Taradona & Beatinha
...POV Victoria...
Fitando meu reflexo no espelho da penteadeira, fiz uma trança em meus longos cabelos castanhos e prendi a ponta com um elástico. Olhei detalhadamente em meus olhos que estavam sem maquiagem alguma e um suspiro saiu por entre meus lábios. Imediatamente peguei um corretivo, começando a tentar esconder as profundas olheiras que me faziam parecer uma morta viva, mas no final da tentativa em me maquiar fiquei com a aparência um pouco menos doentia e mais puxada para o lado palhaça.
Derrotada, coloquei os cotovelos na penteadeira e apoiei a cabeça com as mãos, fechando os olhos.
Até quando vou ser essa tapada que não sabe fazer uma maquiagem sequer?
Já tinha assistido milhares de vídeos no YouTube, mas sempre que tentava por em prática era um fracasso. Choraminguei com o pensamento e no mesmo momento mamãe bateu em minha porta.
— Victoria? Amorzinho, você quer adiar sua ida para a segunda-feira? — perguntou ela com seu tom amável de sempre.
— Não, calma aí, já vou descer! — falei rápido, pois a última coisa que queria era chegar na faculdade no dia em que as aulas começariam.
— Cinco minutos — avisou e eu sabia que eram exatos cinco minutos ou nada.
Mamãe se foi e imediatamente peguei o demaquilante para retirar toda aquela gosma de meu rosto.
— Vai ter que ser morta viva mesmo! — falei ao final e levantei indo pegar a mala pequena e quase vazia onde joguei tudo o que ainda estava sobre a penteadeira.
Foi uma atitude bem planejada e muito sofrida até finalmente conseguir convencer meus pais a viver no campus, já que minha casa não ficava tão longe da universidade. A verdade era que eu precisava me distanciar de minha família e pela primeira vez na vida tentar me virar sozinha.
Meus pais sempre foram muito apegados à religião deles e de certa forma me sufocavam, sempre me impondo seguir suas crenças acima de tudo. Eu desejava que ao menos a vida universitária fosse como sonhei, livre, leve e solta.
Dei um sorrisinho enquanto pensava aquilo e arrastei a mala até a porta.
O percurso não demorou mais que quarenta minutos. Quando o carro de mamãe entrou nos limites da universidade eu pude sentir nas veias que aquele era o meu mundo, mas também era possível ver a constante reprovação no olhar de minha mãe, mas já havíamos passado dois meses discutindo sobre aquilo.
— Tome cuidado, não se deixe influenciar...
— Tudo bem, mãe — falei entediada e em seguida dei-lhe um beijo na bochecha.
Foi difícil fazê-la voltar da porta, afinal queria ver o quarto em que eu ficaria, mas já sou quase uma mestre em desculpas.
Eu havia usado de todo meu poder de persuasão no último verão, para sozinha poder passar um tempo conhecendo as irmandades e os eventos organizados por elas, para poder finalmente optar por uma onde me sentisse mais confortável. Depois de tudo o que conheci das casas, a Kappa me parecia o ambiente menos hostil, apesar das meninas claramente não terem nada a ver comigo. Quando conheci Mary, a líder da casa, tive certeza de que iria me dar bem com as outras, por isso lá estava eu, entrando com o pé direito atravessando a porta da frente, logo me deparando com a longa escada que no topo se dividia para os lados. Percebi que não tinha pensado em como carregar as malas até o segundo andar onde ficava meu dormitório, mas ainda assim caminhei até o segundo degrau.
— Espera, eu te ajudo. — A voz logo atrás me fez virar e me deparei com uma jovem de cabelos curtos e loiros.
— Obrigada. — Sorri sem graça entregando-lhe a menor mala e ela logo passou para o degrau acima do que eu estava.
— Sou Candice — disse ela já subindo e eu fiquei parada observando que usava roupas extremamente curtas e me achei estranha por estar usando uma saia um pouco abaixo do joelho e blusa de mangas, mesmo com o clima quente. Pisquei algumas vezes, meu cérebro voltou a funcionar e então voltei a subir. — Seu quarto fica na esquerda ou direita? — perguntou parando ao topo da escada e rapidamente puxei o papel que tinha enfiado no bolso lateral da mochila, ela pegou a folha da minha mão e após passar os olhos seguiu para a direita.
— O meu fica no outro corredor — disse. Segui ela que logo parou em frente a uma porta. — Bem-vinda ao seu novo lar. — Sorriu.
