10 anos atrás.
Samanta Colins.
Um misto de empolgação e euforia me dominava naquele momento, no começo o meu estômago doía de tanta ansiedade. Não um sentimento ruim mais daqueles bons,os minutos passaram e eu estava cada vez mais agitada.
Na noite passada nós resolvemos fugir de tudo, tanto dos meus problemas quanto dos dele. Nossas famílias eram um pesadelo e só teria uma solução, largar tudo para viver uma nova vida.
Ir em busca dos nossos sonhos e finalmente começar de novo,em um lugar distante onde poderíamos nos tornar o que realmente a gente queria ser.
Carinhosamente ele me segurou mais forte enquanto estávamos deitados no chão observando as estrelas no céu.
_ Você me ama Sam ? - Ele me perguntou.
Por um minuto senti um frio na barriga e me afastei para olhar nos olhos dele. Naquele momento não sabia se era porque eu não tinha comido nada até aquela hora ou se realmente era pela surpresa.
Cristian não era o tipo de cara que falava de amor nem nada do tipo.
Eu era louca por ele desde os nossos 15 anos, sempre demonstrei meus sentimentos e tentava de todas as maneiras chamar a atenção dele. Escrevi cartas , fiz diversas declarações de amor e até roubei um beijo uma vez. A única certeza que eu
tinha era que faria qualquer coisa por ele.
_Você sabe que sim! - Respondi um pouco preocupada.
_Então diz que confia em mim.
_ Eu confio e vou com você pra qualquer lugar desse mundo.
_Tudo bem, a gente se encontra aqui amanhã, vou separar algumas coisas pra viagem e volto quando escurecer. Consegue sair sem ninguém perceber?
_Sim! O Mac tá muito louco com tudo, mais eu dou um jeito.
_Toma cuidado !
Então ele me deu um beijo suave e doce, daqueles que definitivamente me fazia repensar a regra de me guardar até o dia do casamento.
Todo mundo sabia que o Cristian era um rebelde sem causa, o cara que tinha a família perfeita, o rostinho bonito com fama de badboy que toda garota queria conquistar.
Por alguma razão desconhecida depois das milhares de investidas finalmente eu consegui que ele me notasse e por algum milagre não fui rejeitada. Desde então ficamos juntos e
ele começou a andar com a galera do meu irmão que eram completos babacas.
E quanto mais as coisas mudavam pior eles se tornavam, a ponto de fazer racionamento de comida e querer controlar tudo que a gente fazia. Tornando a convivência insuportável.
Com todas essas lembranças me distraindo da minha real situação não sinto quando a leve brisa da madrugada começou a molhar minhas roupas. As horas avançaram e não me mexi, sentada ali com a minha mochila no colo vi o dia amanhecer.
_ Calma Samanta ele vai aparecer. - Repeti para mim mesma várias vezes olhando pro meio do nada.
_ Será que aconteceu alguma coisa?
A ideia de ir até lá e ser enxotada pelo Sr Oscar estava fora de questão . Cristian odiava quando eu insistia em ir com ele para casa, sempre dizia a mesma coisa.
_ Um dia Sam! Hoje não.
Frio e seco não me deixava de maneira nenhuma passar do portão da entrada. E aquele era o limite que eu não poderia ultrapassar.
_Onde você está?
O dia já estava claro quando levantei e voltei para casa. Não era uma caminhada longa e meu rosto estava inchado, meus olhos vermelhos e as minhas roupas em péssimo estado, nossa casa era relativamente pequena e ser interrogada na chegada não estava nos meus planos.
Segurei a alça da mochila com mais força do que era necessário, respirei fundo e abri a porta entrando sem olhar para os lados.
_ Ei Samanta? - Mec grita da poltrona.
_Vou para o meu quarto.
_Onde você estava? Está tudo bem? - Ele retrucou.
Continuei andando sem responder.
_ Ei tô falando com você, não ouviu?
Bato a porta com o resto de força que
ainda tinha.
No dia seguinte e pelos dias que passaram era quase como uma sina. Eu esperava anoitecer e os zumbis saírem, pegava a mochila que estava sempre arrumada no canto ao lado da cama e saia.
Na primeira noite senti aquele friozinho na barriga que era normal para a nossa situação mais começou a ficar mais intenso a cada minuto que passava, me deixando frustrada e decepcionada enquanto voltava sozinha para casa.
