Capítulo 1 - Parte 2

Um ano se passou, Barhenit estava grávida e o rei, seu marido, adoeceu. A doença do rei, entretanto, não era causada por enfermidades, Helmor foi amaldiçoado pela morte. Saefie são seres que duram séculos vivos, mas há algo que atrapalha sua longevidade, que é ter relações sexuais com seres de outras raças, fazendo com que abandonem sua natureza ancestral. 

Seu filho único, Sael, cujo nome significa "guerreiro do sol" em Traemiúr, ocupava o lugar de seu pai no trono. Barhenit, por ter enganado Helmor com sua beleza, e feito o rei abdicar de sua natureza, se tornou uma criminosa. Porém, o rei ainda a amava muito, e se recusava a matá-la com seu descendente no útero. Sael prezava pela honra de seu pai, então manteve em segredo do seu povo que o Rei havia acabado com a sua longevidade, apenas informou que o líder estava doente. 

Por ordem de Helmor, o príncipe teve que manter Barhenit presa no topo do castelo, em um quarto isolado, vigiada 24 horas, tanto dentro, quanto fora, não havia sequer um minuto de privacidade. A gestação de Barhenit estava avançada, já se encontrava com 9 meses de gravidez, era questão de tempo até  nascer a "pequena aberração" como chamavam. 

Sael entra no quarto de seu pai, senta ao seu lado, aperta sua mão e sorri olhando para Helmor.

- O senhor continua forte e firme, como sempre! - Dizia Sael, esboçando um sorriso melancólico ao rosto.

- Ó meu filho, é bom tê-lo aqui. Apesar de todas as dificuldades, continuo e sempre serei o mesmo.

Helmor continuava vivo graças à avançada medicina dos Saefie, que era boa o suficiente para ele sobreviver, mas não para sempre.

-Filho, tudo que fiz foi por amor, e saiba, que de nada eu me arrependo.- Já imaginando que Sael viria perguntar se o pai queria castigar Barhenit.

Sael e Helmor sempre foram muito próximos, a relação perfeita entre pai e filho. É difícil imaginar um filho enterrar o próprio pai, tão quanto, o pai enterrar o filho. 

-Como... como ela está? Barhenit, como ela está, meu filho?- Falava em pausas para conseguir respirar.

- Pai, aquela mulher lhe amaldiçoou com tudo isso que você está vivendo agora, porque continuas a se preocupar tanto com ela?

Helmor vira seu rosto para a janela, suspira, e fala lentamente.

- Me diga, filho, a culpa maior é da folha venenosa criada pela natureza, ou do homem que se arrisca a experimentá-la?- Helmor dizia aquelas sábias palavras que ecoavam na sua mente desde que a velhice chegara.

Apesar de estar naquela situação, Helmor não achava justo culpar a moça que um dia lhe implorou para estar ao seu lado. O rei sabia o que devia fazer, mas optou por não. 

Sael estava frustrado, pois, seu pai se negava a preservar sua honra e continuamente defendia a jovem, preservando a vida da mesma. Então, Sael olha junto para a janela que seu pai olhava, encarando as folhas roxas da árvore do grande jardim, e logo caindo em lágrimas. 

- Meu pai, tento lhe compreender, mas não sou capaz de tal coisa.

A mão de Helmor lentamente enfraquecia, Sael então percebia que estava a perder seu pai.

Cinquenta anos atrás:

Helmor completaria 350 anos, Sael, ainda novo, possuía apenas 14. É comum que os Saefie envelheçam normalmente até os 20 anos de idade, mas após isso, sua velhice é retardada consideravelmente. Saefie são capazes de viver até os 1000 anos nos melhores períodos.

Helmor e Sael treinavam em uma área fora do castelo, cercados por guardas. Era um momento de pai e filho. Helmor dedicou a treinar seu filho desde os seus primeiros passos, sempre o preparando para um dia ocupar seu trono. Em meio aquele treino que já durava cerca de horas, o jovem Sael, cansado, contudo, curioso, questionou o pai.

- Pai, o que somos para Ghek?- Indagou o pequeno príncipe. Ghek era uma forma religiosa de se referir ao Sol, provinda do Ghek Mullar, a língua dos Saefie.

Helmor parava  de treinar, abaixa a espada, e puxa seu filho para perto, lhe convidando a sentar ao chão, do seu lado.

- Para Ghek, filho? Nada.

Sael o encarava, confuso e revoltado com a resposta.

- Como assim pai? - Dizia Sael. - Se não somos nada, é justo que o tratemos da mesma maneira!

Helmor ri, Sael continuava sem entender as respostas de seu pai, mas ainda a esperar que algo seja esclarecido.

- Filho, imagine quantas pessoas o Sol fez, quantas raças, quantas línguas, animais, matérias… - Helmor dizia aquelas palavras olhando para o seu redor. - Tanto aquilo que tu come, quanto o que te faz querer comer. Também aquilo que um animal selvagem sente ao nos ver, quanto o que pensamos ao vê-lo. Nossos desejos, nossos sentimentos, dentre tantas coisas que o Sol fez, para ti e para mim. O Sol fez tudo por nós, devemos agradecê-lo todos os dias por isso.

- Mas por quê não somos nada para ele? - Insistia Sael.

- Eu e você, perante a tudo isso, não somos nem meia fração de tudo que ele pode criar.

 

Cinquenta anos depois:

Sael lembrou-se de palavra por palavra, dita pelo seu pai naquele dia, prometendo para si mesmo, que iria vingar a sua morte a qualquer custo.

A vingança, o remédio para as mentes fracas.

Fim da parte 2.

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Comments

WangXiao🐢💛

WangXiao🐢💛

pai sábio filho tolo

2023-01-12

1

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