A Dor da Perda.

Quando chego no quarto vejo que a porta está aberta, minha Dedushka não gosta de portas abertas. Ela diz que é ruim e atrai coisas que não são para entrar, mas entro no quarto e quando vou fechar a porta olho para o chão e vejo que minha Dedushka está caída.

E ao lado dela está o meu diário, está aberto na página em que digo que perdi minha virgindade para salva-la. Eu não acredito no que estou vendo. Isso não pode ter acontecido... Espero que ela me perdoe.

Corro até ela e coloco a mão no seu rosto que está frio e tem marca de lágrimas também. Tenho que acorda-la, mas tem algo estranho... Muito estranho.

Não consigo sentir a pulsação dela, o desespero me atinge como algo afiado. Não sei o que fazer, preciso ligar para a ambulância... Eu preciso ligar para um médico.

Preciso de ajuda... Corro até onde deixei meu celular. Por que deixei meu celular lá embaixo? Pego o meu celular e volto correndo para o quarto e ligo para a emergência. Lá eles me ensinam a fazer o RCP, mas digo que não consegui nada e eles dizem que já estão a caminho da minha casa.

Não muito tempo depois a ambulância para lá na frente da minha casa e os paramédicos sobem, eles mandam eu me afastar e eu fico ali tremendo e chorando. Eu já guardei o meu diário, não poderia deixar mais ninguém saber da minha vergonha.

E fico ali o tempo inteiro tremendo e roendo as unhas que já nem tenho mais e olhando para o médico enquanto tentam reanima-la, mas nada funciona até que chega ao ponto deles olharem para mim e dizerem;

— "Sinto muito!" — E eu caio de joelhos no chão, encosto minha testa no chão também e choro muito.

Choro desesperadamente... Foi minha culpa, ela morreu por minha causa. Eu matei a minha Dedushka! Eu matei a pessoa que mais amo na vida, de desgosto. Fico tão mal, tão mal que um dos paramédicos acabou me colocando na mesma ambulância que colocaram o corpo na minha Dedushka e aplicaram em mim alguma coisa que me fez praticamente virar um zumbi.

Acompanho eles até chegarmos ao hospital e lá eu mal consegui falar para o meu primo o que aconteceu, mas poucos minutos depois ele apareceu lá para me buscar e os paramédicos contaram para ele o que aconteceu, nesse momento vejo ele chorar muito.

Eu não pensei que ele realmente amava nossa Dedushka, porque ele nunca demonstrou. Mas pelo jeito que ele está chorando e uivando como um animal ferido dá para ver que ele está realmente sentindo a morte dela.

— Como assim infarto? Minha Dedushka não tinha problemas cardíacos! Ela estava se recuperando de uma luta contra um câncer!

Escuto Ruslan gritar no hospital e não tenho força para nada. A única coisa que consegui fazer foi ligar para Dakota e pedir ajuda, porque o dinheiro que eu tinha não ia dar para fazer o que eu queria, que é cremar a minha Dedushka.

Tudo o que aconteceu depois que descobri que eu matei a pessoa que mais amo foi dor atrás de dor. Nós acompanhamos o velório, meu primo e eu, o Gustav e a Dakota também estão aqui, a Sienna e a Alma também vieram... Eram as únicas pessoas além das vizinhas com quem minha Dedushka conversava.

E no final de sua vida até que ela fez alguns amigos que gostavam dela, pois todos que estão aqui estão chorando. Lá na Rússia ela não tinha amigas e aqui ela fez e no final de tudo por mais que eu tivesse tentado salvar a vida dela acabei a matando.

Tudo o que fiz, eu mesma estraguei. Tenho uma dor no meu peito que está me matando como ser humano. A vontade de acabar com a minha própria vida é muito grande... Principalmente quando vem a etapa do crematório que somos obrigados a ficar ali olhando a caixa entrar dentro do incinerador.

Meu primo e eu quisemos acompanhar tudo, depois que colocaram ela na urna, a mesma urna que tinha o desenho de uma bonequinha Russa, fui para casa abraçada ao que sobrou da minha Dedushka.

Já meu primo apenas me deixou em casa e sumiu no mundo. Eu me deitei, depois de muito tempo, na cama em que dormia com a minha Dedushka, coloquei a urna com as suas cinzas na mesinha onde tem a bonequinha Russa de cerâmica que minha Dedushka amava.

Durmo chorando. Em algum momento dessa noite fui acordada, tinha mãos rasgando minhas roupas com uma violência muito grande, eu praticamente fiquei desnorteada sem saber o que estava acontecendo e quando realmente abro os meus olhos vejo meu primo nu em cima de mim rasgando a minha roupa e dizendo;

— Ty, gryaznaya suka, teper' ty moya, i bol'she nikto ne pomeshayet mne s"yest' tebya... YA dolgo zhdal etogo i nadeyus', chto eto khotya by vkusno! (Sua vadia imunda, agora você será minha e não tem mais ninguém que me impeça de te comer... Eu esperei muito por isso e espero que seja gostosa pelo menos!)

Eu tento trazer ele a razão mesmo estando bêbado e digo;

— Ruslan, my tol'ko chto poteryali babushku, ne delay togo, o chem potom budesh' zhalet'! My sem'ya! Uvazhay menya, khotya by uvazhay moye gore, umolyayu tebya! (Ruslan, acabamos de perder a nossa avó, não faça algo que vai se arrepender depois! Somos família! Me respeite, respeite pelo menos o meu luto, eu te imploro!)

— Ty prosto proklyataya shlyukha, i segodnya ty budesh' sluzhit' mne! (Você é apenas uma maldita prostituta, e vai me servir essa noite!)

Vejo que não tem conversa e vou ter que fazer o que a Dakota me aconselhou. Enquanto ele está com as mãos em meu corpo tentando rasgar o resto que sobrou de roupa em mim feito um animal no cio, tento desesperadamente pegar algo para acertar ele.

E é quando minhas mãos alcançam a boneca de estimação da minha Dedushka e eu não vejo outra coisa. Então, acerto a cabeça dele com toda a força fazendo Ruslan cair em cima de mim, sangrando.

Ele realmente desmaiou, antes de me levantar da cama empurro o corpo dele para o lado e verifico se ele ainda está vivo e ele está. Pego uma bolsa rapidamente e coloco o diário e algumas roupas. Tiro o resto de roupas rasgada que está no meu corpo e visto qualquer roupa que vejo pela frente.

Pego mais algumas coisas e enfio na grande bolsa incluindo meus documentos e saio daquela casa no meio da noite correndo desesperada. Eu não acredito que deixei a urna com as cinzas da minha Dedushka lá.

Não tenho para quem ligar, não tenho para quem pedir ajuda além da minha única opção no momento que é ligar para Dakota. E é o que eu faço, ela me pergunta aonde estou e eu digo para ela.

Depois disso não muito tempo depois um carro para e vejo ela sair do lado do carona e fazer sinal para mim. Entro no carro e vejo que ela está com um homem e ela disse que é o segurança do Damas e melhor amigo dela.

Conto para ela rapidamente o que aconteceu sem detalhes, conto apenas que fui atacada pelo meu primo e fiz o que ela disse para mim fazer. Ela olha para o amigo depois olha para mim e pisca, Dakota sabe que não vou contar tudo na presença de um estranho.

É quando vejo que chegamos no último local do mundo que eu me veria agora, o Dama-da-Noite, e foi aqui que começou a minha desgraça, nada melhor do que terminar aqui.

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