A Saúde da Dedushka.

Pensei que esse lugar recebia as pessoas de todo os lugares de braços abertos, mas me enganei. Eu fiz uma amizade no último lugar que trabalhei, uma senhora muito gentil, ela pegou o número para contato lá de casa e disse que vai me avisar quando aparecer algum trabalho fixo para mim.

O Ruslan está trabalhando com um amigo dele em construções civis. Eu Fiquei impressionada como ele conseguiu um trabalho mais rápido do que eu e não está sofrendo o que eu estou sofrendo.

Hoje eu vou até uma floricultura onde me disseram que estão precisando de atendente e a pessoa que arrumou para mim foi uma vizinha daqui, ela disse que com a minha beleza vou chamar bastante atenção no balcão.

Espero que eles não me contratem apenas pela minha beleza. Eu quero ser tratada pela forma que eu trabalho e não por ter um rosto bonito. Quero ser valorizada pelo meu trabalho e não por minha aparência.

Finalmente consegui um emprego, não me paga muito bem, mas o suficiente para conseguir levar a minha Dedushka ao hospital. E eu já fico feliz por isso. Com dois meses de salário eu finalmente tenho o suficiente para levar a minha Dedushka ao médico e comprar remédios se assim ela precisar.

Consigo marcar a consulta e assim que chegamos na clínica, a médica já passa uma bateria de exames para minha Dedushka, e só os valores dos exames foi uma parte boa do dinheiro.

Mas pelo menos teremos o resultado em breve. Ela passou alguns remédios e vitaminas para minha Dedushka e claro que eu comprei, não poderia deixar a minha Dedushka sem os remédios.

Alguns dias depois voltamos para a segunda consulta só que as notícias não são boas e me deixa desesperada.

— Doutora, a senhora tem certeza? — E a Doutora diz para mim;

— Senhorita Vassiliev, foi por esse motivo que eu preferi marcar com a senhorita aqui sem a presença de sua avó! Eu tenho certeza... É câncer de mama! Ela precisa fazer o exame para descobrirmos se é benigno ou maligno, mas ao julgar pelo meu tempo trabalhando com isso acho que não vai ser muito bom o resultado dessa biópsia. Acho melhor a senhorita se preparar para algo pior... Eu sinto muito. Mas como eu já expliquei podemos prolongar a vida dela com o tratamento, só que ele é bem caro. A sua família teria que se reunir e conversar para arrumar o dinheiro para pagar.

— Não, por favor... Eu não saberia... Doutora, vou falar com meu primo. Volto aqui amanhã!

Saio da clínica muito abalada, pois sei que se for o que estou pensando as coisas ficarão complicadas! Eu sei que a minha Dedushka já tem 83 anos, mas eu não vou aceitar que ela se vá por causa de uma doença tão ingrata!

Ao chegar no trabalho do meu primo quase todos os homens olham para mim e começam a mexer comigo, mas apenas com um grito de Ruslan todos voltam ao trabalho e ele irritado diz para mim;

— O que está fazendo aqui? É o meu trabalho, eu disse que poderia vir aqui só se algo urgente acontecesse!

— É urgente, Ruslan! — Eu conto para ele o que aconteceu e digo que a nossa Dedushka vai precisar de um tratamento muito caro e que precisamos nos juntar para pagar, e ele logo diz para mim;

— Yelena, mal sobra dinheiro para nos sustentar! Você sabe que estou enviando dinheiro para os meus filhos na Rússia! Como vou pagar por algo tão caro? Mesmo sendo para minha Dedushka!

— Você está se ouvindo? Você sai para beber quase todos os dias, porque não usa o dinheiro que usa para isso para me ajudar? Ela te criou também e te deu todo o amor que tinha! — E ele diz irritado;

— Yelena, acho melhor não falar assim comigo novamente. Acho que lembra bem do que sou capaz!

— Eu odeio você! — Depois de dizer isso para ele eu volto para casa, me sento no sofá, pois sei que a minha Dedushka está lá no quarto tirando o seu sono da tarde. Eu deixei de ir trabalhar para poder ir até a médica e ela me dá uma notícia dessas.

O que eu ganho lá não é o suficiente para bancar o tratamento da minha avó e o meu primo pelo visto não vai colaborar.

— O que eu vou fazer para resolver essa situação?