— Obrigada — repeti, pegando na maçaneta e olhei novamente para ela.
— Relaxa, aqui não é tão ruim. — Sorri sem jeito, confirmando com a cabeça. — Esse é meu segundo ano e ainda estou viva, veja só! — Candice deu uma batidinha em meu ombro e saiu caminhando de volta.
Respirei fundo antes de abrir a porta, pensando encontrar minha futura colega de quarto, mas o lugar estava vazio. Do lado esquerdo a cama estava arrumada com uma colcha felpuda preta e travesseiros fofinhos de cor branca, ao lado havia um móvel onde tinham bijuterias, maquiagem e muitos outros pequenos objetos jogados. Ainda do lado esquerdo havia uma grande cômoda de madeira.
Coloquei as malas próximo a cama da direita e sentei na mesma, dando um longo suspiro. Havia o móvel e a cômoda também do meu lado e o banheiro também ficava na direita, em um pequeno e estreito corredor.
...POV Kris...
— Que se foda aquele maldito dos infernos! — Praguejei enquanto abria a porta do dormitório falando com Paul ao telefone. — Não vou a festa nenhuma naquela fraternidade idiota, odeio aquelas cretinas que se acham as donas do pedaço, mas sequer conseguem limpar a bunda sozinhas.
Me joguei na cama enquanto ouvia Paul rir confirmando tudo o que eu disse e acrescentando mais alguns desaforos. Aquele cara me entendia tão bem que parecia sermos irmãos gêmeos separados na maternidade, existia uma conexão de pensamentos entre nós que algumas vezes chegava a ser assustadora.
— Mas foda-s... Ai meu Deus! — gritei e Paul assustou-se do outro lado, mas desliguei na cara dele.
Sentei na cama olhando a pessoa que saía do banheiro e meu queixo caiu enquanto passava os olhos por seu corpo.
— De que convento você saiu? — pronunciei a primeira coisa que me veio em mente.
— Como? — Ela franziu a testa e reprimi a gargalhada que ficou presa em minha garganta.
Coloquei um dedo sobre os lábios analisando suas roupas de velha e me perguntei o que fiz para merecer mais uma colega de quarto totalmente diferente de mim.
— Algum problema? — perguntou e olhei para seu rosto que estava vermelho, ela parecia sem jeito diante de minha análise.
— Você não dorme a quantos dias? — questionei ao ver as olheiras em seu rosto. — Meu Deus, o que fiz para merecer isso? — Me joguei na cama e fechei os olhos, mas meu telefone tocou e atendi ouvindo os gritos de Paul por eu ter desligado na cara dele. — Cala a boquinha, tenho visita aqui em meu dormitório. Acredita que mandaram uma beata para ser minha colega de quarto?
Ele deu uma gargalhada.
— Beata? — Escutei a garota falar e quando olhei para ela notei que ainda estava no mesmo local, próximo ao banheiro, me olhando com aquela aparência horrível. — Sua mãe não te ensinou a respeitar as pessoas e a ter modos?
Desliguei o telefone novamente e sentei na cama, temendo que a louca decidisse me arrastar para o poço.
— Olha, vamos esclarecer algumas coisas aqui, certo? Daqui para lá é o seu lado do quarto e dessa linha imaginária para cá, é o meu território — expliquei, gesticulando com as mãos. — Logo, tudo o que eu faço e falo deste lado do quarto não é da sua conta!
— Então, você acha que tem o direito de falar de mim dessa forma e devo ficar calada só por causa da sua maravilhosa capacidade de criar uma linha imaginária? — Ela mantinha os braços cruzados me olhando com uma certa raiva.
Revirei os olhos antes de levantar da minha cama, abrir minha cômoda, pegar uma bolsinha de onde retirei uma fita de cor verde e comecei a dividir nosso território.
— Pronto! — Respirei fundo, colocando as mãos na cintura. — Você pode ultrapassar para sair. — Apontei para a porta. — Diante do meu esforço criando essa linha bem visível, digo que não tem nada a ver com o que falo aqui. Ok?
— Por Deus... — murmurou ela virando e sentando na cama.
— E não me venha rezas aqui! — Joguei o resto da fita sobre a cama e saí do quarto deixando o celular para trás.
...(...)...
— Ei! Psiu! — chamei baixinho. Estava sentada no chão, encostada em minha cama, de frente ao rosto dela que dormia pesadamente. — Menina acorda. Ei! — Decidi gritar. — Acorda Beata!