Na segunda noite ansiosa e nervosa esperei um pouco mais do que na anterior, fiz isso por dias até o não ter forças nem vontade de me levantar .
Naquele momento já não havia mais nada dentro de mim, nem sonhos, nem esperanças, eu estava completamente perdida e o sentimento de rejeição se tornou um buraco grande demais a
ponto de me engolir inteira.
Mec por alguma razão desconhecida passou a trazer uma refeição decente todos os dias. O que era uma coisa estranha, levando em conta que nos últimos meses ele controlava tudo que entrava na nossa casa e os seus amigos não faziam a menor
questão de dividir o que traziam então era super rigoroso e monitorava tudo que eu comia me deixando apenas com o
mínimo para sobreviver.
_ Come alguma coisa dessa vez, você está ficando magra demais.
Mec deixou uma tigela pequena encima da mesa de cabeceira.
_ Não tô com fome.
_ Você tem que comer alguma coisa, vai acabar morrendo.
Ele diz ríspido como sempre.
_ Aí seria ótimo pra você, menos uma coisa para te aborrecer.
_ Não tem graça nenhuma Samanta. Eu só tenho você.
_ Sério? E o bando de zumbis que vc lidera?
_ A gente precisa deles, você sabe que não posso fazer tudo sozinho.
_ Você não pode roubar sozinho isso sim, tem medo de acabar levando um tiro na cara.
_ É mais não esquece que todos nós sobrevivemos por causa do que eu faço.
Ele saiu do quarto com a tão conhecida raiva de sempre.
Antes ele era só um mecânico idiota e sem muita coisa para se preocupar sempre nos viramos sozinhos, fomos abandonados pela nossa mãe e criados por uma tia que morreu quando Mec completou 18 anos. O que fez com que eu não tivesse outra escolha a não ser viver com ele até eu conseguir seguir com a minha vida.
Depois de algum tempo tudo piorou muito então Mec largou a oficina e se juntou a um bando de marginais que saqueavam as casas abandonadas ou qualquer lugar que desse algum lucro.
Ele já era um cara difícil de lidar antes, com o passar do tempo se tornou muito mais arrogante e prepotente, um narcisista cretino que eu definitivamente detestava e viver pelas suas
regras era sufocante e insuportável.
O Cristian tentou se enturmar com eles mais só saiam para curtir e beber, nunca soube de onde eles tiravam todas aquelas coisas apesar de desconfiar e é claro que eu sempre mantive ele bem
afastado de tudo que poderia fazer com que ele se
prejudicasse.
Finalmente eu iria dar adeus a tudo aquilo, pelo menos era o que eu pensava até o Cris desaparecer. E mais uma vez eu estava presa naquele pesadelo.
_ Não, não, não! Eu tenho que sumir daqui. Não posso passar o resto da minha vida nesse buraco.
Reuni as forças que me restaram e mais uma vez sumi pela escuridão da noite, andei por uma hora até chegar a casa do Cristian, apesar de não enxergar nada fui andando com cuidado em direção ao portão, olhei para o capim alto que
havia tomado conta do lugar e procurei uma maneira de entrar.
Mais a frente achei uma parte recém amassada e deduzi que alguém tinha acabado de passar por ali ou talvez fosse só um local normal de passagem.
_ Perfeito!
Me animei com esse pequeno triunfo, estava perto de encontrar meu amado e descobrir porque ele não tinha ido me encontrar.
A casa era realmente grande e estava muito mais acabada do que eu me lembrava e a noite também fazia tudo ficar mais sombrio e assustador. Por alguma razão ou ajuda celestial naquele momento as nuvens sumiram do céu e a lua cheia
começou a iluminar um pouco o caminho. Sem lanterna ou outra fonte de luz era quase impossível enxergar um palmo a frente e hoje a lua seria uma boa aliada.
Caminhei até os fundos da casa onde uma luz fraca dava sinal de movimento dentro da residência, ouvi um barulho estranho que chamou a minha atenção.
Olhei pelo canto da janela e vi um homem revirando os armários.
_ Caramba! O que eu faço? o que eu faço?
Entro em pânico, não sabia se gritava para alertar sobre o invasor ou esperava porque poderia ser alguém da casa. E se fosse o Sr Oscar? Aí meu plano de falar com o Cris iria por água a baixo e ainda por cima eu nunca mais poderia por os pés
naquela casa de novo.
