Barhenit recebia a notícia de que seu rei havia falecido, mas não esboçava sequer emoções com relação a isso. Apesar de ainda viva, Barhenit sabia que agora seu tempo de vida não se prolonga mais. Barhenit se senta à cama, e fala, acariciando sua barriga.
- Me lembro dos meus dias antes de pisar nesse castelo… colhia, plantava, cuidava, comia, era livre. Às vezes, me arrependo de ter feito aquele pedido ao rei... minha morte já era evidente.
Inconsolada, Barhenit se levanta, e caminha até a janela, olhando fixamente para o horizonte, onde se podia ver o céu azul cósmico, e a frente, uma tempestade era visível se aproximando. Barhenit pensa brevemente em pular daquele lugar e acabar com toda sua dor, pois não queria que seu filho sofresse por ser um mestiço de raças, conhecido como sub-raça nesse mundo. Mas, antes de tomar qualquer atitude, já era tarde, Barhenit começava a sentir as dores do parto, e então o momento fatídico se iniciava a partir dali.
Barhenit caía ao chão, já que não aguentava tanta dor que ela sentia. Logo em seguida, sangue escorria pelas suas pernas, fazendo com que se desesperasse e começasse a gritar.
- Socorro! Alguém me ajude! - Suplicava ela. - Por favor, piedade por mim... piedade!
Uma serva que passava à frente do quarto, ouvia os prantos da jovem, presumindo que a bolsa havia estourado, ela corre até o salão do trono e informa o rei que a criança estava nascendo.
- Pouco me importo com esta criança! - Dizia Sael, indignadamente. - Que a mãe morra, junto a este ser desprezível. Ninguém ajudará essa mulher, e quem desobedecer essa ordem, certamente morrerá por mim!
O novo rei falava destemidamente aquela frase, mas, no fundo, não tinha certeza da escolha que tomaria. Seria correto assassinar uma criança inocente, e culpá-la pelas escolhas da mãe?
- Ótima escolha, meu rei. - Draenúr ouvia tudo, como sempre, e se aproximava ao jovem rei. - Esta mulher tem de sofrer as consequências divinas! Helmor teria orgulho de sua decisão.
Sael estava confuso, pois sabia que seu pai a amava. Todos os dias Sael se perguntava, o que seu pai havia visto de tão belo nela, que o fez preferir abandonar sua longevidade? O fato é que jamais entenderemos o que aquela bela moça fez no coração daquele nobre homem.
Barhenit perdia as forças de tanto gritar, sua garganta secava, então, ao perceber que ninguém a ajudaria, decide fazer ela mesma o seu parto. Barhenit nunca tinha feito ou presenciado um parto anteriormente, mas já ouvia histórias de mães de sua vila antiga, mulheres que haviam sozinhas dado à luz. Então, ela se apoia na cama de seu quarto, segurando no colchão, com poucas forças, se mantém de pé, se contraindo para que seu filho consiga nascer. Seu trabalho de parto durou cerca de 4 horas, e a cada minuto, parecia uma eternidade.
Após tantas horas de sofrimento, a criança começava a nascer, Barhenit então se desesperava e puxava seu filho lentamente. Mas, num momento de dor, ela acaba puxando muito forte o braço da criança, fazendo com que antes de nascer, o bebê perdesse o seu membro, o que desesperava ainda mais a mãe imatura. Mesmo diante disso, não enxergava outra opção, a não ser prosseguir com os seus esforços em dar à luz. E então, após toda a dor e sofrimento, nasce finalmente seu filho, que chorava pela dor imensurável que sentia por perder seu frágil braço. Barhenit se encontrava fraca, pois, após a criança nascer, ela acabou perdendo muito sangue, mesmo assim, ela não soltaria seu filho do colo.
Sael, impacientemente, caminhava até o quarto onde Barhenit estava, e logo de longe avistava uma poça de sangue que sairia por debaixo da porta, imaginando que a mãe havia falecido. Porém, o choro da criança ainda era audível, o que lhe dominava de incerteza. Então, ele abre a porta do quarto, vendo a sofrida garota sentada no chão, com sua criança nos braços. O sangue estava em excesso no chão daquele quarto, que mal dava-se para identificar a cor dele. O bebê chorava incansavelmente, seu braço jogado ao chão enoja Sael, que saía do quarto para vomitar.
- Meu Nita... Por favor, cuide do Nita, meu rei… - Falava Barhenit, logo antes de falecer, segurando seu filho no colo.
Nita: Em Traemiúr(língua universal) significa "Anoitecer".
Barhenit morre, à frente do rei, fazendo com que seu desejo finalmente se torne realidade. Sael vê aquela situação, mas não consegue se alegrar com a perda que o menino teve. Comovido com toda a cena que presenciou, se aproxima do bebê e da mãe morta, e a pega em seus braços. Sael então enxerga a inocência e a pureza de uma pobre e ingênua criança, e acaba lamentando-se por tamanha brutalidade. E então, caía em lágrimas.
- Como?- Falava Sael, em meio aos prantos. - Como fui capaz de arruinar a vida desta criança? Como pude permitir tamanho sofrimento?
Draenúr observava o fraquejo do rei, e a partir dali, considerava Sael incapaz de governar um reino tão grande e tão próspero.
Sael saía do quarto com a criança em seu colo, ensanguentado e a chorar. Ele leva a criança a um médico do reino, pedindo para ele cuidar do ferimento dela. Apesar da avançada medicina, aquele braço jamais seria colocado, pois ainda não haviam desenvolvido reimplantes de membros. Mesmo com repulsa, o médico tinha a obrigação de melhorar o estado do recém-nascido.
-Senhor? Onde está a criança?- Draenúr não gostava da ideia de manter o recém-nascido vivo.- Sabes que aquilo é uma maldição, não podemos mantê-la aqui, nem morta!
-Ponha-se em seu lugar! Saiba que, acima de tudo, sou o rei aqui. Eu já estou resolvendo tudo, não ponha seu nariz mais nesse assunto!
Draenúr recua, acena com a cabeça para baixo em sinal de reverência, e se retira do palácio. Sua mente enchia de ódio e desprezo, se sentia um pecador, por ter que fazer parte daquilo. Mas ele teria que acatar as ordens de um jovem, inexperiente e piedoso rei.
Os médicos conseguiram parar o sangramento e pontear o braço do recém-nascido, portanto, infelizmente a criança teria que ficar sem ele até os últimos dias de sua vida.
Sael então decide, e ordena que a serva que havia lhe alertado sobre o parto criasse o bebê em um local distante do castelo e longe das vilas próximas. A serva não gostava da ideia e indignava-se com a decisão do rei, mas era obrigada a aceitar o seu pedido, já que era uma informação sigilosa, e caso ela não aceitasse teria medo do que o novo líder seria capaz de fazer.
Então assim, se inicia a jornada de uma pobre criança, que faria parte daquele mundo, que mal nascera e já havia experimentado a dor da vida e a consequência de ter uma. Sua trajetória então seria composta pelos mais diversos desafios, mas só ela decidirá se irá desistir ou continuar.
A história de Nita.
Fim do capítulo 1.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 26
Comments
WangXiao🐢💛
amei a imagem no meio do capítulo
2023-01-13
0