— Mãe? — disse acordando assustada me fazendo dar uma sonora gargalhada vendo ela sentar na cama com os cabelos bagunçados. — Você... — murmurou voltando a deitar.
— São cinco da manhã é hora de acordar para a oração matinal, vamos! — brinquei e ela abriu os olhos novamente
— O que você quer, hein?
Apontei para baixo da cama dela.
— Joguei meu celular e sem querer ele foi parar aí, então pegue para mim. — Ela fez uma careta enquanto mantinha o rosto em direção ao teto e logo depois me encarou com aqueles olhos inchados.
— Por que você mesma não pega?
— Eu levo a sério minha linha — expliquei, indicando a mesma.
— Só pode ser brincadeira! — A beata suspirou e então inclinou-se na cama para pega o celular.
Estendi a mão para receber o aparelho, mas ela jogou o mesmo em minha cama e deitou-se novamente, virada de costas para mim.
— Você é muito atrevida, garota. — Ri.
— E você fede a cigarro e bebida, sai de perto da minha cama! — resmungou.
Não lembro quando adormeci, acho que deixei Paul no vácuo durante nossa sessão fofocas matinal e peguei no sono. Quando acordei já era uma da tarde e nem sinal da esquisitona. Fui ao banheiro tomei um banho, fiz minha higiene bucal e depois de pronta saí em busca de algo para comer.
Como em todo domingo a maioria das meninas daquela casa estavam jogadas no sofá da sala no primeiro andar, com aquelas caras de tédio. Amy ao me ver chegando saltou ficando de pé e veio praticamente correndo em minha direção, suas mãos voaram para em volta de meu pescoço e ela beijou minha bochecha. Me perguntava quando a morena ia superar nosso fica em uma noite de bebedeira e se conformar que éramos apenas amigas.
— Gostou da festa na casa das Beta? — perguntou ela.
— Claro que não, aquelas cretinas não servem nem para fazer um festa de vergonha. — Retirei seus braços de mim e caminhei para a porta sabendo que ela me seguia.
— A Mary vai fazer a festa de boas-vindas às novatas da Kappa no próximo sábado e essa sim vai ser A Festa.
— As novatas desse ano são uma droga, você precisa ver minha nova companheira de quarto. — Coloquei o dedo na boca fingindo vomitar e ela gargalhou.
— Kris você já colocou pra correr duas colegas de quarto, se quiser peço pra trocar com ela.
— Não, obrigada — falei imediatamente, pois a última coisa que queria era Amy dando encima de mim o tempo todo.
— Poxa. — Olhei de canto e percebi ela fazer um bico. — Foge de mim como o diabo da cruz. Sou tão ruim assim? — Parei de andar chegando em meu carro.
— Na boa Amy, você sabe que eu curto homem, né? Piroca! Adoro piroca.
Aquilo não era verdade, claro, mas eu precisava fugir dela com brincadeiras para não precisar ser grossa.
Lembrava-me de minha primeira e última experiência com um cara, estávamos ficando há duas semanas e eu tinha 15 anos quando decidi perder a virgindade. Fico até arrepiada ao lembrar nós dois no meio da sala da casa dos pais dele quando me mostrou aquele troço estranho no meio das pernas e pediu que eu chupasse. Eu cuspi com nojo e imediatamente sai de lá, quase nua. Acho que ele foi o primeiro e último ser humano que fiquei mais de duas vezes, prefiro minha solteirice, curtindo minha vida sem ninguém pegando no meu pé.
Estacionei o carro em frente ao clube, o lugar mais frequentado aos domingos pela galera da universidade. Lá tínhamos opção de café, lazer na piscina, salas e campos de jogos, aulas de dança de todos os estilos e também era tipo o paraíso dos bad boys contrabandistas de drogas, filhos de sócios do lugar.
Enquanto entrava com Amy ao meu lado avistei vários alguns rostos conhecidos e chegando no segundo andar onde ficava o café fiquei surpresa ao ver a beata conversando com o rei do tráfico da universidade. Um dos carinhas mais ricos por lá, o que não dava para entender porque vendia aquelas merdas. Mathew era também o rei das novatas que sempre pareciam morrer por ele.
— Olha alí a songa monga pedindo para se ferrar — murmurei parando a uma certa distância, cruzando os braços enquanto olhava a cena.