Esperei por alguns minutos e finalmente ouvi outra pessoa chegando, continuei ali quietinha observando os dois pela janela, o Sr Oscar parecia tranquilo conversando com o outro homem, a pouca claridade e o capuz preto que ele usava me
impedia de identificar a pessoa que estava com ele.
Continuaram conversando enquanto o Sr Oscar se virou para pegar alguma coisa, quando do nada o cara se virou e pude ver o rosto dele.
_ Mec?
Sussurro baixinho.
_ Mais o que esse idiota está fazendo aqui?
Confusa e tentando entender o porque ele estaria ali, não me dei conta do que estava acontecendo dentro da casa. Sem nenhum motivo aparente o Mec esfaqueia o senhor várias vezes, bem na frente dos meus olhos, Sr Oscar não reagiu ou fez alguma coisa que o fizesse ter aquela reação.
O horror tomou conta de mim, fiquei sem ação e totalmente chocada, não sabia se ficava ali ou corria, se chorava ou gritava por ajuda, se procurava pela porta e chamava o Cristian.
Caí no chão sentindo que o ar faltava em meus pulmões, milhares de coisas passavam pela minha cabeça e senti meu coração se despedaçar, os gritos vindo da casa ecoaram na
noite me deixando ainda mais nervosa.
Olhei para as minhas mãos que tremiam sem parar e o barulho de alguém correndo pela mata me fez voltar a realidade, um vulto passou bem na minha frente correndo para longe da casa.
_ Aquele maldito!
Naquela noite ele tinha acabado de matar duas pessoas. O Sr Oscar e a mim.
_ Não posso voltar.
Saí daquele lugar o mais rápido que eu pude caminhando sem rumo pela floresta, o restinho de esperança que teimosamente havia guardado no fundo da minha alma tinha acabado de ser
morta pela única pessoa que não poderia me machucar, ou pelo menos não deveria.
_ Por que? Por que?
Essa era a pergunta que eu me fazia o tempo todo.
De todas as casas que ele poderia invadir porquê aquela? Por que atacar o pai do Cris?
Ele definitivamente arquitetou aquilo tudo, Mec era um homem frio e calculista eu mesma já tinha visto ele planejar algumas invasões e ele era minucioso sempre tomava muito cuidado e chegava a ser paranóico para seguir com os planos .
O que deixava os amigos dele completamente malucos.
Não fazia sentido invadir assim sozinho e atacar um homem .
_ Meu Deus e as meninas, as irmãs dele?
Volto a chorar por saber como é perder alguém que amamos e crescer sem ter um pai para proteger ou para dar amor.
_ Coitada das meninas!
Eu não poderia ir até a casa prestar minhas condolências ou dar meu apoio a nenhum deles, não poderia olhar nos olhos do Cristian depois daquilo.
O Mec tinha conseguido no fim destruir por completo a chance de um futuro feliz para nós dois, me tornei a irmã do assassino do pai dele. Nunca mais poderia vê-lo.
E tudo parecia fazer sentido agora, ele estava fingindo se preocupar comigo, toda aquela cena e cuidado era só para ter algum motivo pra atacar aquela familia.
_ Aquele doente!
Como ele pode matar um homem a sangue frio, sem remorso ou culpa. Eu sabia que ele era um cretino mais daí um assassino? Não.
Se eu soubesse já teria fugido para longe a muito tempo. Mec nunca tinha se mostrado agressivo a esse ponto. Não a ponto de tirar outra vida.
Continuo a chorar e me sinto sufocada, não queria estar naquela situação e caminhei desnorteada até parar no nosso lugar favorito. Todas as minhas melhores lembranças eram daquele lugar, olhando para ele agora e toda sua beleza.
Não me permiti imaginar nós dois ali novamente.
Cheguei bem perto da beirada do precipício e pude contemplar a longa queda dágua abaixo com uma cachoeira enorme ao lado. Por um minuto fez com que meus pensamentos fossem abafados pelo som das águas.
_ Eu amo isso aqui! Seria um bom lugar para partir!
Penso melancólica sem saber como eu poderia sair dali e tentar resolver a minha vida.
Fico perdida em meus pensamentos olhando para as águas até sentir mãos quentes me tocando, me viro e vejo Cristian bem
na minha frente.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Bernadete Lopes
Nossa quê tristeza!
2024-01-22
2
Tania Cassia
coitada até pensei que ela iria pular
2024-01-22
6
Olímpia Eloi
começando agora já gostei
2024-01-09
3