Eu não tenho com quem pegar o dinheiro e não estou conseguindo arrumar um trabalho a mais para ajudar na renda. E no final de tudo para mim não foi bom mudar para cá.

Eu continuo passando a mesma coisa que eu passava na Rússia... A diferença é que lá eu conhecia tudo e todos me conheciam. Eu sei que a vida era difícil, mas pelo menos eu estava na minha cidade, no lugar onde nasci e fui criada.

E agora eu estou aqui com essa bomba em meus braços, estou aqui chorando, distraída e sinto a mão da minha Dedushka em meu rosto e a sua voz suave me confortando dizendo;

— Moya vnuchka, não chore. Você é a minha bonequinha linda, e as bonequinhas não choram! Diga para a sua Dedushka, o que está a deixando triste?

— Eu quero voltar a minha infância e ter mais tempo com a senhora! Quero que a sua idade diminua uns 30 anos! Quero que a nossa família possa voltar para a Rússia e viver próspera mente lá! Minha Dedushka diz calma e gentil;

— Não pode mais agir como a criança que era, meu amor! Estamos aqui agora e precisamos nos acostumar com a nossa nova vida, eu sei que é difícil e um pouco assustador. Eu só consigo andar até a esquina quando vocês não estão em casa, mas eu estou progredindo cada dia mais e assim vai ser com vocês, meu amor.

— Eu amo a senhora, Dedushka! — Eu dou um abraço forte nela e ficamos ali um tempo. Eu comecei a procurar trabalho.

Trabalho na floricultura apenas 4 horas por dia. Eu quero arrumar um trabalho que preencha o restante do dia e que pague um valor considerável para que eu possa juntar os dois salários e começar a pagar o tratamento da minha Dedushka.

Mas a única coisa que eu arrumo são freelancer, nada que pague o suficiente ou que me ajude. E eu estou ficando cada vez mais preocupada, porque sei que o quanto mais demorar mais o câncer avança.

Já se passaram 20 dias e a única coisa que eu consegui até agora foi o dinheiro para a minha Dedushka fazer esse novo exame. Eu ainda não contei para ela a razão para o novo exame e a médica também não contou.

Eu pedi para ela não contar... E agora eu tenho que esperar esse resultado sair. Eu vou passar todos os meus dias trabalhando e procurando mais trabalho. Eu não sabia que a vida aqui seria desse jeito, o meu primo pintava esse lugar como o país dos empregos.

Então, por que que os lugares onde eu vou me julgam por ser russa? E não confiam em mim? É claro que para o meu primo, aqui a vida está sendo muito mais fácil. Ruslan não tem com o que se preocupar... E isso me deixa bem chateada.

Por que a vida para os homens costuma ser mais fácil do que para as mulheres? Por que somos tão subestimadas? Deixa para lá.

Chegou o dia de pegar o exame da minha Dedushka e eu levo o exame até a doutora e ela constatou o que eu não queria... Minha Dedushka está com câncer maligno. E isso me destrói... Dessa vez eu não fui até o trabalho do meu primo.

Porque sei que é em vão, mas a minha Dedushka foi convidada para um chá da tarde pelas vizinhas senhoras de onde moramos, sei que essa hora não tem ninguém em casa. Então é para lá que eu, vou parar de chorar.

Eu fui tomar um banho e acabei esquecendo de pegar a minha roupa, a minha mente está uma bagunça. Quando eu entro no quarto enrolada na toalha sou jogada em cima da cama pelo meu primo que está bêbado.

Como sempre ele começa a me alisar e a única reação que eu tenho agora é de dar uma ajoelhada nele e o mesmo cai no chão. E assim que ele se levanta para me agredir eu jogo a bomba e digo para ele que se não cuidarmos da nossa Dedushka ela vai morrer.

E ele para bem antes de dar o tapa na minha cara, em seguida ele sai do quarto me deixando sozinha... E eu nem acredito que foi a primeira vez que o enfrentei. Consegui sair vitoriosa disso, mesmo que seja com algo que me machuca tanto quanto está machucando ele agora.

Na verdade eu nem sabia que ele tinha sentimentos pela nossa Dedushka, já que ele não se mostrou muito preocupado quando eu dei a notícia que ela estava com câncer. E agora eu estou aqui sofrendo sem que a minha Dedushka saiba que está com uma doença grave... Como eu vou contar para ela?

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