, para ela falar algo assim.

— Essa é a questão, você não se lembra.

— Você quer dizer que eu sou sonâmbulo?

— Não sei se é isso, pois a única que viu foi ela.

— Então,  como podemos confiar que ela está falando a verdade e o que ela ganha dizendo uma coisa assim?

— Isso só quem pode responder é Melanie, mas pelo que já conversamos, ela é uma jovem correta, pura, com ambições simples e não faria joguinhos com você.

— O que é, se apaixonou por ela?

— Lá vem você com seu ciúme bobo, por que não assume logo que quem tá apaixonado é você?

— Não sei de onde tirou isso...

— Sei…

Chegaram no prédio da empresa e entraram pelo subsolo, a seguir, pegaram o elevador e quando chegaram a sala dele, Rafael foi direto para o anexo e trocou de roupa, quando saiu não era mais o paciente e sim o grande CEO da empresa.

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