— Quem é aquela falando com o Matt? — Amy fez cara de nojo ao olhar para a garota.
— Infelizmente, aquela é minha companheira de quarto — falei enquanto analisava o sorriso sacana no rosto do loiro boçal.
— Sinto muito — disse ela, dando batidinhas em meu ombro e avistei Cand se aproximando de nós carregando dois refrigerantes.
— Olá meninas! Tchau meninas! — Ela já passava direto, mas paralisou. — O que o Mathew McKean está fazendo alí? — falou entredentes.
— Caridade? — brincou Amy, mas a loirinha praticamente correu em direção ao casal.
— Seu cretino, afaste-se da Vic! — Saiu gritando feito uma louca.
— São amigas? — Me pergunte franzindo a testa, mas Amy me arrastou para o balcão da lanchonete onde decidi procurar algo para comer.
...(Cinco horas mais tarde)...
— Eu vou enfiar esse taco no seu buraco mais profundo — ameacei segurando o taco de sinuca.
— Vem quente que eu to fervendo. — Paul inclinou-se sobre a mesa e todos que estavam por perto fizeram cara de nojo, me fazendo gargalhar. — Mete viado! — Deu um gritinho e eu bati com o taco em sua bunda. — Aii!
— Te controla, hoje não tem fodinha. — Rindo joguei o taco para o Eric que ia jogar a próxima.
Caminhei até um sofá e fiquei observando os caras jogando enquanto Paul descaradamente dava encima de todos. Eu me divertia horrores com ele e nem percebia que as horas passavam. Já era tarde quando me coloquei de pé e anunciei que ia embora. Meu amigo não quis sair sem ter ganho nenhuma partida e nenhum bofe, mas Amy, que ainda estava por lá, logo pediu carona de volta.
Alguns minutos depois estacionei o carro próximo a casa e nós subimos juntas, mas ao invés de ir para o próprio quarto Amy me seguiu até a porta do meu, claramente esperançosa por conseguir algo.
— Chegamos — ela anunciou o óbvio e encarei seus olhos felinos.
— Estou vendo. — Coloquei a mão na maçaneta vendo ela morder o lábio.
...POV Victoria...
Depois de passar a manhã recuperando o sono que aquela louca me impediu de dormir durante a madrugada, acordei as onze e tomei um banho. Coloquei um vestido e ao sair do quarto fui surpreendida pela garota do outro dia, a Candice, toda animada me chamando para irmos a um tal clube e aceitei.
O lugar, tinha de tudo e estava cheio de universitários. Nós tomamos café observando uma partida de futebol em um dos imensos campos do local. Depois decidimos ir tomar refrigerante e subimos para um segundo andar onde Cand me deixou à sua espera.
Foi muito estranho quando um rapaz sentou ao meu lado perguntando meu nome, me deixando totalmente sem jeito, mas respondi todas as suas perguntas curiosas, mesmo me sentindo um pimentão de tão sem graça por ficar diante de tanta beleza e simpatia, daquele que se apresentou como Matt. Porém, Candice chegou gritando e colocou o menino para correr, ela me lançou um olhar fulminante e avisou que eu ficasse longe dele.
Depois desse episódio que eu não entendi bem, comprei um lanche para não ter que sair do quarto pelo resto da tarde e nós viemos embora.
Fiquei em meu quarto lendo um livro e já era noite quando ouvi a voz da garota inconveniente, do lado de fora, no corredor. Estava tentando me concentrar na leitura, mas as vozes sempre me faziam perder o fio da meada e tinha que reler as frases, por isso, cansada de tanta falação, coloquei o livro de lado indo até a porta e ao abrir a mesma não vi ninguém, mas quando coloquei a cabeça para fora meu queixo caiu enquanto meus olhos ficavam arregalados. A minha colega de quarto — que de colega não tinha nada — estava chupando a língua de uma garota enquanto pressionava o corpo dela contra a parede. Parecia que as duas iam se fundir alí mesmo.
Não sei por quanto tempo fiquei paralisada vendo aquela cena, que jamais imaginei presenciar, mas que me causou uma sensação muito estranha.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Mary Lima
É minha linda vc queria conhecer o mundo e ser livre acostume-se ,ainda verás coisas inacreditáveis.
2024-08-07
2
Mary Lima
Nossa que menina ouenino desagradável /Doubt/
2024-08-06
0
gayzinha🏳️🌈
Mano que ódio das duas cara
2023-04-03
11